Há pouco mais de dez dias do afogamento que vitimou a jovem Mariele, de 11 anos, no Parque Linear Lagoas do Norte, o número de pessoas que aproveitavam o lugar para o banho reduziu bastante. O afogamento, de fato, serviu de alerta, mas mesmo assim ainda é comum encontrar banhistas no local.
Segundo os próprios moradores, além das lagoas ainda estarem bastante poluídas, o que deixa o local impróprio para banho, a presença de animais como cobras e jacarés e até mesmo a profundidade em certas regiões aumentam bastante o risco do lugar.
A qualquer hora do dia, a grande quantidade de crianças brincando nas proximidades das lagoas é um sinal de perigo no local. Muitos não chegam a entrar na água, mas brincam na encosta que é bastante íngreme ou sobem nas árvores, bastante próximas às lagoas.
Odália Carvalho visitou o lugar esta semana e reparou que, apesar da bela paisagem, a segurança é ainda uma grande necessidade. ?Eu acho que deveria ter mais segurança. O lugar é muito grande e como tem sempre muitas crianças brincando, pode acontecer de cair uma bola na água e quererem pegar. Eles não têm noção do perigo e acabam entrando.
Deveria ter pelo menos grades para dar mais segurança?, sugere a moradora.
No local, três seguranças fazem a vigilância em cada turno, mas mesmo assim, ainda é possível presenciar muitas crianças e até mesmo adultos banhando nas águas da lagoa. Placas de sinalização em vermelho fazem o alerta, regra que apesar do aviso, ainda é facilmente desrespeitada.
?Eles entram para banhar num local que é até difícil de se visualizar. A gente avisa que não pode, mas eles dizem que moram aqui há bastante tempo e sempre fizeram isso. O nosso papel nós fizemos, que é de alertar?, explica um dos seguranças que preferiu não se identificar.
Crianças estão assustadas
Mesmo que o fato tenha sido considerado um caso isolado, o afogamento da menor no Lagoas do Norte pelo menos trouxe um alerta às crianças que brincam no lugar. Muitas andam assustadas, com medo do que aconteceu.
Carlos Daniel, de 9 anos, era primo da jovem que morreu no lugar e lembra que costumava brincar na lagoa. Ele afirma que não estava presente no dia do acontecimento, mas desde então nunca mais teve coragem de repetir a brincadeira. ?Eu já banhei, mas depois que a minha prima morreu não tive mais coragem. Mamãe já não deixava eu brincar, ainda mais agora, depois disso?, conta.
A pequena Érica Raquel diz que nunca banhou no local e nem pretende, principalmente depois do ocorrido. ?Eu não, não quero perder minha mãe cedo?, pontua.
Para Abel Brito, morador do local, o que se pode fazer para evitar acidentes como esses é muito mais que reforçar a segurança. ?O que aconteceu foi uma consequência de um ato dela (criança). Aqui o que precisa é de mais atenção dos próprios pais. Aqui não tem segurança. O que tem é muitos vândalos, às vezes crianças mesmo, que, por brincadeira, acabam destruindo?, conta o morador.
Lagoa é imprópria para banho
Com processo de revitalização do local, as lagoas que compõem o Parque Linear passam constantemente por limpeza, contudo, a existência de muitas casas ainda sem tratamento sanitário têm seus dejetos despejados nas lagoas.
Ou seja, além do risco de afogamento, a água das lagoas evidencia outro grande problema: o de contrair doenças.
?As águas são acompanhadas trimestralmente, é feito exame bacteriológico e elas não têm qualidade nenhuma para banho?, adverte Vicente Moreira, coordenador do projeto.
Enquanto o sistema de esgotamento sanitário das comunidades vizinhas não é concluído, as condições propícias para uso das lagoas vão ficar no papel ainda por um bom tempo. ?Planejamos que futuramente seja feito esporte náutico, pedalinho, mas as águas ainda não estão previstas para utilização pelo menos por enquanto. Estamos ainda construindo a rede de esgoto e ainda tem esgoto doméstico que cai no local. Quando tudo estiver concluído, será liberado para banho, e aí sim terá que ter guarda Salva Vidas. O que aconteceu foi uma fatalidade e nós não vamos trancar a lagoa?, pontua Vicente Moreira.