Moradores de uma ocupação histórica existente ao lado esquerdo da ponte do metrô, zona Sul de Teresina, temem a desapropriação de suas casas em razão do projeto que prevê que ruas e avenidas passem pelo local, como forma de otimizar o trânsito de pessoas naquela região.
Muitas destas residências são de tijolos, telha, alvenaria, têm ar- condicionado e muitos outros elementos que configuram certa “estabilidade” daquelas moradias.
No entanto, a Prefeitura Municipal de Teresina é enfática quanto à decisão de retirar as casas daquela área. Essas pessoas devem ser indenizadas e/ou encaminhadas para o Programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, em parceria com setores do poder público.
Mas eles não querem ir para essas casas – na Santa Maria da Codipi e Vale do Gavião – pois julgam ser muito distantes de seus trabalhos e também de hospitais, visto que existem crianças com deficiência psicomotora que precisam de atendimento no Centro Integrado de Reabilitação (CEIR), que é próximo.
“Com a ampliação da Ponte Wall Ferraz, eles querem construir ruas e avenidas de acesso, o que vai mexer com a gente. São cerca de 50 famílias, pois nosso terreno é irregular. Mas vamos lutar por ele, porque queremos ficar aqui.
Eles querem colocar a gente muito longe, moro há 50 anos aqui do lado. Não vamos admitir a transferência. O prefeito tem que chegar num acordo da gente, senão vamos entrar na justiça. Tem gente que mora aqui há muito mais tempo”, declara José Ribeiro Soares, morador.
As famílias se sentem prejudicadas com a situação. “Todo mundo aqui é pai de família, trabalha aqui perto. Querem jogar a gente longe. Já vivemos aperreados, com um salário que não dá pra nada, e ainda querem nos colocar num lugar perigoso e longe de onde a gente se sustenta, é difícil. Se me jogarem para o Santa Maria da Codipi, meu salário vai todo de gasolina”, reitera João Paulo Silva, de 18 anos.
E em razão da iminência da desapropriação, os moradores já estão invadindo outro terreno, do lado direito da ponte do metrô. “Queremos negociar.
Depois que passar a avenida, vamos pedir para a Prefeitura indenizar nossas casas para ficarmos aqui desse outro lado. Estamos todos unidos para que ninguém nos tire”, complementa José Ribeiro Soares.
Empresários invadem terrenos, diz população
O que deixa aquela população ainda mais revoltada é que, supostamente, empresários cercam áreas próximas às casas deles, na beira do rio, para construir condomínios residenciais.
Eles denunciam que existem inúmeras incoerências ambientais, mas que apenas eles são notificados quando derrubam uma árvore, por exemplo.
"Quando um pobre derruba uma árvore, vem tudo quanto é secretaria e o IBAMA fiscalizar. Quando é rico, eles dão um jeito. Lembra das carnaúbas que não queriam mexer, porque é patrimônio histórico?
Quando são para os menos favorecidos não pode, mas quando é empresário querendo fazer condomínio eles arrocham, porque são ricos também", declara Daniel Soares.
E falando em consciência ambiental, outro problema daquela área pode tirar o sossego de qualquer ambientalista:
não há coleta de lixo para aqueles moradores. "Somos obrigados a incinerar, nós mesmos, nosso lixo. Não tem coleta aqui, e o que acaba acontecendo? Dengue. Só o que tem aqui é foco da doença", desabafa José Ribeiro Soares.
SEMDUH faz levantamento da desapropriação
Segundo Vicente Moreira, secretário executivo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SEMDUH), as desapropriações acontecem de forma responsável.
"Os levantamentos já foram feitos, as desapropriações estão em andamento. É preciso analisar caso a caso, todas as pessoas que estão envolvidas neste processo.
Essas avaliações estão sendo feitas, mesmo que a terra não seja de propriedade da pessoa, a prefeitura indeniza os benefícios. Ninguém é colocado para fora sem ser ouvido", assegura.
O secretário executivo afirma que o que está em questão é o interesse público da população mafrense. "Está envolvido um interesse maior da população de Teresina. Essas ruas vão beneficiar toda a cidade, é a supremacia do interesse público sobre o privado. Mas nada há feito a toque de caixa", finaliza Vicente Moreira.