O algodão é a fibra têxtil natural mais importante do mundo. Além da produção de fibras, do cultivo do algodoeiro também são explorados o óleo e a torta, usada na alimentação de animais ruminantes. No Brasil, desde o início dos anos 1990, a principal área de cultivo de algodão está localizada no bioma cerrado.
Agora a Embrapa Algodão, que fica em Campina Grande, na Paraíba, acaba de lançar a mais nova cultivar de algodoeiro transgênico, a BRS 500 B2RF, que alia alta produtividade à resistência às principais doenças, com destaque para a mancha de ramulária e o nematoide-das-galhas, dois sérios problemas enfrentados hoje pelos agricultores de algodão.
A cultivar foi desenvolvida com adaptação ao ambiente dos cerrados, para atender as demandas atuais do setor produtivo por cultivares com elevado potencial produtivo de fibra aliada a resistência às principais adversidades que afetam a cultura, dentre as quais a mancha de ramulária, doença causada pelo fungo Mycosphaerella areola, que demanda diversas aplicações de fungicidas por safra e o nematoide das galhas, Meloidogyne incognita, que é uma ameaça crescente em regiões de cultivo de algodão e de difícil controle. A praga parasita as raízes de diversas culturas e no algodoeiro compromete a produtividade da pluma em até 40%. O melhor método de controle dos nematoides é o uso de culturas e cultivares resistentes ou tolerantes.
“Além da alta resistência a mancha de ramulária e tolerância ao nematoide das galhas, a cultivar também possui eventos biotecnológicos (transgênicos) para auxiliar no manejo de plantas invasoras e controle de insetos e pragas. A resistência transgênica a insetos protege a planta contra diversas espécies de lagartas, enquanto que a tolerância ao glifosato permite o uso do herbicida em área total, matando as ervas invasoras sem comprometer o algodão”, afirma Nelson Suassuna, pesquisador responsável pela obtenção da cultivar, em entrevista ao Jornal Meio Norte.
Uma alternativa para o manejo desses problemas, a BRS 500 B2RF, é indicada para cultivo na região do Cerrado, onde a ocorrência da mancha de ramulária é prevalente, ou em áreas com incidência de nematoide-das-galhas. Levantamentos recentes realizados nos dois principais estados produtores de algodão detectaram infestação com esse nematoide em 25 % das áreas amostradas no Mato Grosso e em 37 % na Bahia. “Em 27 ensaios conduzidos em ambiente do Cerrado nas safras 2017/2018 e 2018/2019 a cultivar BRS 500 B2RF teve severidade mínima de mancha de ramulária, demonstrando estabilidade dessa característica”, acrescenta o pesquisador.
Redução dos custos de produção e ganho ambiental
Nelson Suassuna explica que o fato de não demandar aplicações de fungicidas para o controle da mancha de ramulária implica redução dos custos de produção e representa um ganho ambiental.
“Não raro, são realizadas oito aplicações de fungicidas por safra para controle da doença em cultivares suscetíveis, com um custo superior a R$ 100 por aplicação por hectare. Considerando a área nacional cultivada com algodoeiro, a adoção dessa tecnologia pode trazer ganhos substanciais”, afirma. “A resistência parcial ao nematoide-das-galhas também dá segurança ao produtor em áreas infestadas, evitando perdas associadas a esse patógeno”, acrescenta.
Associada à resistência múltipla a doenças, a cultivar ainda apresenta bom desempenho agronômico. A produtividade média obtida em 27 locais foi de 5.667 quilos por hectare de algodão em caroço e de 2.579 quilos por hectare de fibra. Na última safra, a produtividade média do algodão em caroço no Cerrado foi de 4.287 kg/ha e de 1.802,11 kg/ha de fibra, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
A BRS 500 B2RF possui ainda qualidade de fibra desejável para a indústria têxtil, com valores médios de comprimento da fibra de 30,4 mm (fibra média); índice micronaire de 4,6 e resistência da fibra de 30,8 gf.tex-1.
Resultados são destacados por pesquisador/Divulgação
Pesquisa levou mais de 10 anos para ser concluída
Foi necessária mais de uma década de pesquisas para combinar todas essas características em um único material. O pesquisador Camilo Morello, líder da equipe de melhoramento do algodoeiro da Embrapa, lembra que em 2004 tiveram início os estudos de identificação das fontes de resistência à mancha de ramulária e a nematoides.
A partir dessas fontes, foi obtida a cultivar convencional resistente BRS 372, em 2014, doadora de resistência completa à mancha de ramulária e resistência parcial ao nematoide-das-galhas para a cultivar BRS 500 B2RF.
“Foram anos intensos de pesquisa para encontrar fontes de resistência, entender a herança da resistência e desenvolver marcadores moleculares para auxiliar no processo de seleção. Por fim, foram introduzidas as tecnologias transgênicas para auxiliar no manejo de plantas invasoras e insetos-praga, Roundup Ready Flex(RF) e Bollgard II (B2), respectivamente, com a geração de populações, seleção de plantas e progênies, teste de linhagens em diferentes ambientes, até chegarmos à cultivar”, relata Morello.
Cultivar estará disponível na próxima safra
A BRS 500 B2RF estará disponível aos produtores na próxima safra, de acordo com o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Algodão, João Henrique Zonta.
A empresa licenciada para comercialização das sementes está realizando ações de divulgação da cultivar.
“Este ano devemos colher cerca de nove toneladas de sementes genéticas, o que viabilizará a produção de sementes básicas para atendimento ao mercado a partir da próxima safra”, afirma.