O repórter da rede de televisão pública sueca SVT, que desapareceu na quinta-feira no Cairo, está internado em um hospital da capital egípcia e seu estado é grave, apesar de estável. Nesta sexta-feira, a rede de TV árabe Al-Jazeera afirmou que seus escritórios no Cairo foram invadidos e incendiados, e que seu site foi hackeado.
Segundo Ingrid Thoernqvist, chefe do departamento de Internacional da emissora, o jornalista Bert Sundstroem levou uma facada nas costas e teve de ser operado, embora o golpe não tenha afetado nenhum órgão vital. A SVT declarou não saber quem atacou o repórter ou como ele foi parar no hospital, e avalia com os médicos do hospital a possibilidade de transferir Sundstroem para outro centro nos próximos dias.
Os responsáveis de jornalismo da SVT perderam contato com o repórter na quinta-feira por volta das 11h (horário de Brasília), duas horas depois que Sundstroem participou de um link ao vivo. Quando tentaram contatá-lo por telefone, em vez de sua voz havia outra em árabe dizendo que o repórter tinha sido sequestrado e que estava em mãos de partidários do presidente egípcio, Hosni Mubarak, segundo a SVT.
No ataque ao escritório da Al-Jazeera, vários equipamentos foram queimados. A direção da emissora classificou o ataque como uma tentativa do governo ou de seus partidários de impedir a cobertura dos protestos.
Imprensa
Nos últimos dias, jornalistas estrangeiros que participam da cobertura da crise no Cairo foram atacados ou presos. Muitos disseram ter sido detidos por forças de segurança do Egito - Exército ou polícia - para interrogatório. Alguns foram alvo de ataques por multidões em ruas ou hotéis.
Os ataques geraram críticas dos Estados Unidos, Suécia, Brasil e Grã-Bretanha, entre outros países, que afirmam que o governo do Egito está violando seus compromissos internacionais em relação ao respeito à liberdade de imprensa. Organizações internacionais como o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), a Human Rights Watch, a Transparência Internacional e a Anistia Internacional também criticaram o governo egípcio. Até o momento as autoridades egípcias não responderam às críticas.
O CPJ acusou o presidente Mubarak de ser "pessoalmente responsável" pelos ataques. Entre quarta e quinta-feira, o comitê reportou 30 prisões, 26 ataques e oito apreensões de equipamento de jornalistas.
O repórter do serviço árabe da BBC Assad Sawey foi preso e espancado por policiais à paisana no Cairo. Jornalistas do canal russo de TV Zvezda (Star) também foram presos na capital egípcia. Após a libertação, já em Moscou, o correspondente Aligirdas Mikoulskis e o câmera Arkady Nazarenko disseram ter sido detidos quando estavam prestes a transmitir o material filmado na Praça Tahrir.
Os jornalistas Corban Costa e Gilvan Rocha, da Rádio Nacional e da TV Brasil, foram presos na terça-feira em uma delegacia de polícia, e mantidos em uma sala sem janelas. Eles passaram a noite sem água, e foram libertados na manhã seguinte. O jornalista brasileiro Luiz Antonio de Araújo, do jornal Zero Hora, disse ter sido atacado por um grupo de cerca de 50 pessoas em uma área onde se reuniam partidários de Mubarak. Araújo disse que apesar da presença do Exército, ele não recebeu ajuda. Ele teve a câmera e a carteira roubadas.
Ferido a facadas
CBB-IBN, um dos maiores canais de língua inglesa da Índia, afirmou que o jornalista Rajesh Bhardwaj foi preso duas vezes. Na segunda vez, ele foi detido por mais de quatro horas para interrogatório pelo Exército egípcio. Ele disse que exigiu falar com o embaixador indiano, mas teve o pedido negado. Ele contou ainda que suas fitas e carteira de identidade foram queimadas.
O repórter da BBC Rubert Wingfield-Hayes foi preso enquanto visitava um bairro rico do Cairo. Ele acredita ter sido preso por membros da polícia secreta, que o libertaram depois. A Al-Jazeera, por sua vez, contou que três de seus repórteres que foram presos já foram libertados. Um repórter da TV Al-Arabyia, baseada em Dubai, disse ter sido atacada por partidários de Mubarak, que levaram o equipamento de seu cinegrafista.
A mídia holandesa afirmou que a embaixada do país retirou cinco jornalistas holandeses de um hotel do Cairo. De acordo com o governo da Holanda, jornalistas das agências GPD e Eeen Vandaag e do programa de TV Brandpunt foram ameaçados em seu hotel por partidários de Mubarak.
Sete jornalistas franceses foram detidos por poucas horas na quarta-feira. Todos já foram libertados. Três jornalistas da televisão TF1 tiveram os olhos vendados e foram levados a um local desconhecido para um interrogatório que durou 15 horas, no Cairo. Outros quatro jornalistas - três do canal de TV France 24 e um do jornal Le Figaro - passaram um dia presos.
Dois jornalistas do canal americano Fox News disseram ter sido espancados por uma multidão perto da Praça Tahrir na quarta-feira. O repórter da CNN Anderson Cooper contou que sua equipe também foi atacada por uma multidão. Na quinta-feira, dois jornalistas do jornal americano Washington Post foram detidos.
Na quarta-feira, homens de terno no hotel Ramsés Hilton entraram nos quartos de outros três repórteres brasileiros, da Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S.Paulo, em busca de equipamento fotográfico com imagens do confronto.
Até agora as autoridades egípcias não responderam às denúncias, mas a TV estatal do Egito vem exibindo reportagens afirmando que jornalistas estrangeiros seriam "agentes de Israel".