O governo federal marcou para as 11 horas da próxima quarta-feira, dia 4, a cerimônia de posse da atriz Regina Duarte como Secretaria Especial de Cultura. O evento ocorrerá no Palácio do Planalto e terá a presença do presidente Jair Bolsonaro.
A atriz já acertou os termos de sua saída da TV Globo. Ela será a quarta titular da Cultura no governo Bolsonaro.
Regina foi convidada para o cargo após a demissão de Roberto Alvim, que deixou o posto após divulgar um vídeo com trechos inspirados em um discurso nazista.
No fim de janeiro, Regina disse “sim” ao presidente durante reunião de meia hora no Palácio do Planalto com Bolsonaro e Marcelo Álvaro Antonio, ministro do Turismo, a quem a pasta da Cultura está vinculada. Ao fim do encontro, Regina disse que daria entrada nos “proclamas”, procedimento que antecede o casamento.
Na reunião, Bolsonaro apresentou Regina aos ministros Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), que estavam reunidos com ele antes. O ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, também esteve no gabinete com Bolsonaro e Regina. Ele já conhecia a atriz, filha de um militar, quando era general da ativa e foi o responsável por entrar em contato com ela após a demissão de Alvim.
Quando aceitou o convite, Regina Duarte estava acompanhada de Janicia Silva, conhecida como reverenda Jane, convidada por ela para o cargo de secretária-adjunta. Porém, antes mesmo de Regina assumir, ela demitiu Jane porque a subordinada tentava ultrapassar suas ordens.
Na noite desta quarta-feira, a reverenda Jane fez um pronunciamento nas redes sociais insinuando que Regina Duarte estaria levando "a esquerda" para o órgão. Na live, a pastora evangélica demonstrou incômodo com a influência que o ex-presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) Humberto Braga exerceria sobre a futura secretária.
— A Regina me disse que já tinha vindo a Brasília para pedir ao ministro Osmar Terra (à época na pasta da Cidadania) para colocar o Humberto como secretário — afirmou Jane na transmissão feita na noite de quarta-feira.
— Só que ela disse, "mas no dia que eu cheguei o Alvim foi nomeado", e falou que "agora que ela seria secretária, era a vez do Humberto". Ela tem carta branca do presidente, ela não vai entrar para a Cultura com limites.
Muito próxima de Regina até a atriz pedir sua exoneração, Jane é conhecida pela sua militância de direita nas redes sociais. Sua página é repleta de manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-secretário especial de Cultura Roberto Alvim, exonerado após publicar um vídeo com frases semelhantes a um discurso do ministro da Propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels.
Humberto Braga, alvo do descontentamento de Jane após ela ter sido cortada da equipe do governo, já foi presidente e diretor de artes cênicas da Funarte. Ator e produtor, ele também é conhecido no meio teatral por seu trabalho dedicado ao teatro para a infância e juventude.
Críticas
A reverenda contou ainda que, após a circulação de uma foto de Regina no refeitório da secretaria com Humberto, ativistas de direita passaram a ver com maus olhos a atuação da atriz no governo.
— De repente começou uma coisa na internet, todo mundo me ligando, perguntando sobre o Humberto, querendo saber se ele seria o secretário-adjunto. Parece que muitos ativistas da direita começaram a questionar isso. Fiquei totalmente perdida, fiquei no meio desse bombardeio.
Demissão de Alvim
Terceiro secretário a ser demitido, Alvim deixou a pasta após divulgar um vídeo em que anunciava o Prêmio Nacional das Artes, projeto no valor total de mais de R$ 20 milhões. Na gravação, Alvim copiou uma citação do ministro de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels. Além disso, o anúncio traz como fundo musical a ópera "Lohengrin", de Richard Wagner, compositor alemão celebrado pelo nazismo. A semelhança entre o discurso de Alvim e do ministro nazista foi identificada primeiro pelo portal "Jornalistas Livres".
Bolsonaro disse repudiar as "ideologias totalitárias e genocidas" e "qualquer tipo de ilação às mesma". Além disso, manifestou "total e irrestrito apoio à comunidade judaica". Mais cedo, o Palácio do Planalto havia informado que não iria comentar a declaração de Alvim, alegando que o então secretário já havia se manifestado.
O vídeo e as referências ao nazismo incomodaram até mesmo o mentor de Roberto Alvim, o ideólogo Olavo de Carvalho. "É cedo para julgar, mas o Roberto Alvim talvez não esteja muito bem da cabeça. Veremos", publicou Carvalho. Em entrevista à "Rádio Gaúcha" na manhã desta sexta-feira, ele lamentou a declaração do guru.