Uma jovem de 24 anos é suspeita de fingir uma gravidez e o nascimento de uma criança, além de falsificar um exame que induziu a Justiça a erro, para se vingar do ex-namorado em Ribeirão Preto (SP). Segundo o rapaz que seria o pai do bebê, a farsa foi revelada um ano depois, durante a festa que marcaria o primeiro aniversário da menina.
A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso. Segundo o Ministério Público, a situação é gravíssima e, se ficar provado que outras pessoas ajudaram a jovem a manter a mentira, elas também deverão responder criminalmente.
O advogado da mulher, Carlos Andreotti, afirma que ela está em tratamento psiquiátrico e que os documentos apresentados à Justiça deverão passar por perícia.
Pai nunca viu a filha
Victor Guerino Sedassare e Pâmela Ribeiro Serveli mantiveram um relacionamento amoroso por quatro anos. Eles terminaram o namoro em 2015, mas chegaram a sair juntos por algumas vezes, porque a jovem tentava reatar e não aceitava o fim da relação. Pouco tempo após o último encontro, Pâmela procurou Victor para contar que estava grávida e apresentou um exame, que comprovava a gestação.
Às vésperas do parto, os pais dela chegaram a ir à casa de Victor para convidar a família para assistir o nascimento da criança. Eles, no entanto, recusaram o convite por não terem certeza sobre a paternidade da criança.
"Nós estávamos sendo convidados a participar do parto. Aí eu questionei: como eu vou assistir o parto, se eu não sei nem se é filho do Victor?", diz João Batista Sedassare, pai do rapaz.
Segundo a família, Pâmela entrou na Justiça para obrigar o ex-namorado a custear todas as despesas com a gestação, e conseguiu um mandado favorável ao pedido. Após o nascimento da criança, no entanto, o rapaz nunca conseguiu ver a menina, chamada de Laura pela mãe e pelos avós maternos.
De acordo com Victor, Pâmela chegou a publicar algumas fotos da criança em seu perfil em uma rede social, mas em muitas delas não era possível ver o rosto do bebê.
"Ela começou a me evitar. Eu pedia pra ela trazer a criança pra eu ver, e ela simplesmente não trazia. Ela falava que vinha, chegava na hora e ela não trazia. Sempre tinha um problema, sempre tinha um empecilho. Aí a gente começou a duvidar, que isso não era tão normal", diz o jovem.
Exame falso
Desconfiada do comportamento de Pâmela, há quatro meses, a mãe de Victor passou a buscar evidências sobre a existência da neta. Rosa Helena Sedassare conta que, por várias vezes, foi até a casa da família de Pâmela para tentar ver a criança.
Em uma das visitas, a mãe da jovem deixou que Rosa entrasse, mas a mulher se surpreendeu ao ver o quarto do bebê, que tinha uma boneca dentro do berço. Pâmela e a filha, porém, não estavam em casa.
"Ela disse que a Pâmela não queria que ninguém visse a criança. Ninguém viu. Eu conversei com os vizinhos e ninguém nunca tinha visto essa criança, nem saindo com a Pâmela, nem com outra pessoa. Ninguém nunca viu uma criança naquela casa."
Em julho deste ano, Rosa procurou o laboratório responsável pelo exame que atestou a gravidez de Pâmela e descobriu o que seria uma grande mentira. "Me veio uma luz e eu fui. Quando eu cheguei no laboratório, até o teste de gravidez era falso. Eu pensei, se o teste de gravidez é falso, tudo é falso, não existiu uma gravidez."
A notícia deixou Victor perplexo. O jovem, que descobriu um câncer na coluna e há dez meses passa por um tratamento intensivo contra a doença, diz ter ficado muito abalado.
"No começo, eu acho que ela me queria pra ela. Como ela percebeu que isso não foi mais possível, que eu falei pra ela 'se você tiver uma criança, a gente simplesmente vai manter esse relacionamento', eu acho que já começou a ser uma vingança. É como se ela quisesse só me prejudicar acima de tudo", afirma o rapaz.
"Em todo lugar que eu ia, as pessoas me julgavam, perguntavam sobre a minha filha, sendo que a filha que ela dizia eu nunca vi. Ela só pensou 'eu quero difamar a imagem dele, prejudicar ele perante os amigos, perante a família, perante todo mundo que se aproximar dele", diz Victor.
