As fêmeas podem ter, em média, oito crias por ano, o que pode elevar a população desses animais — estimada entre 200 e 400 mil — para 1,3 milhão em três anos. “É uma taxa de reprodução muito alta. Se os índices de mortalidade e abate por pressão de caça, for apenas 10%, isso representa duplicação a cada ano”, afirma o assessor técnico da secretaria João Pimentel.
Além dos ataques às lavouras, a presença desses javalis coloca em risco a produção de suínos de todo o Brasil. “Se a peste suína clássica, registrada no Nordeste, ou a africana, que atinge a Ásia, entrarem no país, a indústria de suínos sofrerá um impacto enorme”, afirma.
Um grupo de trabalho vai apresentar um plano de monitoramento e controle no estado de São Paulo, que traz como um dos instrumentos um sistema de armadilha desenvolvido pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq).
Em uma matéria anteriormente divulgada pelo Compre Rural, foi realizado um levantamento mostrando o tamanho do prejuízo, caso essa peste chegue ao nosso rebanho.
O estudo realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que, em uma situação hipotética de que o vírus de uma dessas doenças atinja a população de javalis, os prejuízos partiriam de R$ 3 bilhões, com potencial para atingir R$ 50 bilhões.
“A ideia desse estudo partiu da necessidade de entendermos qual seria o impacto se uma doença atingisse os javalis e, posteriormente, fosse introduzida nos nossos rebanhos comerciais. Projetando casos de peste suína clássica ou febre aftosa nos suínos asselvajados na região Sul [Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul], só aí já se começa a ter perdas a partir dos R$ 3 bilhões”, alerta Ana Ligia Lenat, zootecnista da CNA, que ressalta o fato da população de javalis estar espalhada por todo o Brasil.
Em um contexto em que a população de javalis espalhasse vírus para outros lugares do país, a conta fica ainda maior, segundo a pesquisadora. “Os javalis são suscetíveis a diversas doenças que podem ser espalhadas para outros animais de interesse comercial. Então, isso não é restrito à suinocultura. Às vezes, pela semelhança dos animais, as pessoas fazem essa relação, que na verdade não existe. Se a gente considerar a hora que um surto se espalhasse pelo Brasil e atingisse outros rebanhos, como o bovino, esse valor poderia passar dos R$ 50 bilhões”, ratifica Ana.
O controle dos javalis que circulam pelo país, segundo Ana, é a única forma de se promover uma redução dos prejuízos que podem ser causados pela espécie invasora.
“Hoje não se fala nem em erradicação, porque o rebanho é tão grande e tão espalhado que a gente não consegue mais. Mas é crucial haver um controle dessas populações para que não corram o risco de contaminar os nossos animais de criação comercial e também não destruam as lavouras”, lembra.
Conhecer a espécie Mauro de Moura Britto, do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), ressalta a necessidade de se fazer estudos específicos de análise dos animais que circulam em cada região para pensar em ações de controle mais efetivas.
“Esse animal que está se ambientando ao nosso sistema não é mais o javali como aqueles primeiros que apareceram vindos da Europa. Essa mistura sucessiva com animais domésticos gerou um javali muito maior, que chega a 400 quilos e que precisa ser melhor estudado para conhecermos alguma vulnerabilidade dele. Na erradicação, particularmente, não acredito mais. Temos que trabalhar no controle”, confirma.
Exército
No Brasil, o controle do javali é realizado pelos manejadores da espécie, que fazem o abate dos animais seguindo procedimentos rigorosos e constantemente fiscalizados pelas autoridades competentes.
Primeiro, é necessária uma inscrição no Cadastro Técnico Federal (CTF) e emitir um certificado. Então, o interessado precisa de uma autorização de manejo no Sistema de Monitoramento de Fauna (Simaf). Para poder utilizar arma de fogo, um registro junto ao Exército é requisito.
Sobre a parte que cabe ao Exército, o subtenente Cleison Julio Cavalheiro lembra que é preciso de muita seriedade e comprometimento dos envolvidos em todo o processo.
O militar esteve presente, junto com o subtenente Diones Junior Rempel, na reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP, no dia 4 de julho, em Curitiba, para tirar dúvidas dos integrantes do grupo a respeito do combate ao javali.
“Temos que lembrar que o javali recebeu um aliado muito forte, que é o próprio homem. É preciso encontrar formas de, antes de combater o animal, combater comportamentos do próprio ser humano”, alerta Cavalheiro.
Sobre uma possível interferência do Exército no controle de javalis, Rempel destacou a necessidade de uma legislação específica.
“Existe a expectativa de que o Exército Brasileiro tenha uma atuação direta no controle. Apesar de sermos Exército, somos também administração pública. A interferência direta é uma discussão ampla e o caminho correto para cogitar essa possibilidade é pela mobilização de legisladores para levar discussão a Brasília”, explicou.