O ministro das Relações Exteriores da Síria, Bassam al-Sabbagh, denunciou nesta sexta-feira a “interferência regional e internacional” em seu país, que, segundo ele, tem como objetivo “dividir” a região, depois que uma campanha militar bem-sucedida de grupos rebeldes iniciada na semana passada pegou de surpresa o regime sírio, reacendeu um conflito que estava estagnado a anos e mexeu com o status quo do domínio territorial.
— A interferência regional e internacional em tudo o que está acontecendo atualmente na Síria visa dividir a região novamente e redesenhar o mapa político — disse Sabbagh em uma reunião em Bagdá com seus colegas iraquianos e iranianos, sem citar nomes.
A declaração foi feita enquanto grupos rebeldes contrários ao regime do presidente Bashar al-Assad marchavam nesta sexta-feira em direção à cidade de Homs, localizada a cerca de 160 km da capital síria, depois de terem superado, na véspera, o bloqueio exercido pelas tropas governistas e tomado a cidade de Hama, a quarta maior da Síria. A ofensiva foi iniciada há uma semana contra a segunda maior cidade do país, Aleppo, na primeira ação do tipo desde que a área foi retomada pelas forças leais a Damasco em 2016.
A coalizão rebelde é formada por um amálgama de grupos extremistas, combatentes apoiados pela Turquia e curdos — embora não necessariamente forças curdas organizadas — explica Steven Cook, pesquisador sênior para estudos do Oriente Médio e da África no Council on Foreign Relations (CFR), de Nova York.
“Acredita-se que o principal grupo por trás da ofensiva seja o Hayet Tahrir al-Sham (conhecido como HTS ou Tahrir al-Sham), que surgiu no início da guerra civil síria”, diz Cook em artigo publicado esta semana. “É uma ramificação de uma afiliada da al-Qaeda chamada Jabhat al Nusra.”
Além do HTS, o grupo é composto por facções mais estruturadas, como as islâmicas Ahrar al-Sham e Faylaq al-Sham, e grupos menores não ideológicos da província de Idlib, que lutam ao lado do HTS sob um Comando de Operações Militares unificado. Também há o Exército Nacional Sírio, que inclui uma série de grupos, alguns dos quais anteriormente formavam a maior parte do Exército Livre da Síria em áreas sob controle turco na zona rural do norte de Aleppo e em Afrin.
“Embora todos queiram remover o governo de Assad, eles estão divididos por ideologia, conflitos de personalidade e (às vezes) apoio externo, embora o HTS tenha usado seu domínio na província de Idlib desde 2019 para restringir a competição entre facções”, explica o Crisis Group em artigo publicado na quinta-feira.
A ofensiva pode ter pegado o regime de Assad de surpresa. Mas especialistas afirmam que, os rebeldes vêm aumentando suas capacidades desde 2020, quando o combate principal na frente noroeste da Síria foi interrompido, por meio de uma combinação de equipamentos capturados das forças regulares, deserções de oficiais do Exército sírio (que melhoraram as habilidades de seus combatentes, o comando e o controle de suas unidades e sua coordenação geral) e apoio estrangeiro, especialmente da Turquia.