A paixão pela aviação começou lá pelos 6 anos quando Cauê Sciascia Borlina, hoje com 18 anos, se mudou com os pais para Minas Gerais e passou a ter de voltar para São Paulo, onde morava, com frequência para visitar o restante da família. Nessa época, durante os voos, gostava de conversar com os comissários, visitar a cabine do piloto e tirar dúvidas sobre como a aeronave podia voar.
A curiosidade da infância se arrastou pela adolescência com jogos virtuais e anos mais tarde no momento escolher a carreira, Cauê não teve dúvidas: vai estudar engenharia aeroespacial na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. O jovem foi aceito também em outras cinco instituições americanas: Universidade de Illinois, GeorgiaTech, Purdue, Texas A&M e Embry Riddle.
Antes de participar do processo seletivo para disputar vagas nas universidades americanas, Cauê se preparava para prestar o vestibular do Instituto de Tecnologia e Aeronáutica (ITA). Porém uma viagem para os Estados Unidos em julho do ano passado com os pais e uma visita na Universidade Caltech, na Califórnia, durante o passeio, o fez mudar os planos. "Para passar no ITA tem de estar muito focado e eu nunca me dediquei inteiramente a essa prova. Sabia que em algum momento iria estudar fora do país porque existia uma vontade. A partir de junho, mergulhei no SAT", diz Cauê.
O SAT na qual o estudante se refere é o Scholastic Assessment Test (SAT, Teste de Avaliação Escolar), uma espécie de "Enem americano", que também é aplicado no Brasil aos interessados em disputar vagas nas universidades americanas. Para ser admitido também é necessário fazer o teste de proficiência em inglês, o Toefl (Test of English as a Foreign Language).
Nas provas do SAT, uma geral de inglês e matemática, Cauê fez 1.900 pontos (de um total de 2.400) e na segunda com questões sobre matemática e física fez 800 na primeira (a pontuação máxima) e 720 na segunda. No Toefl, o estudante garantiu nota 91, quando o máximo era 120.
Mesmo diante dos bons resultados, o estudante não acreditava que seria aceito. Isso porque o processo seletivo inclui redações em inglês, cartas recomendações e ainda são levadas em conta atividades extracurriculares dos candidatos como trabalho voluntário, histórico de participação de olimpíadas estudantis ou prática de esportes.
"É muito diferente do processo brasileiro. Aqui, depois de fazer uma prova é possível ver o gabarito, acompanhar a correção que alguma escola com certeza vai fazer. Lá, o SAT é um terço do processo. Você não sabe se o cara que vai ler sua redação vai gostar, dá muita insegurança", afirma. A notícia das primeiras aprovações chegaram durante o carnaval, e quando soube da admissão na Universidade de Michigan, deu-se por satisfeito, já que a instituição era uma das preferidas. Cauê pensa em trabalhar com pesquisa de aerodinâmica, mas também tem interesse na área de biomédicas dentro da engenharia aeroespacial.
"Especialista em Airbus"
Quando tinha 12 ou 13 anos, o estudante queria ser piloto de avião. Era fascinado por um jogo chamado "flight simulator", onde havia um mundo virtual da aviação com jogadores em rede. O jovem conta que se especializou na frota de Airbus e dentro desse mundo virtual contratava pessoas para a empresa e fazia manuais para a frota. Com o tempo, o conhecimento aumentou e ele desistiu de seguir carreira como piloto. "Percebi que dentro da cabine não ia conseguir expandir o que gostaria. Comecei a estudar física moderna, comprar livros, ler artigos e me decidi por engenharia aeroespacial." Cauê ainda quer tirar o brevê para pilotar, mas garante que será só por diversão.
Estudar sempre fez parte da rotina de Cauê que é o filho único de um diretor de recursos humanos e de uma professora, moradores da Mooca, na Zona Leste de São Paulo. O jovem lembra que durante o ensino fundamental sua mãe estudava com ele, o que fez com que criasse uma rotina de estudos sozinho. "Gosto de estudar e trabalhar o cérebro." Cauê concluiu o ensino médio no ano passado no Colégio Etapa, em São Paulo.
Na escola, ele diz que sempre foi respeitado pelos colegas por conta do excelente desempenho acadêmico, nunca sofreu bullying e os títulos de "gênio" ou "nerd" sempre em dados em tom de brincadeira. "As pessoas me respeitavam, sempre tive uma vida social, sei conversar com as pessoas, nunca fui um nerd que só estuda, sei dosar, sempre tive amigos."
Além de estudar, Cauê gostar de praticar taekwondo. O jovem é faixa vermelha com ponta preta, uma antes da preta, e voltou a lutar neste ano após o recesso no ano passado por causa dos estudos.
Quando questionado se tem uma "vida normal" de um garoto da sua idade, Cauê pergunta o que é considerado normal. "Se ser normal é ter de ir para balada todo sábado, não, não sou normal. Eu namoro, saio, tenha amigos, gosto do que eu faço, gosto de estudar. Quero projetar aviões. Só isso. O conceito de menino normal é relativo."
Para ele, o segredo de sua admissão foi a paixão pelo curso escolhido transmitida nas redações. "Mostrei que estou indo fazer o que eu quero. A escolha do curso nunca foi um problema para mim." Conseguir uma vaga também exige muito dedicação e estudo, segundo ele. "Tem que estudar, não é uma tarefa fácil. Não existe candidato fraco ou forte, há o dedicado e não dedicado. É necessário reunir cartas de recomendação, fazer simulados do SAT e muita calma para planejar. Não é simples."
Cauê diz que ainda não sabe se vai seguir carreira no Brasil. Segundo o jovem, ainda não há mercado em engenharia espacial no país, mas é uma área que tende a crescer. "Tenho muita vontade de conhecer o mundo. Quero tentar ir para vários lugares e ver como isso vai me ajudar no mundo acadêmico, mas um dia quero trazer algo de volta para o Brasil."