Todos os anos, milhares de sul-coreanos, especialmente homens de meia-idade, enfrentam mortes solitárias, conhecidas como godoksa. Esses falecimentos, frequentemente descobertos dias ou semanas depois, são um reflexo alarmante de um problema crescente de solidão e isolamento social no país.
Recentemente, a cidade de Seul anunciou um investimento significativo de 451,3 bilhões de wons (aproximadamente US$ 327 milhões) para abordar essa questão. O plano visa criar uma cidade onde ninguém se sinta isolado, com iniciativas que incluem uma linha direta de apoio à solidão disponível 24 horas, sete dias por semana e uma plataforma online para aconselhamento.
DESAFIO SOCIAL
O prefeito de Seul, Oh Se-hoon, enfatizou que a solidão não é apenas uma questão individual, mas um desafio social que deve ser enfrentado coletivamente. O governo se compromete a utilizar todos os recursos disponíveis para reintegrar os solitários à sociedade.
Entre as novas medidas, destacam-se serviços psicológicos expandidos, espaços verdes, programas de alimentação saudável e um “sistema de busca” para identificar aqueles que vivem em isolamento. Atividades comunitárias como jardinagem, esportes e clubes de leitura também serão promovidas para incentivar interações sociais.
Embora especialistas considerem as iniciativas um passo positivo, alertam que é preciso mais para resolver o problema. An Soo-jung, professora de psicologia, ressalta a importância de implementar essas medidas de forma eficaz, já que a solidão na Coreia está ligada a aspectos culturais complexos.
“A solidão é uma questão social significativa agora, então esforços ou políticas para lidar com isso são absolutamente necessários”, disse An Soo-jung, professor de psicologia na Universidade Myongji — alertando, no entanto, que “é preciso haver uma consideração cuidadosa sobre a eficácia com que essas medidas serão implementadas”.
AUMENTO DE MORTES SOLITÁRIAS
O aumento das mortes solitárias, que chegaram a 3.661 no ano passado, está associado a uma nova definição adotada pelo Ministério da Saúde e Bem-Estar. A taxa de mortalidade crescente, impulsionada por uma população envelhecida e uma baixa taxa de natalidade, também contribui para essa crise.
Um dado alarmante é que mais de 84% das mortes solitárias são de homens, com a maioria tendo entre 50 e 60 anos, tornando esses grupos particularmente vulneráveis.
O QUE LEVA A ESSAS OCORRÊNCIAS?
Estudos mostram que muitos coreanos sentem solidão não apenas por falta de conexões sociais, mas também devido a um forte senso de inadequação e pressão social. A competitividade e a busca por sucesso exacerbam esses sentimentos, levando a um ciclo de isolamento.
O fenômeno da solidão não é exclusivo da Coreia do Sul, mas em algumas culturas, a solidão é vista como um sentimento que acontece “quando os relacionamentos não são gratificantes”, disse An, professora de psicologia. “Na Coreia, as pessoas dizem que se sentem muito solitárias quando sentem que não são dignas o suficiente ou que não têm propósito.”
INICIATIVAS
O governo sul-coreano já lançou diversas iniciativas, como a Lei de Prevenção e Gestão da Morte Solitária, e em 2023, aprovou um apoio financeiro para jovens reclusos. Entretanto, especialistas como An afirmam que soluções mais profundas e culturalmente sensíveis são necessárias para efetivamente combater a solidão.
QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA
Globalmente, a solidão está sendo reconhecida como uma questão de saúde pública, com países como o Japão e o Reino Unido adotando medidas semelhantes. A Organização Mundial da Saúde também alertou sobre a urgência do tema. Contudo, para uma mudança real, é fundamental cultivar uma cultura de cuidado e empatia, tanto individual quanto coletiva.
Com informações da CNN