Atualizado às 08h50
Segundo informações de familiares da cantora, o velório de Maria da Inglaterra está fechado apenas para a família e amigos mais próximos, com objetivo de se evitar aglomerações. Todos no local estão de máscara e com uso de álcool em gel. Seu enterro ocorrerá logo mais às 11h no Cemitério do bairro Pedra Mole.
Maria da Inglaterra morre aos 81 anos em Teresina
A cantora Maria da Inglaterra faleceu, aos 81 anos, na noite desta quinta-feira (7). Ela estava internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) com problemas renais.
A morte foi confirmada pelo ex-empresário da artista, o produtor cultural José Dantas. O estado de saúde de Maria da Inglaterra era grave. Ela estava com um rim parado e outro muito comprometido.
A cantora estava internada desde a última segunda-feira. Ela procurou a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Satélite, zona Leste da capital, com um quadro de diarreia. No posto médico, foi hidratada com soro, porém, o quadro de saúde não melhorava.
"Os médicos constataram que havia um problema renal e foi para o HUT. Fizeram exames e constataram que os rins estavam comprometidos. Foram fazer uma hemodiálise, mas o quadro se agravou", afirmou José Dantas.
A Fundação Monsenhor Chaves divulgou uma nota de pesar.
Leia abaixo:
É com um grande pesar que a Fundação Monsenhor Chaves e a Prefeitura de Teresina recebem a notícia do falecimento de Maria Luiza dos Santos Silva, a eterna Maria da Inglaterra.
Uma das mais notáveis representante da cultura local, com forte expressão folclórica marcando a identidade da nossa música, Maria da Inglaterra é dona de centenas de canções que tratam da simplicidade da nossa gente e entra para a história como a “mãe da música popular piauiense”.
E nesse momento de dor, a Fundação Monsenhor Chaves e a Prefeitura de Teresina se solidarizam com familiares, amigos, ratificando os votos de pesar e, principalmente, agradecimento pela dedicação e exemplo.
Luis Carlos Alves – Presidente da FMC
Paulo Dantas – Superintendente Executivo
HISTÓRIA (Por: Geleia Total)
Maria Luiza dos Santos Silva, mais conhecida como “Maria da Inglaterra”, nasceu em Luzilândia em 1939. Começou a cantar aos 26 anos, produziu mais de 2.000 composições apesar de não saber ler e escrever. Na sua primeira apresentação ao público em 1973 venceu o Festival Universitário em Teresina cantando a canção “O peru Rodou”. Participou do projeto Pinxiguinha no Rio de Janeiro em 1980. Em 2002 lançou o álbum “O peru rodou”. Em 2009 lançou o CD “Alegria de viver”. Em 2010 foi homenageada no Dia Internacional da Mulher pelo programa Domingão do Faustão. Maria da Inglaterra já viajou vários estados apresentando e levando a cultura piauiense, na sala Funarte, no Itaú Cultural (em São Paulo), etc. Já lançou um DVD e documentário intitulado de “Maria entre amigos” com a participação de intérpretes e depoimentos de personalidades da cultura piauiense e brasileira. Hoje Maria da Inglaterra está impossibilitada de cantar por causa de um problema de saúde, após a morte do marido começou a usar um gravador para registar as suas músicas, mas recentemente já não conta com nenhuma ferramenta para registrar suas inspirações.
Do sonho para os palcos
Certa noite Maria da Inglaterra, até então conhecida como Maria Luíza, viu uma luz que mudaria, e mudou, toda a sua história. Segundo a cantora a luz se aproximou da sua residência, ela escutou duas vozes, uma voz de homem e uma de mulher. “Eu estava na janela e apareceu uma luz bonita bem longe, que foi chegando mais perto, dentro da luz tinham duas pessoas”. Ela relembra que mais tarde sonhou com as duas pessoas que a convidaram para cantar. “O rapaz era João e a moça Diana”. Quando acordou o seu marido, Otacílio, havia anotado a canção “Baião do Cajueiro” e “Eu sou do Serrote Grande”, coisa que virou rotina na vida do casal que passaram a ser parceiros na arte. Ela cantava e o seu marido escrevia as canções, tudo isso aos 25 anos de idade. Ela conta que registrou as suas músicas antes de começar a se apresentar para o público. No seu primeiro show, realizado no Teatro de Arena durante um Festival de Canção Universitário em 1973, Maria da Inglaterra cantou a música “O peru rodou” que garantiu o primeiro lugar e começou a ser chamada para repetir a experiência.
