Portugal deve ter crescimento acima da média europeia com 5,5% em 2022

Previsões de Inverno da Comissão Europeia confirmam efeito da variante Ómicron no abrandamento da actividade económica.

António Costa e Ursula Von der Leyen estavam optimistas em Setembro | RUI GAUDENCIO
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A Comissão Europeia fez revisão da projecção para o crescimento da economia na União Europeia e na zona euro, que este ano de 2022 deverá fixar-se nos 4%, menos 0,3% do que o previsto no Outono.

Neste cenário, Portugal deverá crescer acima da média europeia, com Bruxelas a projectar um aumento de 5,5% do Produto Interno Bruto em 2022 e o país a atingir o nível pré-pandémico no segundo trimestre.

“Temos uma boa previsão para o crescimento português em 2022”, confirmou o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, quando questionado sobre a economia nacional na apresentação das Previsões de Inverno, em Bruxelas.

Gentiloni afirmou que este exercício intercalar não tem em conta os desenvolvimentos políticos nos Estados-membros, como as eleições de 30 de Janeiro, cujo resultado não quis comentar para além de notar que “a estabilidade é sempre um facto positivo para este tipo de avaliações”.

De resto, recordou o pedido feito por Bruxelas em Novembro, após o chumbo do Orçamento de Estado na Assembleia da República, para a apresentação de um novo plano em Bruxelas tão depressa quanto possível após a tomada de posse do novo Governo. “Estamos agora à espera deste documento”, notou.

Escassez de matérias-primas

A revisão das previsões para o crescimento na UE resulta da diminuição da actividade económica verificada no final de 2021 e que se manteve no arranque de 2022, com a propagação da variante Ómicron pela Europa. Outros factores, para além do efeito da pandemia, contribuíram para a redução no ritmo da recuperação económica no início deste ano: a escassez de matérias-primas e de equipamentos que tem tido impacto na produção industrial, e a falta de mão-de-obra nos serviços. O elevado preço da energia é outro dos grandes constrangimentos.

Assim, no último trimestre de 2021 a dinâmica do crescimento abrandou de forma acentuada para 0,4%, contra os 2,2% do trimestre anterior. Mas o abrandamento deverá ser breve, estimam os técnicos da Comissão, que acreditam que a economia europeia retomará o caminho do crescimento projectado no segundo trimestre, com a melhoria da situação sanitária e a normalização dos fluxos comerciais a nível global.

“Depois de um crescimento de 5,3% em 2021, melhor do que o esperado, estamos agora a rever ligeiramente a nossa estimativa para 2022, que é de 4%, tanto para a UE como para a zona euro”, anunciou o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, esta quinta-feira, em Bruxelas.

O responsável não se mostrou preocupado com o desempenho dos últimos meses, garantindo que “os fundamentos permanecem sólidos” e que “a economia recuperará a tracção e a trajectória expansionista” — com todos os Estados-membros da UE a conseguirem ultrapassar os níveis de riqueza anteriores à pandemia até ao final do ano.

Para 2023, a Comissão estima um crescimento mais moderado de 2,8% na UE e 2,7% na zona euro, ligeiramente acima da anterior previsão de 2,5%. O PIB português deverá crescer 2,6% no próximo ano.

António Costa e Ursula Von der Leyen (Foto: Rui Gaudencio)Consumo privado deve aumentar com recuperação do emprego

Segundo Gentiloni, o consumo privado, que deverá aumentar graças à recuperação do emprego e aos níveis recorde de poupanças acumuladas, continuará a ser o principal motor do crescimento económico.

“O investimento continuará dinâmico, com a manutenção das condições favoráveis de financiamento, e o grande impulso da implementação dos planos nacionais de recuperação e resiliência nos próximos dois anos”, acrescentou o comissário.

Nestas previsões de Inverno, a Comissão foi obrigada a recalcular as suas estimativas para a inflação, que em 2021 teve uma subida “considerável” e muito mais rápida do que o esperado no anterior exercício, atingindo um valor recorde de 5,1% em Janeiro de 2022.

Os números revistos apontam para um pico de 4,8% no primeiro trimestre deste ano, e uma diminuição para um valor acima dos 3% no terceiro trimestre.

Gentiloni voltou a responsabilizar a alta dos preços da energia, bem como os problemas na cadeia de abastecimento global, pelo fenómeno — que a Comissão continua a apontar como temporário, com a pressão inflacionista a aliviar ao longo deste ano para um valor inferior ao 2% em 2023 (1,7% na zona euro). Recorde-se que esse é o valor de referência e o objectivo do Banco Central Europeu.

O comissário da Economia assinalou os riscos e incertezas que ainda pairam sobre a recuperação económica, nomeadamente se os custos da inflação acabarem por ser transferidos dos produtores para os consumidores em maior medida do que previsto, “amplificando o risco de efeitos de segunda orem”.

Porém, a grande nuvem negra é a instabilidade geopolítica, e a situação de tensão e impasse na Europa de Leste, que representa “um risco acentuado para as perspectivas de crescimento”.

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