Ministério confirma que PI é único estado a ter febre do Nilo no país

Mulher que mora no interior do Piauí sofreu um quadro de paralisia muscular flácida aguda em junho de 2017

|
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Assim como a dengue e a zika, o vírus da febre do Nilo Ocidental é transmitido por meio da picada de mosquitos infectados, principalmente do gênero Culex (pernilongo). O caso é de uma jovem que mora na zona rural de Picos, no interior do Piauí, e que sofreu um quadro de paralisia muscular flácida aguda em junho de 2017. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, os exames foram coletados na época, mas o ministério liberou os resultados apenas no início deste ano.

Os exames apontaram a presença de anticorpos contra o vírus no sangue da paciente. Em nota, a pasta atribui a demora à necessidade de laudos conclusivos.  Esse é o segundo caso confirmado da doença no país. Até então, o Brasil só havia registrado um caso de febre do Nilo em agosto de 2014. O paciente, um vaqueiro de 52 anos de Aroeiras do Itaim, no interior do Piauí, foi internado na UTI à época após apresentar febre, dor de cabeça, paralisia nos braços e pernas, confusão mental e rigidez na nuca.

Pernilongo (Culex), que transmite o vírus da febre do Nilo Ocidental - Fonte: Reuters 

De acordo com Marcelo Vieira, neurologista do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela que acompanhou o caso, o paciente teve alta, mas ficou com sequelas, como dificuldades para andar. Já a jovem atendida em 2017 se recuperou completamente. Em nota, o Ministério da Saúde diz que a confirmação do segundo caso no Piauí “revela a recorrência da circulação do vírus do Nilo Ocidental na região e ressalta a importância das ações de vigilância e investigação”.

Para Vieira, que também faz parte da equipe de vigilância da secretaria estadual de saúde do Piauí, a probabilidade é de que haja outros casos da doença. Dados da secretaria estadual de saúde apontam que, até o agora, exames de 32 outros casos suspeitos tiveram resultado indeterminado. 

Segundo Vieira, o problema ocorre devido à dificuldade do diagnóstico, com possibilidade de reações cruzadas para vírus semelhantes, como dengue e zika. Outro fator, diz, é a tendência de que apenas casos graves sejam encaminhados às redes de saúde. Em geral, cerca de 80% das pessoas infectadas com o vírus do Nilo não apresentam sintomas, e menos de 1% tem sintomas graves.

Nesses casos, pode haver também tremores, fraqueza muscular e paralisia. Também pode desenvolver encefalite ou meningite (inflamação das membranas do cérebro ou da medula espinhal).

“Como a forma branda da doença é semelhante a várias outras arboviroses, dificilmente se pede um exame”, afirma Vieira.  Atualmente, não há tratamento específico para a febre do Nilo. Nos casos leves, é indicado repouso. Já nas formas graves, o paciente deve ser atendido em UTI em observação para suporte e controle de infecções secundárias.

Transmitida pela picada de mosquitos infectados com o vírus a partir de aves migratórias infectadas, a febre do Nilo não “passa” pelo contato com outras pessoas ou animais.

O vírus é transmitido por mosquitos comuns, principalmente do gênero Culex. Para isso, no entanto, é preciso o contato dele com uma ave infectada —diferentemente do Aedes aegypti, por exemplo, que pode picar um doente e passar a carregar o vírus.

Para Vieira, essa característica torna mais difícil que haja uma epidemia. Ele ressalta, no entanto, que um aumento na transmissão não pode ser desconsiderado —daí a necessidade de manter a vigilância.

Outra expectativa é que, por ser um flavivírus, família que abarca vírus da dengue, zika, parte da população brasileira esteja menos suscetível a formas graves da doença. Embora haja discussão do tema entre especialistas

Descrita inicialmente na África, a febre do Nilo manteve-se durante décadas restrita aos continentes europeu, africano e asiático, sendo registrada pela primeira vez nas Américas em 1999. Dos EUA, o vírus se disseminou e atingiu o Canadá e o México. A suspeita é que esse avanço tenha ocorrido por aves silvestres.

A situação fez o Brasil criar em 2003 um sistema de vigilância, com monitoramento de possíveis sinais da circulação do vírus em cavalos e aves e vigilância de casos em humanos. No ano passado, o vírus foi detectado no cérebro de cinco cavalos que morreram após apresentar sintomas neurológicos no Espírito Santo. Não houve, porém, confirmação de casos humanos.

Veja Também
Tópicos
SEÇÕES