Mamãe, mamãe não chore. A vida é assim mesmo. Eu fui embora. Os versos de "Mamãe Coragem", canção de Caetano Veloso e Torquato Neto, falam que ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos. Na falta deles, um vazio invade o coração repleto do mais profundo amor.
O amor de mãe é puro, verdadeiro e incondicional. É tão forte que é incapaz de ser descrito com exatidão. Sob este contexto, uma mãe que perde um filho também sente uma dor impronunciável e incapaz de ser medida. Sob este contexto, a Associação Brasileira ao Movimento Amor a Mãe busca construir o apoio mútuo entre aquelas mulheres que passam pela experiência deste tipo de luto.
Ajudando outras mães
A ideia partiu da psicóloga Celina Tourinho, que perdeu o filho, Vittorio, vítima de um acidente elétrico em uma propriedade rural.
"A associação surgiu quando fui a uma consulta com o Dr. Carlos Portela, clínico geral que também é médico do coração e do esporte. Eu estava sem vida, sem disposição e emocionalmente debilitada. Quando soube do motivo, me pediu que procurasse algo que eu teria como missão para o mundo. Foram palavras de Deus para mim", revela.Celina conta que tomou o projeto como missão de vida.
"Vi que minha missão era cuidar de mães como eu, que não sabiam por onde começar. Um dia vi um jovem muito parecido com meu filho e senti a mensagem, que ele estava sim comigo e que eu deveria iniciar o trabalho, não sabia como começar, mas minha mãe me ajudou, como sempre muito assertiva", acrescenta.
A Associação Brasileira do Movimento Amor à Mãe foi criada, oficialmente, no dia 17 de agosto de 2022. "Começou no segundo dia das mães que eu passei sem meu filho Vittorio. O primeiro foi desesperador, e o segundo tive a coragem de ir convidando mães que como eu poderia estar querendo um lugar para poder desabafar, falar dos nossos filhos, ouvir, ver. Dizer que estamos sofrendo de saudades e sermos compreendidas. É um lugar para acolher a situação. São mães que são muito parecidas e chamamos o grupo de WhatsApp de 'Mães de Anjos'", conta Celina.
Uma dor que não tem nome
Para as mães, é complicado descrever a dor de perder um filho.
"Essa dor não tem nome, nem nós temos, não existe nome para uma mãe que perde seu filho. Nossa missão enquanto associação é acolher, cuidar e desenvolver mães e mulheres que passam por traumas e o luto de perder um filho. O trabalho será aprofundar, oferecer atendimento psicológico, médico, atividades como defesa pessoal, atividades empreendedoras, até serviços jurídicos se necessário for. Teremos o que for preciso para essa mãe criar novas perspectivas de vida", acrescenta.
A psicóloga afirma que a perda de um filho representa um trauma profundo e individual. "Cada um no seu tempo e estrutura, com a ABMAM vamos proporcionar um grupo que gere confiança e empatia, e essa dinâmica colabora com a qualidade de vida da pessoa. Por esse motivo, nossos encontros serão sempre dirigidos por profissionais psicólogos", acrescenta.
Auge da pandemia
Andrea Karla é mãe de Carlo Victor, um jovem médico que faleceu em um acidente aéreo, no auge da pandemia da Covid-19, no dia 15 de maio de 2020, no momento em que realizava a transferência de um paciente de Sobral para Teresina. Ela afirma que o processo de luto não é linear, existem altos e baixos.
"Tendo apoio e experiências de outras mães nos fortalece. A rede de apoio da associação serve para nos amparar, nos ouvir, nos ajudar a seguir. O conforto vem em forma de escuta, palestras, apoio psicológico, médico e jurídico", conta.
Sensação que a dor é igual
Maria Raimunda também faz parte da Associação. Ela perdeu a filha, Marina Lima Teixeira, aos 26 anos. "A importância de dividir o que estamos passando com outras mães dá a sensação que nossa dor é igual. Na minha opinião, dividir essa experiência, me dá mais força para continuar seguindo. Temos mães que já passaram pelo processo do luto e vejo nelas uma esperança de dias melhores. A dor nunca vai passar, mas deve amenizar com o tempo", considera. Para Maria Raimunda, a associação veio para consolar.
"Sinto na Celina uma força que me estimula a levantar. Penso todos os dias: se ela é Fortaleza hoje, posso ser também amanhã! A Associação veio para somar. Estou tentando viver meu luto, de forma que eu possa ajudar meu próximo. Servir, mesmo que eu esteja em pedaços! A Associação nos ensina isso", finaliza.