Oposição insiste na renúncia de Mubarak apesar de negociações

Oposição considera insuficientes propostas governistas. Ocupação da praça Tahrir continua no centro do Cairo.

Menino levanta bandeira egípcia ao lado de manifestantes antigoverno na praça Tahrir, no Cairo, , na noite de domingo (6). | AP
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O presidente egípcio, Hosni Mubarak, enfrenta nesta segunda-feira (7) novas pressões para deixar o poder imediatamente, depois que a oposição considerou insuficientes as propostas de negociar uma saída que permita ao chefe de Estado permanecer no cargo até setembro.

A praça Tahrir, no centro do Cairo, continua ocupada pelo 14º dia consecutivo pelos manifestantes, que exigem que as negociações entre o regime e a oposição inciadas no domingo não deixem de lado o objetivo de que Mubarak, no poder há 30 anos, deixe a presidência.

O governo e as poderosas forças armadas tentaram fazer o país voltar ao trabalho no domingo, o primeiro dia em que os bancos seriam reabertos após uma semana de fechamento decorrente da turbulência nas ruas, que, segundo as Nações Unidas, pode ter deixado 300 mortos.

Falando à TV NBC, dos Estados Unidos, o prêmio Nobel da paz Mohamed ElBaradei, emergente porta-voz da oposição diversificada, que inclui o movimento islâmico banido Irmandade Muçulmana, disse: "O processo (de conversações) é opaco." "No momento atual, ninguém sabe quem está falando com quem. Tudo é controlado pelos militares, e isso é parte do problema", disse ElBaradei. "O presidente é militar, o vice-presidente é militar, o primeiro-ministro é militar."

A Irmandade Muçulmana, importante força de oposição e um dos grupos que se reuniu com autoridades governantes no final de semana, anunciou que as reformas propostas por Mubarak são "insuficientes". "As demandas são ainda as mesmas. O governo não respondeu à maioria deles, apenas a algumas e de forma superficial", disse Essam al-Aryane, um dirigente da Irmandade.

Enquanto as conversações aconteciam, veículos blindados de transporte de tropas montavam guarda em cruzamentos do Cairo, onde soldados haviam montado barreiras de sacos de areia e ônibus deixavam funcionários diante dos grandes bancos estatais.

Com alguns egípcios ansiosos por um retorno à normalidade, o governo alertou sobre os danos à estabilidade econômica e à economia que vão decorrer do prolongamento dos protestos, que abalaram o Oriente Médio e abriram um novo capítulo na história moderna do Egito.

Obama está "confiante"

O presidente norte-americano, Barack Obama, disse estar confiante em que uma transição política ordeira no Egito possa resultar em um governo que continuará sendo parceiro dos Estados Unidos.

Em entrevista à emissora Fox News no domingo, Obama também declarou que a ideologia da organização proscrita Irmandade Muçulmana inclui facções antiEUA. Mas a Irmandade não tem o apoio da maioria no país, disse ele. "Por isso, é importante para nós não dizermos que nossas duas únicas opções são a Irmandade Muçulmana ou um povo egípcio reprimido", afirmou.

"O que eu quero é um governo representativo no Egito e tenho confiança de que o Egito caminha para um processo de transição ordeiro e que teremos no Egito um governo com o qual possamos trabalhar em conjunto, como parceiros."

Obama disse que apenas Mubarak, que tomou o poder em 1981, sabe se vai deixar logo o poder. "Mas aqui está o que sabemos: que o Egito não voltará ao que era", declarou. "O povo egípcio quer liberdade, eles querem eleições livres e justas, eles querem um governo representativo, eles querem um governo responsável. portanto, o que dissemos é que devem começar a transição agora."

Negociações

A decisão de criar uma comissão para preparar reformas constitucionais foi tomada em encontro entre o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, e líderes oposicionistas. O grupo deveria apresentar resultados antes da primeira semana de março, disse o porta-voz do governo, Magdi Radi.

As mudanças vão, entre outras coisas, impor limites ao poder da Presidência.

O governo também prometeu concessões à oposição: prometeu liberdade de imprensa e não interferir mais nas comunicações e na internet, como ocorreu durante os protestos, o que gerou críticas da comunidade internacional.

Também prometeu libertar todas as pessoas detidas durante os confrontos de rua dos últimos dias e não perseguir os líderes das manifestações que agitaram o país nos últimos 13 dias, matando pelo menos 300 pessoas, deixando mais de 5.000 feridos e paralisando a economia e o turismo.

As leis de emergência que vigoram no país desde a posse do contestado presidente Hosni Mubarak, em 1981, também deverão ser levantadas assim que a situação de segurança do país permitir.

O acordo foi recebido com ceticismo por várias forças de oposição. Uma fonte da Irmandade Muçulmana disse à TV Al Jazeera que não confiava em que o governo iria cumprir sua palavra e dizia que a pressão pela saída de Mubarak deveria continuar.

Ainda não está claro se os oposicionistas vão recuar de sua posição de exigir a saída imediata. Pressionado, Mubarak afirmava que só sairia em setembro, data das eleições presidenciais, por temer que o "caos" se instale no país com sua renúncia agora.

O vice Suleiman, que foi durante muito tempo chefe da inteligência do país, parece ser cada vez mais, pelo menos publicamente, o centro da definição do futuro do país. Ele teria recusado a proposta de assumir os poderes de Mubarak durante a transição, segundo fontes que participaram da reunião.

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, saudou a entrada do grupo islâmico no diálogo.

Volta ao normal

Os manifestantes anti-Mubarak continuavam a vigília na Praça Tahrir, a principal da capital, mas com menos pessoas do que nos dias anteriores. O Exército reforçou a segurança do local durante a madrugada.

Ao mesmo tempo, a vida começava a voltar ao normal no Cairo neste domingo, primeiro dia útil da semana no Egito.

Cerca de 341 agências bancárias, incluindo 152 no Cairo, reabriram em todo o país, após uma semana de paralisação.

Os banqueiros estão se preparando para o caos nas negociações com investidores estrangeiros, e empresários locais evitam a libra egípcia depois que os protestos nas ruas paralisaram a economia e secaram importantes fontes de moeda estrangeira.

Veículos blindados fizeram guarda nos locais onde soldados levantaram barricadas com sacos de areia, e ônibus deixaram os funcionários em bancos estatais.

Com a crise política ainda não resolvida, os bancos podem ver grandes retiradas de dinheiro pelos egípcios, preocupados com a possibilidade de novas restrições nos serviços bancários.

A Bolsa de Valores vai ficar fechada até pelo menos terça-feira.

As ruas estavam cheias de motoristas e pedestres, e os engarrafamentos retornam à capital, assim como as buzinas dos automóveis. Alguns estabelecimentos comerciais abriram as portas.

Ataques em Gaza

Homens armados não identificados lançaram quatro foguetes contra um quartel da polícia na cidade de Rafah na manhã desta segunda-feira, deixando um ferido.

Os autores do ataque ainda não foram identificados.

Vários ataques com foguetes contra prédios do governo foram registrados na região do Sinai, na fronteira com a Faixa de Gaza. No sábado, um gasoduto que liga o país à Jordânia foi atacado com explosivos.

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