O estudante brasileiro Marcionilo Euro Carlos Neto, de 25 anos, que faz intercâmbio no Japão, mudou de ideia e anunciou na tarde desta quinta-feira (17) que voltará ao Brasil. A viagem foi marcada para a próxima segunda-feira (21). Neto foi ao Japão por meio de uma uma parceria entre a Universidade de Kanda e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Outra intercambista brasileira, Fernanda Serpa, também voltará ao país, segundo a universidade. Já o estudante Diego Ramos, de 23 anos, decidiu continuar no Japão, de acordo com UFJF (leia nota oficial da instituição no final do texto).
Em reportagem publicada no início da tarde desta quinta-feira, Neto afirmou que só anteciparia o retorno ao Brasil, previsto para o mês de agosto, caso os problemas com a usina nuclear Fukushima Daiichi se agravassem. A entrevista foi feita na noite de quarta-feira (16) no Brasil, manhã desta quinta-feira (17) no Japão.
O jovem estuda em Chiba, a 250 quilômetros da usina. Neto está no Japão desde agosto do ano passado para estudar o idioma e a cultura japonesa, após ser contemplado com uma bolsa de estudos. O brasileiro disse que ao longo desta quinta-feira as notícias sobre a questão de um risco nuclear aumentaram sua preocupação. Ele decidiu fazer as malas e voltar para o Brasil em companhia da colega Fernanda Serpa.
?Não vamos arriscar mais. Aprendemos muita coisa, mas preferimos não pagar mais para ver. Estou doido para chegar, mas ainda tenho que esperar até segunda-feira?, disse Neto.
Segundo o estudante, nesta quinta-feira uma amiga espanhola dele recebeu uma mensagem da embaixada disse que seria melhor deixar o Japão. Além disso, Neto afirmou ter achado estranho receber um convite da universidade onde estuda para fazer uma viagem a Osaka, ao sul do país, a cerca de 700 quilômetros da usina nuclear.
?Já tínhamos combinado antes que se chegasse ao ponto de mudarem a gente para o sul do país, a gente voltaria para casa, porque isso pressupõe que está ficando feio, mas eles não querem esclarecer isso para a gente?, afirmou.
Além disso, uma mensagem na TV em várias línguas, incluindo português, causou incômodo. ?Falava assim, os telefones que estão abaixo da tela, vocês podem entrar em contato para pegar informações mais claras e detalhadas sobre a situação. É dito que não entrem em pânico e que não deixem o país, mas não explicaram nada?, disse.
Outro brasileiro vai ficar
O outro intercambista da UFJF, Diego Ramos, disse à Coordenação de Relações Internacionais que não quer deixar o Japão, a não ser que haja riscos maiores de emissão de radioatividade. Quando vieram os primeiros tremores, Ramos disse que estava em casa e manteve a calma, apesar do medo. "Começou a cair quadros e todo mundo veio para a sala, assustado. Fizemos mochilas com mantimentos e água para fugir. Não sabíamos se viriam outros tremores mais fortes."
Ramos diz que atualmente a situação está calma, porém estão sempre em alerta. O hábito de andar descalço dentro de casa foi subsituído pelo uso dos calçados, para facilitar uma possível fuga.
A família de Ramos, de Juiz de Fora (MG), também pede para que ele retorne. "Eles estão inseguros por causa das notícias. Desde criança tenho interesse pela cultura japonesa e o intercâmbio está sendo muito válido. Se tivesse de ir embora nesta semana, já teria valido a pena, não só por aprender o idioma, mas pela experiência de vida."
A contragosto da família, o estudante pretende ficar, pois acredita que esteja respaldado pela universidade japonesa. Ramos afirmou que cerca de 40 minutos após os primeiros tremores na sexta-feira, professores e representantes da instituição já estavam no alojamento dos estudantes. Antes de viajarem para o Japão, Ramos e Neto cursavam letras na UFJF. A universidade, por meio da Coordenação de Relações Internacionais (CRI), também tem monitorado a situação dos bolsistas.
Veja a nota da Universidade Federal de Juiz de Fora:
A Coordenação de Relações Internacionais (CRI) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) informou nesta quinta-feira, dia 17, que os estudantes intercambistas Fernanda Serpa e Marcionilo Neto, que estão atualmente no Japão, decidiram retornar ao Brasil. A informação é de que eles conseguiram agendar um vôo para segunda-feira, dia 21.
Já o aluno Diego Ramos, que também está no país, preferiu continuar acompanhando a situação do Japão. Os três estudantes estão na Universidade de Kanda, próxima à Tóquio. O setor de relações internacionais da instituição estrangeira tem dado apoio aos intercambistas, assim como a UFJF, que mantém aberto seu canal de comunicação com os alunos.
Ainda não há por parte do governo brasileiro ou japonês a recomendação para os estrangeiros deixarem o país. A única medida tomada foi o isolamento de 30 km em torno da usina de Fukushima, que corre risco de vazamento nuclear.
A Universidade de Kanda fica distante de Fukushima, porém, caso houver alguma alteração no quadro atual em relação aos níveis de radioatividade, a instituição diz que pretende providenciar o transporte dos alunos para outra cidade ainda mais afastada.
A UFJF permanecerá em contato permanente com os estudantes intercambistas até que a situação seja resolvida da melhor forma possível.