Recomeço. É assim que a motorista do carro atingido por um trem quer encarar a vida. Depois do susto, a dona de casa Maria José Cristina, de 32 anos, contou nesta terça-feira (3) que passou por momentos de desespero e que precisou tomar uma decisão na hora do acidente: ficar no veículo com os filhos ou vê-lo ser arrastado com as crianças dentro. Além disso, a motorista contou que há um ano um primo morreu no local, no mesmo dia, também atropelado por um trem.
"Quando fui atravessar a via não ouvi nenhum sinal sonoro e tinha uns bambus e árvores que atrapalhavam a ver. Eu e meu marido olhamos e não vimos nada. Quando fui atravessar, o carro 'morreu'. Parecia que tinha algo segurando o veículo. Foi desesperador. Foi então que eu e meu marido resolvemos empurrar o carro. Mas como não conseguimos movê-lo, eu não ia ficar do lado de fora vendo meus filhos serem atropelados, por isso decidi ficar no carro com eles", lembrou.
Maria José Cristina disse que ainda tentou tirar a filha da cadeirinha, mas não conseguiu. "Quando vi que não tinha mais jeito, entrei no carro, pois se acontecesse algo pior eu estaria com meus filhos. Depois disso eu não me lembro de mais nada. Bati a cabeça e só me recordo do resgate depois”, comentou emocionada.
A família voltava da casa de parentes em um distrito de Alfredo Vasconcelos e ia para Juiz de Fora, onde moram, quando o carro em que estavam foi atingido. Sobre a ocorrência, a Polícia Militar informou que o maquinista chegou a acionar o freio de emergência, mas que o choque foi inevitável. O trem arrastou o carro por cerca de 170 metros. Com a batida, os filhos do casal que estavam no banco de trás do veículo ficaram presos às cadeirinhas.
A filha do casal, de quatro anos, e a mãe sofreram ferimentos leves, receberam atendimento médico e foram liberadas. O pai das crianças e marido de Maria José estava no lado de fora do veículo no momento da batida e não ficou ferido.
O filho mais novo sofreu fratura exposta em uma das pernas, teve alguns dentes quebrados e foi encaminhado para a Santa Casa de Barbacena. O G1 entrou em contato com o hospital, que informou que a criança está estável e segue internada sem previsão de alta.
Já a bisavó das crianças, de 76 anos, que estava entre as cadeirinhas de proteção, teve ferimentos graves. Ela foi encaminhada para o Hospital Regional de Barbacena, onde segue internada. A unidade não informou o estado de saúde da paciente.
Recomeço
Agradecida pela vida, a dona de casa afirmou que teve sorte em estar viva. “É um recomeço para a minha família. O nome do meu filho é de anjo e tenho certeza que Deus nos livrou desse mal. Estou tentando não pensar nas coisas ruins. Só quero que ele fique bem para continuarmos com nossa vida”, destacou.
Emocionada, a mulher também revelou que não consegue esquecer as cenas instantes antes da batida.
“Não sei como vai ser daqui para frente, não consigo dormir, choro muito, estou cheia de hematomas. Meu carro não tinha seguro e precisamos de veículo para levar as crianças para o médico. Infelizmente vou ter que voltar por aquele mesmo caminho e ficar na casa na minha mãe. Não sei como vai ser quando passar por ali”, lamentou.