O presidente Alan García declarou na segunda-feira (13) que o Peru está "livre do analfabetismo", já que conseguiu reduzir a taxa de 11% para 2,8% durante seu governo, um número que, no entanto, não foi endossado por organismos internacionais.
O líder peruano qualificou esta redução como algo "transcendental e histórico para o país", mas alguns analistas consideram esses dados pouco realistas e baseados em um conceito de alfabetização um tanto simplista.
"Consideraram um indivíduo que aprendeu a assinar seu nome e a adquirir alguns dados pessoais como uma pessoa alfabetizada. Isso não é realista", opinou à Agência Efe Madeleine Zúñiga, coordenadora nacional da organização Campanha Peruana pelo Direito à Educação.
Estas críticas não impediram García de organizar uma grande celebração nesta segunda-feira no Palácio do Governo para comemorar os resultados do Programa Nacional de Mobilização pela Alfabetização (Pronama), por meio do qual, segundo o Executivo, mais de um milhão e meio de peruanos aprenderam a ler e a escrever.
Madeleine afirmou que o anúncio de García pode ser comparado a uma medida populista similar à realizada por Hugo Chávez na Venezuela, que declarou em 2005 que seu país estava "livre do analfabetismo". Posteriormente, o Equador, a Nicarágua e a Bolívia também alegaram obter o mesmo resultado.
"Eu tinha a esperança de que aqui não cometeriam este erro, mas pelo visto o presidente decidiu fazer de qualquer maneira. Na realidade não houve nenhuma avaliação séria envolvida", acrescentou a analista.
A coordenadora da Campanha Peruana pelo Direito à Educação acrescentou que a realização do anúncio pode fazer com que os programas de alfabetização sejam deixados de lado quando "ainda há muito o que fazer".
"Este programa também não atinge a raiz do problema, que é a pobreza. Ninguém deixou de estudar porque quis, mas porque não foi possível assistir as aulas, porque não há escolas e nem professores", afirmou.
Na cerimônia realizada nesta segunda-feira no Palácio do Governo, um dos últimos atos de García como presidente antes de seu sucessor Ollanta Humala assumir o poder em 28 de julho, o líder peruano contou com a presença de embaixadores.
Segundo dados do governo, no Pronama participaram 216 mil alfabetizadores e 15 mil supervisores que utilizaram material de texto em nove línguas nativas, assim como braile e linguagem dos sinais.