O caso do estupro coletivo e da morte de uma estudante de Nova Déli foi examinado novamente neste sábado (5) pela Justiça, para iniciar o processo contra os cinco acusados, enquanto o namorado da vítima, testemunha da agressão, descreveu, pela primeira vez, sua impotência diante da crueldade dos agressores.
A estudante de fisioterapia de 23 anos morreu no dia 29 de dezembro, em um hospital de Cingapura, depois de ter ficado durante 13 dias entre a vida e a morte, após os terríveis ferimentos causados por seus agressores em um ônibus. A violência deste ataque despertou a raiva, até então contida, na Índia, contra as agressões e os estupros que ocorrem com total impunidade no país.
O namorado da vítima, um engenheiro de computação de 28 anos, saiu pela primeira vez de seu silêncio, nesta sexta-feira. Em uma entrevista à AFP, ele relatou a crueldade dos agressores, sua dor por não ter conseguido salvá-la, e a indiferença dos transeuntes.
Durante cerca de trinta minutos, os pedestres ignoraram o casal, coberto de sangue, que havia sido lançado do ônibus depois de quase uma hora de agressões, contou o jovem. "Um transeunte nos encontrou (depois do ataque), mas nem mesmo ofereceu seu casaco à minha namorada", cuja roupa havia sido arrancada.
"O que posso dizer? A crueldade que eu vi não deveria ser vista nunca mais. Tentei lutar contra os homens, mas depois supliquei várias vezes que a deixassem", declarou por telefone de Gorajpur, cidade de Utar Pradesh (norte), onde vivem seus pais.
O namorado da vítima relatou como perdeu o controle da situação depois de ter subido, junto com ela, no ônibus. Depois de sair do cinema e tentar, sem sucesso, pegar um riquixá (meio de transporte tradicional na Índia), os dois jovens embarcaram em um ônibus, onde se depararam com seis homens bêbados.
O motorista começou a fazer comentários obscenos, e os outros homens zombavam do casal. O namorado da vítima contou que pediu ao motorista que parasse o veículo, mas seus cúmplices bloquearam as duas portas.
"Eles me atingiram com um pedaço de pau e arrastaram a minha namorada até um assento perto da cabine do motorista."
Depois, "o motorista e os outros homens estupraram minha namorada e a atingiram da pior maneira possível, nas partes mais íntimas de seu corpo". "Não posso dizer o que sinto ao pensar nisso. Tremo de dor".
O jovem também denunciou a conduta da polícia, que, segundo ele, não avaliou corretamente os ferimentos nem o trauma psicológico que sofreram. Quanto ao hospital público onde a estudante foi atendida, criticou a infraestrutura e o tratamento médico.
O pai do namorado da vítima disse à AFP que seu filho seguia em estado de choque. "Foi testemunha de um crime horrível. Levará tempo para se curar psicologicamente".
A polícia indiana acusou formalmente, na quinta-feira, cinco dos seis suspeitos, que têm entre 19 e 35 anos, perante o tribunal de Saket, no sul de Nova Délhi. Os cinco homens foram acusados de sequestro, estupro e assassinato.
O sexto suspeito, que diz ter 17 anos, foi submetido a exames ósseos para determinar sua idade. Se ela for confirmada, deverá comparecer a um tribunal para menores.