Mesmo sem a greve dos funcionários das empresas aéreas, os passageiros enfrentam alguns transtornos nos principais aeroportos do país na manhã desta quinta-feira (23). Um em cada três voos programados até as 10h atrasou mais de meia hora, segundo balanço da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Dos 842 voos programados nesse período, 258 sofreram atrasos (30,6%) e 46 foram cancelados (5,5%). Até as 9h, o índice de atrasos era de 28,7%. Entre os 69 voos internacionais, 13 atrasaram (18,8%) e um foi cancelado (1,4%).
A paralisação dos aeronautas e aeroviários estava prevista para começar nesta quinta e foi suspensa até, pelo menos, o próximo mês. A decisão foi tomada em assembleia realizada às 5h, na sede do Sindicato Nacional dos Aeronautas, em São Paulo.
De acordo com os sindicalistas, os trabalhadores estão "atendendo a um pedido da sociedade". "Os passageiros não serão prejudicados durante as festas. Em janeiro, vamos avaliar se haverá uma paralisação", afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Gelson Dagmar Fochesato.
Mas os funcionários também estão seguindo uma decisão judicial. Na noite de quarta, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinou que 80% do efetivo dos aeronautas e aeroviários continuem em atividade para viabilizar o transporte aéreo em todo o território nacional, no período entre 23 de dezembro e 2 de janeiro. Em caso de descumprimento da ordem, a multa diária seria de R$ 100 mil.
Insatisfeitos com a suspensão da greve, em Brasília, nesta manhã, funcionários fizeram uma manifestação, pouco antes das 8h. O protesto causou lentidão no trânsito das vias de acesso ao aeroporto. O grupo percorreu o saguão do aeroporto, gritando palavras de ordem e pedindo reposição salarial e a ?divisão? do lucro das companhias aéreas com os empregados.
Atrasos
No Rio de Janeiro, o policiamento foi reforçado nos aeroportos Santos Dumont e Galeão, para evitar transtornos. No Santos Dumont, dos 48 voos previstos até as 10h, seis atrasaram (12,5%) e nove foram cancelados (18,8%). No Galeão, dos 39 voos, 18 atrasaram (46,3%) e dois foram cancelados (5,1%). Ainda de acordo com a Infraero, o índice de atrasos é alto porque o aeroporto foi fechado devido à chuva na noite de quarta.
No aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, dos 60 voos programados, 26 atrasaram (43,3%) e dois foram cancelados (3,3%). Em Congonhas, na Zona Sul da capital paulista, dos 64 voos, 13 atrasaram (20,3%) e 14 foram cancelados (21,9%).
Em Brasília, dos 51 voos, 20 atrasaram (39,2%) e um foi cancelado (2%).
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, os passageiros não encontram dificuldades para embarcar. No aeroporto da Pampulha, todos os 12 voos ocorreram no horário programado. No aeroporto de Confins, dos 46 voos, 12 atrasaram (26,1%) e dois foram cancelados (4,3%).
Surpresos
Para os passageiros, a tranquilidade nos aeroportos nesta manhã é uma surpresa. ?Fiz check-in pela internet, já prevendo que talvez nem conseguiria embarcar. Achei que estaria a maior bagunça. Melhor assim?, disse o analista de suporte técnico, Paulo Henrique, de 34 anos, que aguardava a partida de seu voo no aeroporto de Confins, nesta manhã.
Antes de sair de casa, a arquiteta Gizelli Sousa, de 27 anos, consultou a internet para saber se conseguiria embarcar. "Está até mais tranquilo do que nos dias normais?, contou ela.
No Rio, a auxiliar de gabinete Cristiane Nascimento, preferiu não entrar na internet ou telefonar para a companhia aérea, mas chegou cedo para garantir o embarque. "Vim na sorte. Preferi arriscar, já que ficaria mais nervosa se não conseguisse contato com a companhia. Graças a Deus está tudo tranquilo. Fizemos o check-in sem problemas, tudo está funcionando", comentou.
Alvino Cardoso de Oliveira, de 57 anos, chegou ao aeroporto de Guarulhos sete horas antes do voo. ?Vim às 6h20 por medo da greve?, disse. Ele irá viajar às 13h30 para Foz do Iguaçu, no Paraná, com a mulher e os dois filhos pequenos. ?Deixei todo mundo em casa e vim para fazer o check in. Fiz por precaução. Imagina, programa o ano inteiro e no fim acaba furando a viagem [por causa da paralisação]. Assim não dá?, brincou.
Propostas
Gelson Dagmar Fochesato, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, disse que os funcionários das aéreas foram surpreendido pelas decisões judiciais e afirmou que, mesmo sem a greve, é possível haver atrasos em aeroportos porque os aeronautas e aeroviários estão trabalhando acima do limite.
O presidente do Sindicato Nacional de Empresas Aeroviárias (Snea), José Marcio Mollo, disse em entrevista à rádio CBN que a entidade fez nesta madrugada uma proposta de reajuste de 8% aos trabalhadores, elevando a proposta inicial de 6,05% e aguarda uma nova posição dos trabalhadores. Os aeroviários solicitam aumento de 13%.