A distribuição da vacina BCG, fundamental para crianças que acabaram de nascer, está em impasse em Teresina. Em uma verdadeira confusão entre as esferas em saúde no âmbito municipal, estadual e federal, falta a imunização nas maternidades da capital. O município culpa o Estado, que por sua vez admite que o problema é de ordem do Ministério da Saúde. Segundo estimativa do Conselho Municipal de Saúde de Teresina, pelo menos 400 crianças nasceram sem receber a dose.
A estimativa leva em consideração a média de nascimentos da Maternidade Evangelina Rosa, que é de cerca de 200 crianças por dia. “Recebemos o telefonema na manhã desta quinta-feira [21] denunciando essa situação. O caso é que uma criança nasceu na Maternidade Evangelina Rosa na quarta-feira e não foi vacinada com a BCG. Não importa de quem é a culpa, se é municipal, estadual ou federal. O que não pode são as crianças nascerem sem a vacina”, declara Ivan Cabral, presidente do Conselho.
Ivan afirma que nenhuma outra maternidade dispõe da imunização. “A orientação é que a mãe procurasse uma maternidade do município de Teresina, então ela buscou a Maternidade Wall Ferraz, na região do Grande Dirceu. Lá o bebê também não recebeu a imunização porque não havia o medicamento”, acrescenta.
O Conselho já buscou informações junto à Fundação Municipal de Saúde (FMS). “Nós procuramos a Dra. Amariles Borges e ela nos informou que a Sesapi ainda não repassou as doses para o município. O conselho vai apresentar isso no colegiado para que possamos chamar os técnicos para que tomem providência. A criança não pode crescer sem essa vacina de suma importância para a saúde dela na vida adulta. É contra várias infecções, como a tuberculose”, exemplifica.
Na rede particular a vacina custa uma média de R$ 200 a R$ 300, dependendo da marca.
Crianças sem BCG estão sujeitas a infecções graves
As crianças que estão sem a imunização da BCG estão sujeitas a infecções graves. De acordo com o Dr. Antonio Luiz, médico clínico, a vacinação é imprescindível. “A BCG é uma vacina indicada para prevenção da tuberculose e é normalmente administrada logo após o nascimento. Essa vacina não impede a infecção nem o desenvolvimento da doença, mas impede as formas mais graves da doença, como a tuberculose miliar e a meningite tuberculosa, por isso faz parte do calendário básico de vacinação da criança”, orienta.
O também médico clínico Dr. Aylan Bezerra aponta que “a vacina precisa ser feita o mais precocemente possível”. “Quanto mais cedo, melhor. Ela só deve ser evitado em casos de recém-nascidos de baixo peso, abaixo de 2 kg. Apesar dela não ser completamente eficaz, não evitar totalmente a tuberculose, ela evita formas graves da doença, como a meningite em decorrência da tuberculose ou a tuberculose extrapulmonar disseminada. Ela também é um fator de proteção contra a hanseníase”, acrescenta.
Sesapi aponta má distribuição: “a conta gotas”
A reportagem do Grupo Meio Norte buscou o Ministério da Saúde para obter mais informações sobre o caso. Em nota enviada por e-mail, a assessoria informa que a distribuição da vacina BCG está regular em todo o país. A nota diz que foram enviadas 936.340 doses para o país, e 20 mil para o estado. O Ministério da Saúde frisa que, através da Central de Armazenagem e Distribuição de Insumos Estratégicos (Cenadi), envia as doses aos estados, que são responsáveis pela distribuição aos municípios, de acordo com as necessidades locais. Por fim, o município é responsável pelo abastecimento das salas de vacinação.
No entanto, as doses encaminhadas não estão suprindo as necessidades do Piauí. A distribuição está “a conta gotas”. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) também falou sobre a ausência das vacinas, e comunicou a reportagem que desde dezembro de 2018 não tem recebido regularmente os imunibiológicos do Ministério da Saúde. Além de vir em etapas, sem obedecer a um calendário apresentado pelo próprio órgão, as doses das vacinas estão sendo disponibilizadas em quantidade insuficiente para atender a demanda.
No caso da BGC, as doses estão em falta. Em 2019 foram entregues 6.400 doses, que foram disponibilizadas ao município de Teresina. Somente ontem, 20, a Fundação Municipal de Saúde recebeu mais 400 doses. A equipe técnica da Coordenação de Imunização e Rede de Frio já contactaram com a Central Nacional de Distribuição expondo a irregularidade no fornecimento, que afeta não somente ao Piauí, como também aos demais Estados.
A Sesapi frisa que tão logo seja regularizado o fornecimento, as vacinas serão disponibilizadas imediatamente aos municípios.