Quem acha que só com o curso técnico de nível médio não vai muito longe na vida se engana. Mackson Elias dos Santos, de 21 anos, foi. E voltou com uma medalha de ouro no peito. Considerado uma das promessas na sua área, o técnico formado em mecânica de refrigeração obteve o primeiro lugar na sua modalidade na principal competição que avalia a educação profissional no mundo, a World Skills.
A edição deste ano, que acabou na segunda-feira (7), foi realizada em Calgary, na província de Alberta, no Canadá. Em quase 22 horas de provas, divididas em quatro dias, ele precisou montar duas câmaras frigoríficas interligadas do início ao fim. “Tive que fazer tudo, só havia o gabinete. Precisei desde colocar todos os componentes mecânicos e elétricos até fazer o comissionamento”, conta, usando o jargão que define a parte do processo em que são feitos os testes e ajustes de precisão do equipamento. “Fui o único que conseguiu fazer com que uma câmara atingisse -1ºC e a outra, -21ºC, exigências do torneio”, gaba-se.
No total, cerca de 900 participantes de 51 nações competiram em 45 ocupações, como são chamadas as modalidades, dos setores industriais, comerciais e de serviços. O Brasil foi representado por 24 jovens em 20 delas, como soldagem e robótica móvel. Além do ouro de Santos, outras três medalhas douradas, quatro de prata e duas de bronze saíram para brasileiros.
Também saíram cinco diplomas de excelência. Foi o melhor resultado do país desde 1981, quando o país levou candidatos pela primeira vez –o evento existe desde a década de 50. Treinamento Como numa olimpíada, contam pontos, além da habilidade e conhecimento, a capacidade de concentração e agilidade. Para isso, é preciso treino, muito treino. Desde que se formou no curso técnico industrial de refrigeração e ar condicionado no final de 2007, a rotina de Santos é de dedicação integral. Isso porque, para chegar à fase internacional, precisou antes vencer a brasileira, em julho de 2008.
A partir daí, quando saiu o resultado da etapa nacional, passou a receber uma bolsa de estudos, de um salário mínimo e meio, do Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai) de Natal (RN), onde fez o curso. “Eu só treinava. Ficava montando equipamentos de segunda a sábado.” A três meses do evento, a carga de treinamentos foi intensificada. À época, a organização divulgou o conteúdo das tarefas para que os competidores focassem o seu preparo. “Passei, então, a ir para o laboratório de domingo a domingo”, diz. “Mesmo assim, 30% da prova sofreu alteração no dia para dificultar.”
“A competição é realmente de alto nível”, concorda Antonio Carlos Dias, líder da equipe brasileira na World Skills. “E, quando o nosso país se destaca, há um reconhecimento da excelência do ensino que temos aqui.” O torneio rendeu ainda a Santos o título de cidadão honorário de Calgary, do qual ele se orgulha muito. "Foi a minha primeira viagem internacional, uma experiência incrível." Futuro Já de volta a Natal, os planos de Santos de curtir a mulher Ana Paula, 18 anos, e o filho, Bruno Kauã, de 1, talvez fiquem um pouco prejudicados, mas por um bom motivo.
Nesta segunda-feira (14), ele irá até o Senai para ouvir da direção uma proposta de trabalhar como instrutor. Feliz da vida, Santos, filho de um militar aposentado e de uma dona de casa, ainda planeja, para o ano que vem, prestar vestibular para engenharia mecânica ou elétrica. “Nunca imaginei que poderia ir tão longe. Agora que sei que sou capaz, vou correr atrás dos meus sonhos.”