O Piauí tem apresentado um baixo índice de transplantes de rim – indicado para pacientes renais – com menos de 20 cirurgias por ano. Os dados da Central de Transplantes do Piauí apontam que foram realizados 18 transplantes de rim no ano passado, enquanto 238 pacientes estão na lista de espera pelo órgão em 2019. Em contrapartida, no vizinho estado do Pernambuco foram realizados 70 procedimentos.
A fila grande para receber um rim não é um cenário apenas do Piauí, pois representa uma realidade nacional. A explicação é que, diferentemente dos transplantes de outros órgãos, como coração e fígado, o de rim depende (além da compatibilidade do grupo sanguíneo) de compatibilidade genética entre o doador e o receptor – um fator que trava ainda mais a realização do procedimento.
Os pacientes que se submetem ao transplante de rim têm uma maior sobrevida ao longo dos anos, mas a hemodiálise também pode ser indicada como tratamento da doença renal crônica. Segundo Luís Gonzaga, presidente da Associação dos Pacientes Renais do Piauí (Aprepi), o número de doadores aumentou no Piauí, mas ainda falta estrutura adequada para realização dos procedimentos. O Hospital Getúlio Vargas (HGV) é o único centro transplantador do Estado.
Luís Gonzaga, que faz hemodiálise, afirma que desde que assumiu a presidência da Aprepi, realiza tanto no Dia Mundial do Rim, quanto no Dia Municipal do Transplantado, eventos para abordar a questão da importância da doação do rim, e por isso acredita que houve, sim, um aumento na doação de órgãos nos últimos três anos no Estado.
“Em contrapartida, nós não temos conseguido aumentar o número de transplantes no Piauí, basta ver que no ano de 2018, nós tivemos um número baixíssimo de transplantes. Nós passamos de janeiro a março do ano passado sem fazer transplante de rim. Os órgãos eram até doados, mas iam para outros estados", relatou.
De acordo com Luís Gonzaga, o medicamento necessário para aumentar a imunidade do paciente antes do transplante, por exemplo, falta bastante. O presidente também afirma que o pós-transplante no Piauí precisa dar um suporte melhor para os pacientes.
"Nós transplantamos muito pouco. A Secretaria de Estado da Saúde deve ser mais aplicada, deve ter cuidado, porque esse medicamento chamado Simulect, o hospital não deveria deixar de ter. Sem esse medicamento, não é possível fazer o transplante, pois ele ajuda para que não haja a rejeição, então essa medicação deveria sempre existir em estoque no hospital", declarou.
O presidente da Aprepi afirma que atualmente existem cerca de 2.000 mil pacientes em hemodiálise no Piauí para uma fila de espera de 238, e considera uma fila muito pequena, pois faltam campanhas em clínicas para incentivar as pessoas a entrarem na fila. "Se tivesse uma maior orientação do centro transplantador, seria bem melhor, e deveria haver ainda em todo hospital que tem UTI uma equipe para fazer a captação de órgãos que realmente seja efetivo nesse trabalho", considerou.
Estado possui um único centro transplantador
A coordenadora da Central de Transplantes do Piauí, Dra. Lourdes Veras, revela que no estado realiza-se uma média de três transplantes por mês, e isso se justifica porque, atualmente, existe um único hospital realizando transplantes, que é o Hospital Getúlio Vargas (HGV), que não consegue atender ainda toda a demanda sozinho.
Dra. Lourdes Veras | Crédito: Raíssa Morais
“Nós temos ainda um problema muito grande com relação a conscientização e informação para a população do nosso estado, que ainda desconhece o processo de doação para transplantes. Nós temos muitas dúvidas de famílias que estão com seus entes queridos com morte encefálica na nossa rede hospitalar, e isso faz com que o número de doação caia”, revela a médica nefrologista.
Com relação ao baixo índice de transplantes realizados no Piauí, a médica explica que os outros estados, como Pernambuco, possuem uma rede de hospitais mais estruturada para atender o SUS, logo se houvesse mais unidades hospitalares credenciadas a fazer a cirurgia, isso ajudaria a reduzir a fila de espera.
A coordenadora da Central de Transplantes lembra ainda que, em fevereiro, houve o credenciamento do Hospital Unimed Primavera, que deve vir a somar no atendimento à população do Estado, realizando novos transplantes. O segundo transplante de rim na unidade de saúde privada está prevista para acontecer neste mês de março.
"Reconhecemos que ainda falta muita campanha, muita conscientização e educação para reverter essa situação, pois a população do Piauí é solidária, e quando reconhece essa necessidade se torna doadora. A nossa meta é melhorar a captação de órgãos, temos que aumentar a efetivação dos transplantes e aumentar a conscientização das pessoas sobre a importância da doação", esclareceu.(W.B.)
Crédito: João Allbert
Projeto de reforma visa trazer melhorias no atendimento
A reportagem do Jornal Meio Norte entrou em contato com a coordenadora da Clínica Nefrológica do Hospital Getúlio Vargas (HGV), Celina Castelo Branco, que informou que existe um Projeto de reforma que tramita junto à Secretaria de Estado da Saúde (SESAPI), para adequação das enfermarias para o transplante de rim e de fígado. No projeto consta que as enfermarias e o posto de enfermagem serão exclusivos para os pacientes transplantados. Está previsto também, no Projeto, um espaço para prontoatendimento e climatização das enfermarias, o que vai proporcionar melhor conforto aos usuários.
Em relação à medicação, a especialista em transplante renal explica que é necessário executar o planejamento para aquisição dos medicamentos específicos do transplante, garantindo o abastecimento, para que não venha a faltar.
“Quanto ao atendimento pós-transplante, o HGV realiza atendimento ambulatorial de segunda a sexta-feira, internação hospitalar e acompanhamento dos pacientes internados por médicos nefrologistas com experiência em transplante renal. Realiza também atendimento aos pacientes transplantados renais regulados de outros serviços, assim como oriundos de procura direta pelo Hospital, sendo referência para internação de pacientes transplantados renais”, afirmou.
Segundo Celina Castelo Branco, existe a necessidade de melhor operacionalizar o atendimento de urgência e emergência a estes pacientes, visto que o HGV não tem mais Serviço de Pronto-Socorro (SPS). (W.B.)