É no meio da caatinga, 9 km distante da sede do município de São João do Piauí, no sul do Estado, que fica o apiário do engenheiro agrônomo Rafael Dias. Na propriedade ficam as 25 colmeias povoadas, que renderam ao produtor mais de 700 quilos de mel, só no primeiro semestre de 2021. Um resultado mais que satisfatório, na atividade que vem chamando a atenção de produtores da região, de olho no baixo investimento inicial e na alta lucratividade.
“A abelha que a gente trabalha é a abelha Apis, que tem uma produção bastante satisfatória. Na região aqui da gente, temos 25 colmeias povoadas, que já produziram este ano em torno de 700 quilos de mel. Um resultado bastante satisfatório, mesmo neste ano, quando o inverno na região teve um índice pluviométrico baixo. Mas já cheguei neste apiário a fazer coleta cinco vezes no ano”, conta Rafael.
São João do Piauí produz mel do tipo exportação. Com coloração mais clara, é ideal para o mercado europeu. Mas o agrônomo ressalta: quanto mais escuro é o mel, mais rico em vitaminas e minerais. Outra vantagem, é que os produtores não usam agrotóxico na vegetação.
“Nosso produto tem uma aceitação muito grande. O mel do Piauí tem uma coloração um pouco mais clara. Para o mercado europeu, é importante a coloração do mel. Estados Unidos e Europa são os que mais compram nosso mel”, conta.
Além do baixo valor de investimento, R$ 7,5 mil, no caso de Rafael, o que também atrai produtores é o bom preço de comercialização e a facilidade de venda do produto.
“A produção é vendida a princípio aqui. Mas o mel tem um mercado muito bom, inclusive antes de a gente colher, já tem comprador ligando. Esse ano tivemos um preço muito satisfatório, saindo R$ 350 a lata de 25 quilos”, explica Rafael.
Mas os produtores têm interesse de que o mel produzido em São João do Piauí ganhe identidade própria. Hoje, boa parte da produção é comercializada via atravessadores. Outra parte acaba saindo como mel de Picos ou de São Raimundo Nonato.
“O mel é um produto de exportação, é o ouro do Piauí. Além do mel, temos outros produtos, como o pólen, o própolis, a cera alveolada, que alimenta os apiários. Outros produtos que devem ser trabalhados”, lembra Arlindo Gregório da Silva, coordenador regional do Instituto de Assistência Técnica de Extensão Rural do Piauí (EMATER-PI).
Uma alternativa é a criação de um entreposto para comercialização do mel de São João do Piauí, criando um selo para que o produto saia com a marca do município, com a devida certificação.
Arlindo defende ainda a organização dos produtores em cooperativas, voltadas não só para a exportação do mel, mas para incentivar o uso do produto na mesa do piauiense, além de garantir a oferta do mel para escolas, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
“É uma cadeia produtiva que tem muito o que explorar, mas é uma responsabilidade que não é só do apicultor. Tem que ser dos governos, das prefeituras, das instituições, inclusive que protegem o meio ambiente. É preciso a gente produzir mel com qualidade, cuidar bem da nossa flora, do pasto apícola, plantar árvores que garantam a resistência das abelhas, a alimentação das abelhas no período de seca estiagem”, pontua Arlindo.
“Eu sou suspeito para falar, mas a região da caatinga, do semiárido, é uma das melhores regiões do mundo para a produção do mel. É uma atividade muito rentável, uma das melhores para se trabalhar aqui na região”, comemora Rafael.