Por: Cinthia Lages
Em Teresina, uma família acompanha ainda como mais atenção, as notícias sobre o rompimento da Barragem 1 de Mina Feijão, pertencente à mineradora Vale, em Brumadinho (MG). O administrador de empresas Rafael Amorim e a esposa, a fisioterapeuta Tainá Amorim, viveram 5 anos na pequena cidade de 39 mil habitantes. Ele trabalhava, como terceirizado, no setor de Almoxarifado da Barragem, ela era fisioterapeuta na Prefeitura do município. Muitos desaparecidos eram amigos da família. “ Meu pai me telefonou assim que aconteceu. Nem havia sido noticiado ainda. Ficamos em choque. ”, conta.
O comerciante Walter Amorim, pai de Rafael, trabalhou durante 38 anos na mineradora, diz o administrador, que hoje trabalha na empresa de energia elétrica de Timon. O carro ainda tem a placa da cidade de Brumadinho. Ele conta que os funcionários costumavam dizer que, no caso de um rompimento, eles não teriam tempo de escapar já que a área administrativa, onde trabalhavam cerca de 400 pessoas, fica no trajeto dos rejeitos. O refeitório, por exemplo, estava localizada numa parte inferior, o que dificultaria uma evacuação.Os rejeitos são metais pesados que não eram aproveitados na extração do minério. Como a barragem foi construída em 1973, havia muito material acumulado. À eles, somam-se o que é arrastado, incluindo construções e veículos. Com a lama densa, a localização de sobreviventes tornou-se uma tarefa ainda mais difícil.
A mineradora é a principal empregadora da região e alguns funcionários vinham de outros estados mas a maioria é de cidades mineiras. Com salários acima da média e vantagens, trabalhar na Vale era o sonho dos jovens da região. “ A mineradora é conhecida por tratar bem os funcionários e as normas de segurança são rigorosas”, diz.
Das muitas histórias da tragédia, Rafael e Tainá conhecem a maioria das vítimas. Ela e Rafael se conheceram em São Luís e, após o casamento, ela mudou-se de Teresina para Brumadinho. “É uma cidade muito acolhedora. As pessoas fazem tudo para ajudar, todos se conhecem”, conta. Ela se emociona ao falar dos amigos que estiveram com o casal na noite do réveillon, passada com a família de Rafael e que estão entre as vítimas.
“Nem sei o que faria de o Rafael e meu sogro ainda trabalhassem lá” desabafa lembrando o nervosismo do marido ao receber a notícia. “Ele tremia”.
A irmã de Tainá, a administradora hospitalar Tássia Diniz, também se encantou pelo lugar pacato, com muito verde, opções culturais e de gastronomia. “Em Brumadinho, quando alguém morria, os moradores eram avisados pelas batidas do sino da Igreja” . Até a noite de domingo, a tragédia computava 58 mortos e mais de 300 desaparecidos.