Em sua primeira e histórica visita ao Líbano, o papa Bento XVI pediu neste sábado (15) que os jovens muçulmanos e cristãos se unam para acabar com a violência e com as guerras no Oriente Médio e na Síria, país que, segundo o próprio pontífice, sempre está em suas orações.
Assim falou o líder religioso em um encontro com jovens na Praça do Patriarcado Maronita, que estava repleta de fiéis não só cristãos, mas também muçulmanos.
Segundo os organizadores, aproximadamente 20 mil pessoas comparecerem à sede eclesiástica com bandeiras libanesas, vaticanas e com galhos de oliveira. Jovens do Líbano, da Síria, do Egito, do Chipre e dos territórios palestinos, entre outros, marcaram presença na Praça do Patriarcado para saudar o líder religioso neste sábado.
Dirigindo-se aos sírios, Bento XVI ressaltou a coragem deste povo e assegurou que "não se esquece da Síria em suas orações e preocupações, assim como não se esquece do Oriente Médio, que sofre muito com a instabilidade".
"Chegou o momento dos muçulmanos e cristãos se unirem para pôr um fim na violência e nas guerras", declarou o papa.
Joseph Ratzinger chegou ao Líbano em um momento de tensão no Oriente Médio por causa dos protestos contra o vídeo que satiriza a figura do profeta Maomé e pela grave crise na Síria, a qual afeta diretamente o território libanês, onde milhares de sírios encontram-se refugiados.
No encontro, intitulado "Dou-voz a minha paz", Ratzinger também se dirigiu aos muçulmanos, pedindo que estes estejam junto dos jovens cristãos "no futuro deste maravilhoso país e no conjunto do Oriente Médio".
"Tratai de construí-lo juntos e, quando forem adultos, sigam vivendo em concórdia junto aos cristãos. A beleza do Líbano se encontra nesta simbiose", ressaltou o papa, que completou: "É necessário que quando olharem ao Oriente Médio compreenda que os muçulmanos e cristãos, o islã e o cristianismo, podem viver juntos e sem ódio".
Durante seu discurso, o pontífice também encorajou os jovens cristãos e de outras religiões a não deixarem o Oriente Médio por conta das dificuldades. "Conheço vossas dificuldades na vida cotidiana por causa da falta de estabilidade, da segurança e da dificuldade para encontrar trabalho", indicou.
"O desemprego e a precariedade não devem incitá-los a provar o mel amargo da emigração, que acaba contribuindo para separação e por um futuro incerto", acrescentou Bento XVI.
Precisamente, um dos principais objetivos da viagem do pontífice era a assinatura da Exortação Postsinodal (documento final) do Sínodo de Bispos para o Oriente Médio, realizada em outubro de 2010 e que já trazia a preocupação com o êxodo de cristãos da região.
Bento XVI assinou o documento ontem e amanhã deve entregá-lo aos bispos da região em uma missa em Beirute.
"Esta tarde, confiamos à Virgem Maria e ao bem-aventurado João Paulo II, que me precedeu aqui, aos jovens do Líbano e dos países da região, especialmente aqueles que sofrem com a violência e a solidão e necessitam de conforto. Que Deus abençoe a todos", acrescentou.
A mensagem de Bento XVI foi recebida com esperança pelos jovens, que avaliaram como positiva sua chamada contra a emigração e seu convite à convivência pacifica.
Um dos presentes, chamado Amre e de nacionalidade síria, explicou à Agência Efe que veio de Damasco somente para ver o papa.
"O que o papa nos disse pode fazer com que não abandonemos nossa pátria. Ele nos trouxe uma esperança muito grande", assinalou o jovem de 20 anos, que se mostrou contente que o papa mencionasse expressamente à Síria.
O encontro também contou com personalidades políticas e religiosas do Líbano, como o presidente Michel Suleiman e o patriarca maronita, monsenhor Bechara Rai.
Antes do discurso do papa, Rai ressaltou que os jovens "desejam viver em paz, justiça e estabilidade para poder se realizarem em seus próprios países e evitar a emigração".
De acordo com Rai, os jovens do Oriente Médio sofrem "crise políticas, sociais, econômicas e culturais, que minam sua fé e lhes levam a perder o verdadeiro caminho da identidade cristã".
Bento XVI participou deste encontro com os jovens depois de se reunir nesta manhã com as máximas autoridades políticas e religiosas, onde defendeu a liberdade religiosa como "um direito fundamental".