ONG quer usar reciclagem para reconstruir economia do Haiti

Para ajudar a reconstruir o país é preciso pensar também a médio e longo prazos

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A organização não governamental (ONG) Viva Rio estuda medidas para ajudar a restabelecer a economia de Porto Príncipe, capital haitiana, devastada pelo terremoto que atingiu a região há quase três semanas. Segundo o diretor-geral da instituição, o antropólogo Rubem César Fernandes, que viajou ao Haiti no dia seguinte à tragédia e retornou na manhã deste sábado ao Brasil, está em análise a instalação de uma planta de reciclagem de entulho que seria abastecida pela própria população, que receberia uma quantia em dinheiro para levar o material.

De acordo com ele, embora haja dificuldades imediatas muito sérias, para ajudar a reconstruir o país é preciso pensar também a médio e longo prazos. "Falta comida, falta água, mas é preciso pensar também na movimentação da economia, para gerar trabalho e renda para a população e assim reduzir o desespero", disse.

Fernandes disse ainda que a chegada da estação da chuva, em março, também preocupa os haitianos, em boa parte sem ter onde se abrigar. Por isso, segundo ele, já começou uma corrida por tendas.

"Agora estamos em um período de seca e muita gente ainda dorme do lado de fora. As tendas, eu diria, viraram itens mais cobiçados até do que alimento", afirmou. "E pode ficar ainda pior, porque em março começam as chuvas, que podem ser fortes e costumam alagar tudo."

Ele informou que vai conversar na próxima semana com representantes do Instituto de Arquitetos do Brasil para ver se é possível promover uma aproximação entre profissionais brasileiros e haitianos para pensar a reconstrução do país, preservando a história local, mas usando outros materiais, mais resistentes a abalos sísmicos.

"Lá, tudo é feito de concreto e pedra. Poderiam ser utilizados madeira, ferro e bambu, mais maleáveis, que balançam, mas não caem tão facilmente", disse. "Também é preciso repensar a ocupação de encostas, muito mais altas do que as brasileiras."

A ONG Viva Rio, criada no Rio de Janeiro em 1993, mantém há alguns anos um centro comunitário em Bel Air, na região central da capital haitiana com o objetivo de ajudar a sociedade local a enfrentar o crime organizado em gangues que assolam Porto Príncipe desde o fim da ditadura de François e Jean-Claude Duvalier, que comandaram o regime ditatorial entre a década de 1950 e 1985.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no último dia 12, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. O governo haitiano confirmou a morte de 150 mil pessoas. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, o tenente da Polícia Militar do Distrito Federal Cleiton Batista Neiva, e pelo menos 18 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Também foi confirmada a morte de uma brasileira com dupla nacionalidade, cuja identidade não foi divulgada.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.

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