Nasce uma artista
A cantora não tardou a chamar a atenção, por isso e graças a sua postura elegante e aos elementos presentes na música que remetiam à Inglaterra o pesquisador da Música Popular Brasileira (MPB) Ricardo Cravo Albin batizou a jovem cantora com o nome de Maria da Inglaterra. A música “O peru rodou” se tornou a mais conhecida, mas outras canções suas já foram cantadas por artistas como Milton Nascimento. A inspiração para criar a letra veio de uma tragédia, a morte do cantor Agostinho dos Santos que viajava da Inglaterra para São Luís no Maranhão para fazer uma apresentação interrompida pelo acidente aéreo, a cantora escutava essa notícia enquanto jogava comida para os perus. Já com o novo nome a cantora passou a emocionar participando dos festivais e se orgulha de nunca ter perdido um festival. Quando começou a cantar teve como grande inspiração as músicas de Luiz Gonzaga, dentre as músicas dos artistas locais que mais escuta ela destaca as do Lázaro do Piauí e as do Franklin Aguiar.
A obra e a discografia
Com mais de 2.000 músicas Maria da Inglaterra lança seu primeiro CD em 2002, “O Peru Rodou”. Duas das músicas desse disco foram parar no CD do projeto Rumos do Itaú Cultural, uma coletânea de músicas de 50 artistas populares brasileiros. O seu segundo disco “Alegria de Viver” lançado em 2009 e que teve apoio da lei de incentivo à cultura A. Tito Filho. Neste disco se destaca a música “Baião do Cajueiro”, “Pancada da Ponte” e “Piripiri”. O estilo adotado para o disco foi bem variado indo do xote ao samba, recebe um apoio dos músicos Júlio Medeiros (baixo), Geraldo Brito (violão), Anderson Nóbrega (violão) e Jeová (zabumba). Com a participação de Lázaro do Piauí e de João Claudio Moreno. Desses discos as músicas: “O Peru Rodou”, “Saudade”, “Baião do Cajueiro”, “Pesquisação”, “Mariazinha”, “Moreninha Atrasada”, “São João do Coração” dentre outras fizeram parte dos seus shows consagrando a artista.
Do Piauí para o Brasil
O estilo de Maria da Inglaterra logo encantou o público e as suas músicas ganharam espaço no cenário musical brasileiro. Após as vitórias nos primeiros festivais a cantora e compositora começou a receber os convites fazer apresentações. Já viajou por muitos lugares, apresentou em diversos estados brasileiros, apresentou no programa “Domingão do Faustão” onde contou um pouco da sua história e apresentou algumas das suas músicas. Maria da Inglaterra é o grande nome da música popular piauiense, leva consigo toda a cultura sertaneja e regional. Com sua voz singular e suas letras tão bem construídas não tinha outro destino senão ficar marcada carinhosamente na nossa memória musical. Ela nunca deixou de produzir mesmo com as dificuldades mais adversas.
A Mulher Cabra-Macho
Como um dos grandes nomes da música piauiense, Maria da Inglaterra não podia ficar sem uma homenagem, por isso o jornalista Patrício Lima quis registrar todo o legado da cantora, gravando o documentário “Maria da Inglaterra: mulher cabra-macho” que serviria como trabalho de conclusão de curso. O resultado foi o bem-sucedido vídeo com artistas que contribuíram de alguma forma para a história da cantora Maria da Inglaterra. Ela relembra alguns fatos da sua trajetória, as suas vitórias e a morte do seu marido. Além dos depoimentos o trabalho conta com relatos sobre a participação no filme “Laço de fita” de 1972. O documentário foi gravado no Theatro 4 de Setembro, escolhido por representar parte da história artística da cantora que apresentou algumas vezes no espaço onde consagrou sua carreira.
Uma história de luta e resistência
Maria da Inglaterra é filha do Piauí, suas canções evocam essas características. Sempre representou com muito orgulho o seu estado e sua terra natal. Ela é o símbolo vivo da cultura regional que resiste com as mais diversas dificuldades e sonha em poder voltar a cantar como antes, soltar seu vozeirão e outra vez nos encantar com suas composições tão únicas e singulares. Ser cantora para ela não foi um sonho de infância, mas um destino traçado por algo místico, sobrenatural, que redefiniu sua vida. Aqueles dois seres revelaram o futuro artístico, que teria como desfecho a mudança para a praia de Boa Viagem, em Recife (PE), completando a “profecia”. Maria da Inglaterra vive na periferia de Teresina, sempre cuidadosa e elegante, mas enfrenta problemas de saúde. Vive com a ajuda dos filhos e de alguns amigos resistindo às dificuldades.
COMOÇÃO NAS REDES SOCIAIS
Muitos internautas lamentaram a morte da cantora Maria da Inglaterra nas redes sociais.