Internado no Hospital das Clínicas, o ciclista David Santos Souza, 21 anos, diz que perdoa o universitário Alex Siwek, também de 21 anos, que o atropelou. No acidente, que aconteceu no último dia 10, na avenida Paulista, região central de São Paulo, David teve o braço direito amputado. Alex inicialmente fugiu sem prestar socorro. Ele jogou o braço da vítima em um córrego da rua Ricardo Jafet, na zona sul de São Paulo.
? Eu lembro de o motorista ter derrubado três cones e vindo na minha direção. Eu dando pedalada para sair. Só que não deu tempo.
Para David, que já passou por duas cirurgias, Alex demonstrou frieza ao jogar o braço no rio.
? Achei que ele foi muito desumano com o ser humano, que sou eu, ou com qualquer outro humano que tivesse nesse caso.
Mesmo assim, ele diz que perdoa o universitário.
? Perdoo de coração, mas quero que ele pague pelo que ele fez. Isso, eu não desejo para ninguém. Acho que ninguém gostaria de passar pelo que estou passando no momento.
No depoimento gravado para o Domingo Espetacular, a vítima diz que se recupera bem, mas ainda sente o braço direito.
? O braço, eu imagino que tem. Sinto formigamento na mão.
Sem vingança
A mãe de David, Maria Antônia, está traumatizada.
? A dor foi muito grande. E ainda está sendo. Ainda o vejo na maca, com o braço todo cheio de sangue.
Ela conta que não quer vingança contra o motorista que atropelou o filho.
? Nossa raiva ou vingança jamais iria trazer o braço do meu filho de volta.
Mas Maria Antônia fala que gostaria de ver Alex responsabilizado pelo crime.
? Que ele aprenda a ser homem e cumprir com as responsabilidades dele, de não beber e sair no volante de um carro, atropelando as pessoas.
Pânico
Para o advogado de defesa, Cássio Paoletti, a atitude de Alex tem uma explicação: o pânico.
? Alguém, que sofre um impacto inesperado e se vê envolto num horror, numa tragédia de horror como esta, ele está absolutamente sob o império do irracional, do pânico. O bicho, que mora em todos nós, o irracional, o instinto que mora em todos nós quer fugir, quer sair daquilo ali. Ele pode jogar para fora do carro um botão que caiu, um boné, um braço, uma cabeça.
Já Ademar Gomes, advogado da vítima, discorda.
? Não é questão de pânico. É questão de personalidade mesmo.
Gomes entende que faltou bom senso ao universitário.
? Ele não tem bom senso, ele não tem carinho pelo seu semelhante.
Alex está preso e responde por quatro crimes: lesão corporal gravíssima, fraude processual por ter se livrado do braço, omissão de socorro e embriaguez ao volante.
O estudante, que antes do acidente havia saído de uma boate de luxo, não fez o teste do bafômetro nem exame de sangue.
O pai dele foi hostilizado na delegacia, enquanto o filho era ouvido. Segundo Cássio Paoletti, a família de Alex também está abalada com o que aconteceu.
? A mãe está absolutamente em choque. O pai está tentando se sustentar em pé.