As mães dos jovens que teriam sido estuprados e assassinados em Luziânia (GO) pelo pedreiro Ademar de Jesus Silva, 40 anos, dizem ter recebido com indignação a notícia da morte dele, supostamente um suicídio, no início desta tarde.
A reportagem ouviu quatro das seis mães e todas acusam a Polícia Civil goiana de omissão por permitir que houvesse circunstâncias para o pedreiro se matar. Elas também não descartam a possibilidade de queima de arquivo, pois acreditam que haja mais pessoas envolvidas no crime.
Sirlene Vieira Azevedo, 42 anos, mãe de George Rabelo dos Santos, 17 anos, disse que a polícia não podia ter deixado o pedreiro ter acesso a objetos que pudessem ajudá-lo no suicídio. "A gente já tinha essa desconfiança, que ele podia tentar alguma coisa. Agora a gente fica assim sem saber direito o que houve porque ele não esclareceu tudo ainda. Faltou dizer muita coisa, eu acho", disse ela.
Assim como as outras mães, a dona de casa Sônia Vieira Azevedo, 45 anos, mãe de Paulo Victor Vieira de Azevedo, 16 anos, acha que o pedreiro foi morto porque havia pessoas interessadas em que o caso não fosse a julgamento e nem que ele contasse tudo o que aconteceu. "Ele não pode ter agido sozinho. Ninguém aqui acha que ele fez isso sozinho. Mas a gente vai continuar lutando. Para que tudo seja esclarecido, mesmo com ele morto, e para que as leis mudem e não aconteça isso de novo com outras famílias", afirmou.
Mariza Pinto Lopes, 42 anos, mãe de Divino Luiz da Silva, 16 anos, disse que as famílias das vítimas queriam ele vivo para que fosse julgado, condenado e pagasse pelos crimes na cadeia. "Ele também podia confessar mais coisas. Agora fica difícil", disse. Para ela, não há dúvida de que a polícia falhou ao permitir o suicídio, considerando-se que ele se matou. "Com certeza, a polícia errou. Tem de ver é se não foi propositalmente, porque sabia que ele queria se matar", afirmou.
Para as mães, o caso agora nunca será concluído. "A polícia disse que ia achar nossos filhos e achou. Mas isso era 50%. Tinha de condenar esse sujeito e prender quem mais tava envolvido nessa história. E isso não vai acontecer mais", disse Sirlene.
O corregedor da Polícia Civil de Goiás, Sidney Costa de Souza, admitiu, em conversa com jornalistas, que há indícios de falha da polícia por ter deixado um colchão com tecido dentro da cela. Mas disse que não é possível afirmar no momento se houve ou não erro dos responsáveis pela segurança do detento. "Vamos abrir uma sindicância e apurar. Vamos ouvir todo mundo, ver as câmeras, e depois sim podemos dizer se houve ou não falhas", disse.
A delegada Renata Cheim, titular da Denarc, disse que Ademar ficou isolado em uma sala de triagem da delegacia desde a sua chegada no dia 11 de abril até a última quinta-feira, quando foi transferido para a cela onde foi encontrado morto. Na sala de triagem, ele só ficou com a roupa do corpo e um colchão de espuma. "Eu imaginei que isso podia acontecer, por isso coloquei ele na sala de triagem, porque passa muita gente pelo corredor e ele seria melhor vigiado", disse.
Ainda segundo a delegada, nestes dias em que ficou trancado na sala, o pedreiro reclamava que era alérgico à espuma do colchão e pedia roupa de frio. Mas os pedidos eram negados para evitar que ele tentasse suicídio. "Ele chegou a falar na CPI da Pedofilia que sentia muito frio na cela e precisava de roupa de frio", disse ela.
Na quinta-feira, ele foi levado para a cela. "Dava muito trabalho manter ele na sala, porque não tinha banheiro e toda hora tinha de tirar ele de lá e levar e trazer de volta, mas como ele estava tranquilo, levamos para a cela. Até conversei com o delegado que interrogou ele e me disse que estava tranquilo. Ninguém suspeitava que ele ia tentar algo", disse a delegada.
Para a delegada titular da Denarc, não havia como impedir que Ademar se matasse. "O único jeito seria dormir alguém com ele, mas mesmo assim ele podia tentar algo. Só se deixasse ele algemado. Porque não tinha antes (o tecido do colchão), mas tinha a roupa do corpo", afirmou.