Modelo é agredido em faculdade e fala em homofobia: 'Estou assustado'

Nesta terça-feira, 24, entramos em contato com o delegado Aldo Donisete del Santo, que explicou que o inquérito será instaurado para apurar a lesão corporal.

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Antonio Carlos Archibald, modelo fitness em São Carlos, no interior de São Paulo, foi agredido na noite desta sexta-feira, 20, após uma discussão com uma colega de classe no Centro Universitário Central Paulista (Unicep), onde cursa Publicidade e Propaganda. Ele usou as redes sociais para denunciar o crime e postar fotos de como ficou seu rosto no sábado, 21. Em conversa, o rapaz disse acreditar que o crime teve motivações homofóbicas e contou que já tinha conseguido levantar a ficha de seus agressores: a jovem com quem ele brigou na sala de aula, dois rapazes que o seguraram e o impediram de fugir e o namorado da moça e agressor de fato. Com os dados de todos em mãos, ele deu queixa na 3ª DP de São Carlos e passou por um exame de corpo de delito no fim da tarde de segunda-feira, 23.

 "Já queria voltar à faculdade, achava que as pessoas tinham que ver o que aconteceu comigo. Mas a coordenadora pediu que eu não voltasse por agora, enquanto a faculdade toma as providências para expulsar o agressor. Ela disse que conversou com ele e ele não mostrou arrependimento algum em relação ao que fez. É extremamente homofóbico e sanguinário! Ela acha mais seguro eu ficar em casa. Mas é um absurdo, né? Eu sou agredido e agora sou eu quem está proibido de ir às aulas", desabafa Antonio, que faz academia no mesmo local que seu agressor: "Mas lá eles já proibiram a entrada dele, estão me dando todo o apoio".

Nesta terça-feira, 24, entramos em contato com o delegado Aldo Donisete del Santo, que explicou que o inquérito será instaurado para apurar a lesão corporal. "Ainda ouviremos todos os envolvidos, e o laudo do corpo de delito vai determinar a gravidade da lesão.  Temos 30 dias para concluir o inquérito", disse o delegado, sem previsão de quando vai chamar o grupo apontado por Antonio para depor.

 De acordo com o assessor de imprensa de Antonio, ele vem se queixando de muita dor de cabeça e, como tomava uma medicação vasodilatadora, o ferimento continua sangrando, fazendo com que troque o curativo o tempo todo.

Segundo o rapaz, não é de hoje que ele ouve gracinhas preconceituosas dos estudantes. "Sempre brincavam, me xingavam de viado. Mas eu escutava tanto isso que deixava para lá, tentava satirizar a situação. Sempre aconteceram discussões em sala quando o assunto era levantado, mas cada um tem o direito à sua opinião. Contanto que não chegue à agressão como aconteceu, a gente tenta não dar palco para o preconceito. O que aconteceu dessa vez, para mim, foi tentativa de homicídio. Foi uma demonstração de ódio pública. Estou inconformado por isso acontecer dentro de uma faculdade. E assustado também!", admite.

Estudante trabalha como modelo fitness

Apesar de estudar Comunicação Social, Antonio também trabalha no meio fitness e conta que, no dia 28, participaria de um evento com Felipe Franco, noivo de Juju Salimeni, onde ia ser apresentado como novo garoto-propaganda de uma marca de suplementos: "Ia começar a competir como iniciante, vinha me preparando há três meses. E, assim como estou, como posso ir? O Gabriel sabia que eu ia ter esse evento. Está feliz por ter me prejudicado. E, da forma que aconteceu, eu podia nem ter sobrevivido! Quero a prisão desse menino. Ele é um criminoso! E a expulsão de todos. Mas também quero fazer disso algo positivo, para conscientizar a todos que o preconceito existe e muitos não têm a sorte que eu tive".

Procurada a UNICEP enviou um comunicado, repudiando a agressão: "O Centro Universitário Central Paulista, a UNICEP, informa que, quanto ao ocorrido na noite desta sexta-feira (20), em que um desentendimento entre alunos resultou em uma das partes se ferir, desaprova qualquer tipo de violência dentro e fora de suas dependências. Informa também que deu todo o suporte ao aluno ferido, bem como à sua família. Sendo assim, UNICEP explica que está tomando todas as devidas providências no caso através da abertura de um processo administrativo, que ainda está em andamento".

Processo

Apesar da UNICEP ter enviado o comunicado, prestando apoio a Antonio, o aluno resolveu processar, além dos quatro envolvidos no episódio, a faculdade. O assessor de imprensa de Antonio esclarece: "A faculdade não prestou auxílio na hora. Antonio já sofria preconceito há um tempo, era xingado. Fora que foi averiguado que a faculdade não tem pronto-atendimento. Duas estudantes de Medicina que prestaram socorro a ele". Agora, depois de aberto o processo, todos os envolvidos devem ser chamados para uma audiência de conciliação: "Mas não tem como fazer uma conciliação, né?", completa o assessor, que se mostra espantado com o fato de a faculdade resolver abrir um inquérito para apurar o ocorrido: "Abriram um inquérito administrativo por falta de testemunha. É um absurdo".

Apoio psicológico

Por estar assustado e inconformado com a agressão que sofreu, Antonio buscará um tratamento psicológico. "Ele é um garoto forte. Depois que viu o apoio das pessoas, ficou mais tranquilo, se sentindo acolhido. Mas ainda pensa muito no que aconteceu", diz o assessor do rapaz. Por conta da carreira como modelo, Antonio também está preocupado com as cicatrizes no rosto. "Ele ainda sente muita dor e tem sangramento. Tem medo de ficar marcado também, afinal, é modelo. Chora bastante, mas vai superar", diz o assessor.

'A verdade vai aparecer'

Procurados pela equipe de reportagem, os jovens que Antonio aponta como seus agressores não foram encontrados até a publicação desta matéria. A mãe de um deles, Arthur Alberguini, se pronunciou, por meio de um funcionário, dizendo: "A história é um pouco diferente. O Arthur não teve nada a ver, não encostou a mão em ninguém, jamais faria isso. A verdade vai aparecer".

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