“Não paro de pensar no que ela passou antes de morrer”, diz pai que levou filha à boate Kiss

Familiares pretendem criar uma associação para cobrar justiça.

Jennefer sorri na comemoração pelos seus 22 anos | Arquivo Pessoal
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Amigas quase inseparáveis, Jennefer e Erika não foram juntas à boate Kiss, como de costume, na madrugada do dia 27 de janeiro. Deixaram as suas casas separadas, chegaram ao local longe uma da outra, mas tiveram o mesmo destino. As duas morreram no incêndio que matou outras 236 pessoas em Santa Maria. Amigos que se aproximaram pela união das filhas, os pais ainda tentam aceitar as perdas.

Adherbal Alves Ferreira, pai de Jennefer e Leo Carlos Becker, pai de Erika, assistiram por anos à amizade das jovens de 22 anos. As meninas costumavam frequentar a casa uma outra, trocavam roupas e confidências. "Elas eram muito amigas, uma sempre estava com a outra, mas naquela noite não tinham ido juntas à boate", explica o consultor de vendas Leo.

Jennefer foi com outras duas amigas à Kiss. O pai foi o motorista e as deixou em frente à boate. Até agora, 12 dias depois da tragédia, ele ainda procura explicações.

"Eu não paro de pensar no sofrimento da minha filha, não consigo imaginar o que ela passou antes de morrer. Isso está me deixando louco. Eu levei a minha filha e duas amigas, as deixei na frente da boate e as três estão mortas", lamenta o empresário Adherbal.

Ainda muito abalado com a morte da filha, ele lamenta o fato de ter conduzido ela e as amigas até a boate. "Eu não podia acreditar. É um pesadelo. Só ontem que eu consegui ver na internet as reportagens sobre a hora do incêndio. Eu não paro de pensar no que a minha filha passou. Se eu não tivesse levado as meninas..."

Pais buscam criar associação

Apesar da dor, os dois pais ainda encontram força para mobilizar outros familiares a lutarem por justiça. Na quarta-feira (6), eles foram até a delegacia de Santa Maria pedir apoio na divulgação de uma reunião que tentará mobilizar parentes das vítimas a formar uma associação com a mesma intenção do grupo criado para defender as vítimas do voo 3054 da TAM.

"Eu pensei nisso durante a missa do última sábado. Parece que fui inspirado, não sei de onde veio essa ideia, mas agora vou colocar isso em prática", diz Leo. O encontro deve ocorrer no próximo sábado (9).

"A reunião deve ser fechada, só para as famílias, mas já pedimos apoio da Brigada Militar e vamos ter uma ambulância à disposição, por precaução. A emoção vai ser grande, precisamos estar preparados. Ela queria criar uma associação porque adorava animais, eu tenho 17 gatos lá em casa que ela ia recolhendo, agora eu vou criar essa associação. Por ela e por todos os outros. A Jennefer era minha joia. Eu fui pai de um anjo", diz Adherbal.

O pai de Erika lembrou os últimos momentos com a filha. Segundo Leo, a menina sempre insistia em dizer que não viveria por muito tempo. Ele contou que, ao folhear o diário da filha, a família descobriu que ela deixou escrito: "viver até os 35, para que mais".

"Ela sempre dizia isso, durante as refeições, para que nos acostumássemos porque ela iria embora. Eu e a mãe dela pensávamos que fosse para estudar em outra cidade, quem sabe, mas nunca entendemos isso como uma aviso de uma partida definitiva. E agora ela se foi para sempre."

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