Farsa revelada em festa de aniversário
Rosa procurou o juiz e relatou sobre a possibilidade de o exame que atestava a gravidez ter sido fraudado por Pâmela. Um oficial de Justiça foi enviado à casa da jovem para informar que ela e a criança teriam que comparecer ao Fórum e que a mãe teria de apresentar a certidão de nascimento da filha.
O oficial foi enviado no dia da festa do primeiro aniversário de Laura, como a criança era chamada, no dia 11 de julho deste ano. A mulher distribuiu convites a familiares, amigos e vizinhos dela e do pai da criança, e chegou a gastar R$ 3 mil com a contratação de um buffet para o evento.
A mãe de Victor esteve na festa e diz ter questionado Pâmela sobre a presença da criança. De novo, Rosa diz ter ouvido uma desculpa da jovem. "A festa estava linda e parecia ser real. Mas não tinha a criança. Nem a mãe da criança estava lá. Ela alegou que o oficial de Justiça tinha chegado na casa dela naquele momento, porque tinha uma denúncia de maus-tratos. Que a criança tinha ficado em casa com o pai dela e que assim que o oficial fosse embora, o pai dela viria com a criança pra festa."
A farsa foi, enfim, revelada quando uma mulher chamada Emily invadiu a festa e afirmou que três pessoas tinham tentado levar a filha dela de casa. A Polícia Militar foi chamada, e Pâmela foi levada para a delegacia para prestar esclarecimentos.
Suspeita de outras participações
Para a família de Victor, a mulher chamada Emily contribuiu para que Pâmela levasse a farsa adiante. Rosa não acredita que a jovem tenha planejado roubar a criança para apresentar como sua filha na festa de aniversário.
"Eu acho que se o oficial de Justiça não tivesse chegado na casa da Pâmela, a criança chegaria na festa. [Eu creio] que a Emily teria cedido a criança pra ela. Por que como que ela montou uma festa sabendo que não tinha uma criança pra levar na festa?", diz.
Segundo Rosa, a farsa planejada pela jovem é uma trama maquiavélica e a história deixou a saúde do filho ainda mais debilitada.
"Eu creio que o estado de saúde do meu filho foi agravado por toda essa mentira. Eu achei que ela estava grávida, mas que poderia não ser do meu filho e que, por isso, ela não queria fazer o DNA. Eu tenho medo dela, a história é assustadora. Eu chorei muito por esse motivo, e estou muito sentida", diz a mãe de Victor.
O rapaz diz que nunca poderia imaginar que a ex-namorada pudesse ser capaz de agir desta forma, e afirma que vai recorrer à Justiça para fazer com que ela pague por suas ações.
"Graças a Deus, a farsa foi descoberta e a Justiça será feita. Tudo o que foi tramado, planejado por ela, o juiz vai conseguir ver e vai tomar as medidas cabíveis contra ela."
Ministério Público
A Promotoria afirma que as acusações contra Pâmela atingem a esfera criminal, uma vez que ela fraudou documentos que induziram a Justiça a erro.
"Quando o processo chega até nós, com o acervo de documentos que tinha para estabelecer alimentos pra mulher grávida, nós cremos na documentação. Agora, a gente vê que são falsos. Isso é crime e deve merecer um tratamento extremamente rigoroso agora. Essa moça não induziu só a Justiça ao erro, mas todos que estavam próximos dela, inclusive o suposto pai", diz o promotor Sebastião Donizete Lopes.
A pedido do Ministério Público, a Polícia Civil instaurou inquérito para investigar as circunstâncias do caso. A jovem poderá responder por falsificação de documentos e por utilização da Justiça de forma indevida. A pena é de um a cinco anos de prisão para cada um dos crimes.
Defesa
Segundo o advogado de Pâmela, Carlos Andreotti, a jovem está internada em uma clínica psiquiátrica. "Essa história, possivelmente, ela tenha fantasiado em virtude desse relacionamento com o Victor, desde 2010, e que já havia existido uma gravidez anterior e ela já teria ficado abalada. O foco do problema encontra-se no problema psiquiátrico dela”, afirma.
Andreotti diz acreditar que os pais da jovem não tinham consciência sobre a farsa. "A versão que eles me passaram é que ela falou que, desde o dia do nascimento, a criança nasceu com problemas no coração e precisou ficar internada, e o acesso a essa criança não era possível em razão dessa internação."
Emily, que acusou Pâmela de ter planejado sequestrar a filha, não quis gravar entrevista.