Um estudo publicado na revista Jama Networking revelou que mulheres que são operadas por cirurgiões homens tem cerca de 32% mais chance de morrer do que se tivessem sido operadas por mulheres. As chances de complicações no pós-operatório, de readmissões no hospital e de permanecerem internadas por mais tempo também são maiores.
Para chegar a essas conclusões, um grupo de pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, analisou os registros de mais de 1,3 milhão de pacientes operados entre 2007 e 2019. Eles computaram o sexo dos pacientes e dos cirurgiões e depois observaram como a cirurgia e a recuperação haviam transcorrido. Os procedimentos eram variados e iam de cirurgias para remoção de apêndice até reparos de aneurisma.
A partir das informações coletadas, constatou-se que homens operados por cirurgiões homens ou mulheres tiveram resultados similares. As chances de sucesso e de recuperação foram muito próximas. O mesmo, no entanto, não se confirmou para as pacientes mulheres: para delas, ser operada por um homem foi sinônimo de correr mais riscos de morte e ter menos chances de uma recuperação tranquila.
“Demonstramos em nosso artigo que estamos falhando com algumas pacientes do sexo feminino e que algumas estão desnecessariamente ficando para trás, com consequências adversas e, às vezes, fatais”, afirmou ao jornal britânico The Guardian a epidemiologista Angela Jerath, uma das autoras do estudo.
Além de terem mais chances de morrer nas mãos de um cirurgião do que nas de uma cirurgiã, as mulheres operadas por homens tiveram um risco 16% maior de complicações no pós-operatório, 11% mais chances de voltarem ao hospital e 20% mais chances de ficaram nele por mais tempo.
Em alguns tipos de cirurgia, os resultados foram ainda mais alarmantes: em procedimentos vasculares ou cerebrais, mulheres tiveram um risco 33% maior de morrerem se operadas por cirurgiões.
Embora alguns médicos tenham apresentado resultados consistentes em cirurgias realizadas em ambos os sexos, a conclusão dos pesquisadores canadenses é que, no geral, existe um viés inconsciente que coloca mulheres em risco quando operadas por homens. O cenário se torna preocupante em países onde a taxa de cirurgiões é muito maior do que a de cirurgiãs.
“Esses resultados são preocupantes porque não deve haver diferença de sexo nos resultados dos pacientes, independentemente do sexo do cirurgião”, conclui Angela Jerath.