O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, completa nesta quinta-feira (20) dois anos no poder motivado pela recuperação de sua popularidade, mas com inúmeras dúvidas sobre o futuro.
Obama atravessa um momento doce entre o eleitorado. As enquetes apontam que ele conseguiu superar a barreira de popularidade de 50%, o que não acontecia há meses. Em parte, a recuperação se deve à aprovação no Congresso, em dezembro do ano passado, de uma série de medidas, como o tratado de desarmamento nuclear com a Rússia, o Start, e o acordo para prorrogar cortes de impostos, graças ao respaldo da oposição republicana.
Pesou a favor de Obama a rápida resposta ao tiroteio de Tucson, no último dia em 8, no qual seis pessoas morreram e 14 ficaram feridas, entre elas a congressista Gabrielle Giffords. Obama participou de uma homenagem às vítimas e fez um pronunciamento emotivo chamando à união.
Para Obama, o desafio agora é manter durante a segunda metade de seu mandato - que será marcada pelo domínio republicano na Câmara de Representantes e pela proximidade do pleito de 2012 - essa conexão com os eleitores. Para eles, está muito longe aquele 20 de janeiro de 2009, em que 2 milhões de pessoas acudiram ao Mall de Washington para presenciar a posse do primeiro presidente negro dos EUA.
O primeiro teste de fogo será na próxima terça-feira (25), quando Obama fará um pronunciamento diante do plenário do Congresso, seu discurso anual sobre o Estado da União, no qual vai expor suas prioridades legislativas para este ano. Como informou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, o presidente trabalha ainda na primeira minuta do discurso, considerado o mais importante do ano.
Gibbs apontou que Obama abordará, como fez em Tucson, temas ligados à unidade, à cooperação e ao abandono da "dialética insultante" na política. Não vai ser fácil. Nesta quarta-feira (19), a maioria republicana na Câmara de Representantes impôs uma votação para anular a reforma do sistema de saúde, a "joia da coroa" do mandato de Obama até o momento. Embora a revogação não deva seguir adiante, já que os democratas ainda controlam o Senado - e Obama divulgou que vetaria a medida se chegasse para sua promulgação -, ela representa um indicativo de que essa será previsivelmente a estratégia republicana para os próximos dois anos: tratar de impedir qualquer conquista do presidente. Os republicanos têm claro que a campanha eleitoral para o pleito de 2012 começa já neste ano.
Após o discurso sobre o Estado da Nação, o presidente dos EUA tem pela frente outro potencial empecilho: a apresentação de sua proposta de orçamento para o próximo ano fiscal. Sobre esse assunto está prevista uma dura batalha com os republicanos, que basearam boa parte da campanha com a qual ganharam as legislativas de novembro em promessas de austeridade fiscal e de corte do déficit, superior a R$ 2,2 trilhões (US$ 1,3 trilhão). A Casa Branca deve apresentar sua proposta em 14 de fevereiro, uma semana após o habitual, por causa do atraso na confirmação no Senado de seu novo diretor do Escritório de Gestão e Orçamento, Jack Lew, que substituiu Peter Orszag.
Para enfrentar os desafios de sua segunda metade de mandato, Obama está realizando uma profunda reestruturação da equipe. Já nomeou um novo chefe de gabinete, o empresário William Daley, e um novo assessor econômico, Gene Sperling. Também está de saída o porta-voz presidencial, Robert Gibbs. A nova equipe terá de reforçar os laços com o mundo empresarial e colaborar com os republicanos para manter a "marca Obama". E o presidente terá de lembrar aos cidadãos os motivos que os levaram ao Mall naquela gelada amanhã de janeiro dois anos atrás.