262 kg - esse foi o peso máximo que Roxane Gay, com 1,90 metro de altura, encarou em uma balança. E ela chegou na marca “de forma obstinada”. “Comecei a comer para mudar meu corpo, queria que ele se tornasse repulsivo, indesejável queria construir uma fortaleza”, escreveu em “FOME - Uma autobiografia do (meu) corpo” (ed. Globo Livros). Mas por que alguém desejaria alcançar tal feito?
O que Roxane ganharia com isso? “Nunca mais ter os olhares, nem a atenção, dos homens. A vontade era poder manter os homens à distância. Não queria que nada nem ninguém me tocasse.”
Comer compulsivamente até se tornar “uma obesa mórbida” foi o que ela, então com 12 anos, fez para se proteger após um trauma. “Minha vida se divide em duas: antes de engordar, depois de engordar. Antes de ser estuprada, depois de ser estuprada.” Na época, um menino de quem Roxane gostava a levou para uma casa em uma floresta, e junto com outros garotos, a violentou sexualmente. Não foi apenas estupro, foi estupro coletivo. Por causa da culpa que sentia, Roxane guardou o crime em segredo por mais de 30 anos.
Hoje, aos 43 anos e cerca de 70 kg a menos - que perdeu apenas em nome da saúde, é importante dizer. Roxane tem sido uma ativista aguerrida contra a gordofobia - ela é um dos nomes mais importantes do feminismo contemporâneo e uma autora best-seller no mundo todo. Seu livro “Má Feminista” (ed. Novo Século), lançado em 2014, se tornou referência de empoderamento entre garotas. A norte-americana ainda é colunista nos jornais The New York Times e The Guardian e é famosa por seus comentários no Twitter.