Uma multidão tentou linchar um homem e uma mulher após, segundo a Polícia Civil, correr boato pelo Whatsapp de que uma criança teria sido sequestrada em Araruama, na Região dos Lagos do Rio, nesta quarta-feira (5).
Fotos de um carro branco com as vítimas dentro, além de áudios, entre eles de um homem se dizendo pai da criança, fizeram com que as vítimas fossem rendidas, dentro do carro, sob acusações de um grupo de moradores.
O casal só não foi linchado por causa da intervenção da Guarda Municipal e da Polícia Militar.
O motorista, Luiz Aurélio de Paula, disse que assim que o grupo invadiu o carro, negou que tivesse praticado o ato e o levou, de carro, até uma paradaria para tentar provar que estava trabalhando com a venda de produtos no local. Mesmo assim, as agressões começaram e o número de pessoas cresceu.
No vídeo feito de um celular mostra uma multidão aglomerada em volta do veículo, no bairro Mutirão. Os moradores quebraram o carro, tentaram virá-lo e, uma pessoa que foi detida, ateou fogo no veículo, mas sem ninguém dentro.
"Um monte de homem me abordaram, eu pensei que fosse um assalto. Aí eu tentei justificar pra eles que eu estava vendendo iogurte, queijo e linguiça aqui em Araruama. Não me deram atenção [...] Me empurraram pra dentro do carro, eu não deixei eles dirigirem o carro, eles mandaram entrar pra uma rua e eu entrei, falei 'vamo lá na padaria que vocês vão ver que eu tô trabalhando'. O pessoal da padaria me identificou e disse que trabalhava comigo".
Luiz conta que ainda tentou defender a mulher que estava no carro, mas não teve como reagir.
"Me empurraram pra fora da padaria me agredindo, pegaram a pessoa que tava dentro do carro e bateram nela. Eu tentei defender a pessoa, eles montaram em cima de mim... jogaram uma pedra em mim. Aí eu tentei me defender de todas as formas. Quando e vi que soltaram a pessoa que tava no carro, eu corri pra dentro da padaria pedindo socorro. Aí o pessoal da padaria ligou pra polícia pedindo socorro", disse.
Agentes da Guarda Municipal chegaram e conseguiram tirar o casal da confusão. A viatura da guarda também teve o vidro quebrado e um policial ficou ferido. Um dos guardas contou como aconteceu.
"A gente partiu pra lá e conseguiu isolar, defendeu o senhor até porque era só suspeita, não tinha nenhuma acusação. O ânimo lá tava de ódio. Tava querendo pegar o casal para fazer um linchamento. Provavelmente ia acontecer um homicídio lá, eles iam matar o casal. Era um clima muito de ódio", explica Alex Silvestre, subcomandante da Guarda Municipal em Araruama.
A vítima, emocionada, falou sobre a atitude tomada pela população após o boato.
"Tinha umas mil pessoas do lado de fora falando que iam me matar por causa desse WhatsApp, que tá incriminando as pessoas e matando as pessoas sem ter culpa. Eu to morto de vergonha da minha esposa, da minha família, por estar passando uma situação dessa. Tentaram matar um homem trabalhador. O pessoal queria me linchar a troco de que? Eu não fiz nada de errado. Eu simplesmente tô trabalhando... trabalhando honestamente e ser abordado por homens desconhecidos e ser detonado na sociedade, nas redes sociais a troco de que? Eu pensei que ia morrer porque tinha muita gente invadindo, querendo invadir a padaria", desabafou.