Moradores de um prédio localizado no bairro Higienópolis, área nobre de Porto Alegre, entraram na Justiça contra a construção e uma passagem subterrânea ? uma das obras de mobilidade da Copa de 2014 ?, alegando que o prédio onde vivem pode desabar em virtude dos abalos estruturais que o empreendimento pode provocar pela retirada de uma rocha no subsolo. A prefeitura nega os riscos dizendo que as sondagens não apontaram a existência do mineral no local.
Desde março deste ano as obras para a construção de uma passagem subterrânea entre as avenidas Dom Pedro II e Cristóvão Colombo são alvo de uma disputa judicial que paralisou as obras. Somente no final de agosto, a prefeitura conseguiu reverter a decisão e pode iniciar os trabalhos.
No entanto, a obra ainda não começou porque ainda está em fase de serviços preliminares, com explica o coordenador de obras da prefeitura, engenheiro José Carlos Keim.
?Nós não temos questão de rocha nenhuma ali. Nem começamos as escavações ainda e as sondagens não apontaram isso. A obra está em fase de serviços preliminares, fazendo alguma adequação do projeto, que é uma coisa perfeitamente normal, nada que altere a estrutura, a largura (...) mas claro que se durante a execução aparecer, nós vamos ver amplamente, com cuidado, com segurança, com escoramento...?.
Segundo ele, foi encontrada uma rocha em uma outra obra da Copa, a passagem subterrânea entre as avenidas Carlos Gomes e Anita Garibaldi, a pouco mais de um quilômetro dali, ?nós vamos detonar, mas não será com explosivo, e sim com argamassa expansiva, para evitar o impacto, com todo o cuidado?, afirma.
O embate judicial começou quando a prefeitura entrou com uma ação de desapropriação do terreno do edifício, que inviabilizará o uso da garagem do prédio com o recuo de aproximadamente cinco metros. Os moradores contestaram a decisão e apresentaram um laudo técnico que indica riscos de abalos estruturais com a execução da obra.
?Para retirar essa pedra de lá eles vão ter que utilizar uma tecnologia muito cara. Isso se conseguirem, prejudicando a estrutura do local que pode ser abalada?, afirma o síndico do prédio, Henrique Jaimes Suksteris, indagando, ?quem vai nos garantir que que esse prédio não vai sofrer nenhum abalo estrutural??.
Segundo Suksteris, a prefeitura rompeu o diálogo e de forma ?traiçoeira? e começou a preparar o local para as obras. ?A prefeitura não quer conversa, diz que vai fazer a obra de qualquer jeito, não querem nem saber?, reclama.
O advogado do condomínio, Diego Mariante Cardoso, diz que apesar da prefeitura ter conseguido reverter a liminar que paralisou a obra, não começou os trabalhos porque encontrou a rocha no caminho. ?Em tese, o município poderia tomar posse (da área desapropriada) e fazer a obra, mas não está fazendo isso, justamente, porque encontrou a rocha (...) em uma entrevista, o prefeito municipal José Fortunati disse que encontrou uma rocha ali na Cristóvão Colombo?, disse, explicando que o processo ainda corre na Justiça, e que estuda uma forma de reverter a situação.
Destombamento arbitrário
Além disso, em frente ao prédio está localizada a escola Amigos do Verde, que também será afetada pela passagem subterrânea. A proprietária Silvia Lignon Carneiro se diz revoltada com a forma como a prefeitura destombou árvores de 80 anos que estavam no terreno.
?A gente teve um primeira conversa (com a prefeitura) há uma semana atrás e estamos esperando um retorno até hoje. O que a gente quer é que não mexam no nosso muro, porque é uma área que foi tombada durante 22 anos, e que foi destombada em função da obra de forma inadequada. Em nenhum momento nos falaram. E para nossa surpresa ela foi destombada desde outubro do ano passado. Uma completa falta de respeito com o espaço de uma escola que existe naquele local há 30 anos?, reclama, justificando que o tombamento ocorreu pela importância sócio ambiental do local.
?Eles teriam como fazer isso de outra forma. A gente sabe que qualquer cidade de primeiro mundo tem visão mais sustentável mais planetária. Não somos contra o desenvolvimento da cidade, mas a forma como estão lidando com as pessoas não é respeitosa. Eles têm que dar exemplo é uma área que devia ser protegida. E vamos lutar para mudar?, promete Sílvia.
A construção da passagem subterrânea faz parte das obras de mobilidade urbana para a Copa em Porto Alegre, com orçamento de R$ 13 milhões e previsão de entrega para abril de 2014, o que não deve acontecer pelos problemas judiciais e técnicos. Funcionários da prefeitura tem confessado que o andamento dos trabalhos ocorre em ritmo lentíssimo.