Mulher consegue guarda de papagaio na Justiça, mas ave morre no Ibama

Em março deste ano, a vendedora havia entrado com um pedido na Justiça para reaver a guarda do papagaio.

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Após a Justiça Federal em Pernambuco conceder a guarda de um papagaio da espécie Amazona aestiva para a vendedora ambulante Gedália Valentim Ferreira, que criava o animal há oito anos, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) informou à mulher, na manhã desta quinta-feira (15), que o bicho morreu no cativeiro da sede regional do órgão, na Zona Norte do Recife.

Em março deste ano, a vendedora havia entrado com um pedido na Justiça para reaver a guarda do papagaio. Ele foi apreendido no mesmo mês por agentes da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma) após denúncias anônimas de maus-tratos. Desde então, o bicho estava na sede regional do Ibama, no bairro de Casa Forte, para receber tratamento em cativeiro.

Depois da apreensão do animal, a vendedora ambulante procurou auxílio da Defensoria Pública, que acionou o Poder Judiciário. Na última sexta (9), o magistrado da 2ª Vara Federal, Francisco Alves dos Santos Júnior, concedeu a guarda do papagaio à Gedalia Valentim Ferreira. Ao procurar o Ibama na manhã de hoje para pegar a ave, ela foi informada da morte do animal, que ocorreu há mais de um mês.

De acordo com a veterinária do Ibama Cristina Farias, a necrópsia realizada no corpo do bicho apontou para uma infecção bacteriana agravada por quadro de desnutrição crônica. O animal morreu no dia 10 de julho. "Só realizei a necrópsia no dia 24 [de julho], depois que retornei das férias. Ainda haverá um laudo laboratorial realizado na Universidade de São Paulo", afirmou.

A vendedora ficou decepcionada com a notícia da morte. "Ele era perfeito. Disseram que eu maltratava ele, mas é mentira. Ele tinha um defeito que era de nascença na pata, não prendia ele", disse. Depois da apreensão, a mulher foi ao Ibama diversas vezes com o objetivo de visitar o papagaio, que ela batizou de "Meu Lourinho". No entanto, depois de algumas visitas, Gedália foi impedida de ver o pássaro. "Eu implorava para ver, mas eles não deixavam. Só consegui vê-lo duas vezes", lembrou.

Segundo o Ibama, o papagaio apresentava uma atrofia do músculo peitoral. "Ele tinha uma mutilação pélvica, provavelmente já desde o cativeiro doméstico", acrescentou a veterinária. O Ibama afirma que prestou todos os cuidados necessários para que o animal fosse reabilitado.

"A gente sabe que o animal vinha numa dieta [alimentar] mais humana do que uma adequada à espécie dele. No cativeiro, nós adequadamos a dieta dele ao que nós oferecemos aos psitacídeos [ordem de aves que inclui o papagaio]. Aqui ele estava se alimentando bem, porém tem toda uma fase de adaptação desse animal do cativeiro doméstico para o processo de reabilitação", explicou Cristina Farias.

Criando o papagaio desde filhote, Gedália conta que nunca tirou uma foto do bicho porque, segundo ela, "daria azar". "Eu tinha um gatinho que eu tirava fotos e ele acabou morrendo", relatou a vendedora.

Confusão de informações

A decisão da devolução do papagaio foi dada pelo juiz Francisco Alves na última sexta (9). De acordo com ele, o Ibama foi notificado da decisão esta semana. "Antes de ontem [terça-feira], o Ibama foi notificado oficialmente. Talvez o setor ainda não saiba, mas a instituição foi avisada sim", afirmou o magistrado. No entanto, a Superintendência do Ibama informou hoje que ainda não recebeu a notificação.

A defensora pública Marina Lago, que acionou a Justiça para reaver o papagaio de Gedália, afirmou que vai procurar o Poder Judiciário novamente para analisar medidas de reparação. "A informação que o Ibama nos passou é que eles estavam aguardando uma perícia vinda de São Paulo para só depois informar do falecimento. Essa comunicação que aconteceu hoje, para eles, teria sido prematura, o que ao meu ver não foi, já que o papagaio faleceu no dia 10 de julho", afirmou.

Procurado pelo G1, o juiz Franciso Alves disse que vai aguardar a notificação oficial sobre o falecimento do papagaio para tomar providências. "Vou comunicar ao Ministério Público Federal e se houve algum crime, vamos tomar medidas cabíveis. Vamos apurar essa morte", explicou o magistrado. Sobre o processo de guarda do papagaio, o juiz afirmou que será extinto por falta de objeto.

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