O número de chamadas para o serviço de emergência do Corpo de Bombeiros de Nova York registrou um aumento exponencial dos pedidos de socorro relacionados a ataques cardíacos e, consequentemente, do número de mortes. As informações são da Época.
De acordo com dados do Corpo de Bombeiros de Nova York, divulgados pelo site especializado Angioplasty.org, entre os dias 30 de março e 5 de abril de 2020, o atendimento de emergência da corporação recebeu 1.990 ligações com relatos de infartos. E o total de chamadas resultou em 1.429 mortes por problemas cardíacos - número oito vezes maior do que o registrado em 2019 no mesmo período.
A relação entre a escalada de mortes por problemas cardíacos e a Covid-19 é alvo de estudo por sociedades de cardiologia dos Estados Unidos e também de outros países como o Brasil. No momento atual, os especialistas sinalizam duas possibilidades para o crescimento dos óbitos por causas cardíacas:
1. Com os hospitais tomados por pessoas infectadas por Covid-19, os pacientes cardíacos têm evitado ao máximo optar pela internação. Desta forma, um problema que poderia ser identificado e solucionado diante de um primeiro sintoma pode se agravar.
2. A Covid-19 poderia representar um risco adicional ao paciente cardíaco e potencializar os fatores que levam a um infarto ou a outro problema no coração.
Ainda não existem estudos conclusivos para determinar como a escalada de mortes por problemas cardíacos está sendo influenciada pelas duas razões mencionadas.
O cardiologista Claudio Munhoz, especialista em arritmias cardíacas, menciona alterações no coração que podem ser relacionadas a uma infecção grave como a causada pelo coronavírus.
"Uma infecção viral gera um processo inflamatório significativo no corpo. Pode provocar uma série de alterações como inflamações do coração, que chamamos de miocardite. Ao mesmo tempo, existem os infartos, que são entupimentos de artérias do coração por placas de gordura. Muitas vezes, o infarto agudo tem origem em uma inflamação.”
Munhoz explica que o processo inflamatório pode fazer com que as placas de gordura “se fraturem” dentro da artéria - o que representaria um gatilho para o infarto. “O coronavírus poderia representar uma agressão aguda ao coração ou instabilizar uma doença prévia do paciente. E, além disso, qualquer agressão ao coração, seja um infarto ou uma inflamação por um vírus, pode causar arritmia, que aliás vem sendo constatada em pacientes com a Covid-19.”
Diante das incertezas relacionadas aos efeitos do coronavírus sobre pacientes cardíacos, a recomendação é buscar ajuda médica diante de sintomas como dores no peito, falta de ar e dores abdominais. Mesmo que o primeiro contato seja por telefone.
"O coronavírus pode causar alterações cardiológicas. Em geral, o mecanismo da lesão é inflamatório - miocardite. Porém, a forma da pessoa sentir é igual a um infarto. A pessoa pode ter dor no peito, falta de ar, palpitações e até desmaio. Mas o sintoma principal é dor no peito, semelhante a um infarto. Esse é o problema. São sintomas iguais, mas doenças diferentes", avalia o cardiologista Ronaldo Gismondi, integrante da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj). "Se a pessoa tem coronavírus, o mais comum é ter miocardite. A relação com o infarto não é possível provar, por enquanto."
Medo de ir ao hospital
O outro fator apontado por médicos - a relutância de pacientes cardíacos em procurar um hospital - apresenta sinais mais evidentes da influência da Covid-19.
Na semana passada, o site especializado Angioplasty.Org promoveu uma pesquisa com cardiologistas dos Estados Unidos que revelou uma queda de até 50% de pacientes cardíacos em alguns hospitais. A redução coincide justamente com o aumento dos chamados de emergência em residências para o 911 - o número do atendimento do Corpo de Bombeiros no território americano.
Em artigo no jornal The New York Times, o cardiologista Dr. Harlan Krumholz, professor de medicina da Universidade de Yale, perguntou: "Para onde foram todos os ataques cardíacos?" Em seu texto, ele fez uma ponderação: "A explicação mais preocupante possível é justamente que as pessoas ficam em casa, sofrem mais e acabam correndo mais riscos do que se estivessem em um hospital sob a ameaça de infecção por coronavírus.”