Morreu na noite de domingo, em sua casa, no Rio de Janeiro, o fot?grafo M?rio Carneiro, um dos expoentes do cinema novo. Aos 77 anos, sofria de c?ncer.
"Estou arrasado. ? a perda do irm?o mais velho que todos t?nhamos", disse o cineasta Cac? Diegues. Al?m de fotografar t?tulos seminais da corrente cinemanovista nos anos 50 e 60, Carneiro atuou, "com seu senso cr?tico muito agu?ado", conforme observa Diegues, como interlocutor e conselheiro dos autores desse per?odo.
"Pintor de origem, ele fazia da fotografia do filme uma linguagem, n?o um enfeite", aponta o produtor e tamb?m fot?grafo Luiz Carlos Barreto.
Al?m da pintura, Carneiro exerceu, antes do cinema, as atividades de gravador e arquiteto. Nascido em Paris, filho de diplomata, ele alternou, na juventude, temporadas vividas no Brasil e na Europa.
Depois de realizar amadoristicamente o filme "A Boneca", foi incentivado a seguir a carreira no cinema pelo poeta Vinicius de Moraes, amigo de seu pai, que assistiu ao t?tulo e avaliou que seu talento era mais marcante no cinema do que nas outras express?es art?sticas.
O conselho de Vinicius e o car?ter de "hit" que "A Boneca" ganhou entre os intelectuais da ?poca foram lembrados por Carneiro em longa entrevista sobre sua carreira dada ao fot?grafo Lauro Escorel e publicada na p?gina da Associa??o Brasileira de Cinematografia (www.abcine.org.br).
"M?rio foi o primeiro diretor de fotografia que conheci. Foi vendo-o trabalhar que me aproximei da arte da cinematografia. Um artista que, ao juntar ? fotografia seu talento de pintor, criou algumas das mais belas imagens do cinema brasileiro", disse Escorel ontem ? Folha.
A estr?ia profissional de Carneiro no cinema brasileiro foi com "Arraial do Cabo" (1959), de Paulo C?sar Sarraceni. A parceria com o cineasta seria repetida muitas outras vezes, como em "Porto das Caixas" (1961), "Capitu" (1968), "Natal da Portela" (1987), "A Casa Assassinada" (1973) e "O Viajante" (1999).
? extensa tamb?m a parceria de Carneiro com Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), para quem fotografou "Garrincha, Alegria do Povo" (1962), "O Padre e a Mo?a" (1965) e o epis?dio "Couro de Gato" no longa coletivo "Cinco Vezes Favela" (1961), cuja "refilmagem" Cac? Diegues coordena atualmente, com o projeto "Cinco Vezes Favela - Agora por Eles Mesmos".
Carneiro assinada ainda a fotografia de dois importantes longas do cineasta Domingos Oliveira -"Todas as Mulheres do Mundo" (1965) e "Edu, Cora??o de Ouro" (1966).
Antes do cinema novo, "a fotografia brasileira [em cinema] n?o correspondia ? luz brasileira", cita Barreto, que fotografou "Vidas Secas" (1963), de Nelson Pereira dos Santos.
"A busca que t?nhamos era no sentido de produzir uma fotografia mais representativa da luz tropical", afirma Barreto. "Elimin?vamos todos os efeitos t?picos do mundo setentrional, onde h? falta e n?o excesso de luz". O resultado ? que "al?m de ser um grande fot?grafo e grande pintor, Carneiro foi mestre de tanta gente. Lauro [Escorel], Afonso [Beato], Dib [Lutfi], todos foram disc?pulos dele", cita Diegues.
Mesmo atingido pelo c?ncer, Carneiro procurou prosseguir com a carreira. Ele fotografou "Harmada", de Maurice Capovilla, e o document?rio "500 Almas", de Joel Pizzini, que estreou neste ano.
Recentemente, j? abatido pela doen?a, suspendeu as atividades. "Nas ?ltimas vezes em que falei com ele, n?o pudemos ter conversas longas, porque ele se cansava r?pido", afirma Diegues.
Com Glauber Rocha, o maior ?cone do cinema novo, Carneiro realizou o curta-metragem "Di", que foi premiado no Festival de Cannes, mas teve suas exibi?es p?blicas interditadas, a pedido da fam?lia do pintor Di Cavalcanti, que considera a obra ultrajante ? mem?ria do artista.
Carneiro foi o c?mera e diretor de fotografia do curta, que registra o enterro de Di, no qual Glauber executa uma fe?rica performance narrativa.
"Por esses filmes e por muitos outros, como "O Padre a Mo?a" e "Cr?nica da Casa Assassinada", ele seguir? c