?Você não sabe quantas vidas salvou. Você salvou a vida de toda a nossa família.? No abraço apertado, prolongado, não cabia a gratidão da mãe ao rapaz que, há quatro anos, viajou três vezes de Vitória, no Espírito Santo, ao Rio para doar a medula óssea à pequena Thaís, então com 4 anos. A menina tinha leucemia e precisava de um transplante.
Ninguém na família era compatível. A esperança veio do Registro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), onde Thiago Hipólito Lima, de 28 anos, havia se inscrito. O transplante aconteceu em março de 2009. E, sem permissão para se identificar, o rapaz deixou um vaso de begônias com um cartão para a menina no hospital, e foi embora. Na última quarta-feira, eles, enfim, puderam se encontrar, na casa de Thaís, em São Gonçalo, e conferir de perto os frutos desse ato de solidariedade. Uma emoção difícil de descrever para quem acompanhou a luta da família desde 2008. Mais difícil ainda segurar as lágrimas.
- Preciso agradecer a você, à sua mãe que criou uma pessoa tão especial. Eu e João (pai de Thaís) estivemos o tempo todo ao lado de nossa filha e passamos por muita coisa. Mas, graças a Deus e ao seu gesto, tudo isso ficou lá atrás. Agora, a gente só chora por felicidade - disse Rosa Stutzel, de 41 anos, com o rosto banhado em lágrimas. - Tatá, hoje, é uma criança normal, feliz, como toda criança deve ser.
No colo da mãe, Thaís também se emociona e faz que sim com a cabeça. Os olhinhos não desgrudam de Thiago, seu ?anjo?.
Rosa quer saber se Thiago viu Thaís no hospital.
- Não. Cheguei na porta do quarto dela, fingi ser entregador, deixei o vasinho de planta e fui embora. Não queria infringir as regras. Sabia que estava doando para Thaís porque, na época, saíram reportagens sobre o caso dela e acabei descobrindo na enfermaria - diz o rapaz, que é policial militar em Vitória.
No cartão, Thiago desejava ?dias incontáveis? à menina. No lugar do nome, assinava ?seu anjo?. Um ano depois, ele entrou em contato com Rosa por meio de um site de relacionamentos. Desde então, mantêm contato.
- Mas nunca tivemos a oportunidade de nos encontrar. Sinto-me grato por Deus ter feito isso na minha vida. Foi um presente para mim também - diz o ?anjo?.
O irmão que já existia
O cabelo castanho e lisinho de Thaís, antes da doença, deu lugar a fios negros e ondulados, após o transplante. Thiago defende que são iguais aos seus.
- Os médicos dizem que o transplante já pode ser feito com 70% a 80% de compatibilidade. Mas a compatibilidade entre os dois foi de 100%. Era como se fosse um irmão - disse Rosa ao rapaz, para então supreendê-lo com a história do irmãozinho que Thaís tanto queria.
Sem conseguir um doador para a filha, Rosa promoveu uma campanha na internet para arrecadar fundos e tentar engravidar, por inseminação, de um bebê que pudesse ser compatível com Thaís.
- Esse bebê já tinha nome escolhido. Seria Thiago, como você! - disse Rosa. - Eu nunca mais joguei na loteria. Eu já ganhei! A vida dela é o melhor prêmio, a coisa mais importante. Só quem já passou pelo que passamos sabe a dimensão do que ganhamos.
Para Thiago, ele também ganhou nessa loteria:
- Quando fui chamado para doar, não tive dúvidas. Quem sou eu para mudar uma história escrita por Deus? Fui apenas um instrumento para possibilitar que essa menina linda chegasse, hoje, aos 8 anos.