Após dois anos em uma fila à espera de uma cirurgia bariátrica, a jovem de 26 anos Fernanda Reis Mattos não apenas alcançou o objetivo de vestir roupas mais justas e se enxergar melhor no espelho.
A técnica de enfermagem que chegou a pesar 165 quilos contou que com a operação realizada em novembro do ano passado, perdeu um trauma que a acompanhava há três anos: passar em uma roleta de ônibus. ?Antes não só riam de mim. Uma vez ouvi um rapaz dizer ao outro "aposto com você que ela fica entalada". Eu chorei de vergonha porque quando me esforcei pra passar quase aconteceu de eu entalar", recordou.
Quatro meses depois da cirurgia, a jovem já sente a diferença. "Uma amiga me forçou a passar na roleta de um ônibus. Na hora foi difícil, fiquei com vergonha. Mas depois fiquei muito contente. Perdi o trauma?, contou bem humorada.
Em outubro do ano passado, um mês antes da gastroplastia quando pesava 156 quilos, Fernanda relatou em entrevista o sofrimento de ter que fazer uso do transporte público. Na época, a jovem contou que não eram apenas as roletas dos ônibus que a incomodavam, como também os assentos que, segundo ela, não possibilitam ao obeso dividir o lugar com outra pessoa.
Agora, ela ajuda algumas amigas a superarem os mesmos traumas. ?Recentemente peguei ônibus com uma amiga que sofre de obesidade mórbida também. Sentamos na última fileira e vi que ela ficou com os olhos cheios de lágrimas porque a moça que sentou do nosso lado empurrava ela para ver se dava mais espaço. Então mais que depressa eu abracei a minha amiga e disse "cola em mim" e sorri. Lembrei de todas as vezes que passei por isso sozinha e hoje sei o quanto é bom ter alguém do nosso lado?, pontuou.
A situação de Fernanda antes da gastroplastia era considerada pelos médicos como obesidade mórbida, já que seu Índice de Massa Corporal (IMC) ultrapassava os 54.3. Hoje, com 115 quilos e IMC 38, ela diz que tem muito o que emagrecer ainda, no entanto, garante que já se sente uma nova pessoa. ?Eu me sentia um monstro e agora me sinto cada dia melhor. Já emagreci 50 kg. Estou ótima e me sentindo uma princesa. As pessoas podem até me olhar e falar que eu estou gorda, mas não me vejo assim. Eu sei como eu estava, como eu era, o que eu passei?, relatou.
Outra mudança na vida de Fernanda Mattos foi voltar a atuar na sua área de formação. Desde que se formou em 2006, a técnica de enfermagem não aguentou a rotina de trabalho devido a lombalgia, provocada pela obesidade, e parou de trabalhar. ?Fiquei três anos desempregada. Nesse período eu fazia bicos como manicure e revendia produtos de beleza. Agora estou trabalhando na minha área. Depois que fiz a cirurgia, fiquei meio receosa, mas eu fui atrás. E não demorou muito fui chamada para trabalhar?.
No entanto, a jovem ressaltou que nem sempre foi assim. "Já perdi oportunidade de emprego por causa da obesidade. Uma vez fui a um hospital em Cuiabá, fiz o teste, passei quase gabaritando, mas quando fui para a entrevista com a psicóloga ela me olhou dos pés a cabeça. Sei que foi preconceito?, disse.
Apesar de não haver uma previsão para a realização de uma cirurgia plástica reparadora, em que será retirado os excessos de pele em virtude da cirurgia bariátrica, a jovem garante que já está muito feliz. ?Espero que em breve eu possa fazer essa cirurgia reparadora,que me dará condições melhores de vida. Ontem carreguei o peso do preconceito e obesidade e hoje é só de alguns quilos de pele. Estou aguardando com alegria o dia de mais uma vitória em minha vida?, pontuou.