Cerca de 300 mulheres se reuniram na tarde deste sábado, na avenida Paulista, em São Paulo, para a primeira edição da "Marcha das Vadias" brasileira. Inspirada na "Slut Walk" canadense, termo similar em inglês, o protesto reuniu em sua maioria jovens e chegou a fechar parte do tráfego na avenida Paulista, sentido Consolação.
A ideia da marcha canadense aconteceu depois que um policial, durante palestra em uma universidade local, ter afirmado que as mulheres deveriam evitar se vestir como vagabundas para não serem alvos preferenciais de estupros. A palestra se deu em um momento em que os casos de estupro estavam em evidência no Canadá.
Com pouca roupa, apesar da temperatura em declínio, muita disposição e palavras de ordem, as brasileiras aproveitaram para se queixar da maneira com que são tratadas, principalmente quando saem vestidas mais à vontade.
Solange De-Ré, uma das idealizadoras da marcha brasileira, diz que entrou em contato com as organizadoras da marcha canadense antes de lançar a ideia na Internet.
"Elas receberam muito bem a nossa proposta e estamos aqui para mostrar que temos direito de andar à vontade sem sermos agredidas". Ela diz que assistir o notíciário vespertino dá uma ideia do problema. "É só ligar a televisão para ver o quanto as mulheres são agredidas. E isso com a complacência da sociedade", afirma.
Solange diz que já passou por algumas circunstâncias constrangedoras na rua, incluindo agressões verbais e morais. "Cheguei a responder dois processos por agressão. Eu faço artes marciais e algumas vezes reagi", disse.
Emília Aratanha compareceu ao protesto apenas de calcinha e sutiã, também com o objetivo de chamar atenção para a violência. "A gente tem de ter liberdade para andar à vontade, sem ser agredida", afirmou.
Camila Conti, diretora de arte de uma agência publicitária, veio com um cartaz pronto para a manifestação com a inscrição: "Violência e preconceito. Chega de engolir, tá na hora de cuspir".
"Nós já vivemos séculos e séculos e a situação mudou muito pouco. Cheguei a andar armada com um estilete, quando morava na periferia de Santo André. Fui incomodada muitas vezes quando voltava para casa depois dos estudos", disse.
Camila diz que não é favorável a uma hegemonia feminina, mas se diz contra a o viés violento com o que as mulheres vêm sendo tratadas. Alguns homens aproveitaram a movimentação para dar apoio à marcha. Outros, reservadamente, afirmaram que fazia tempo que não se via uma marcha tão bonita pela cidade.
A marcha seguiu até a rua Augusta e terminou na frente do teatro Comedians, que tem como sócios os humoristas Rafinha Bastos e Danilo Gentili. O grupo pediu boicote ao teatro por conta das piadas sexistas de ambos."