"Não sei como vou entrar na minha casa agora e olhar as fotos dele", diz Maiara Cristina de Godoy, mãe do bebê de 1 ano que morreu após passar mal em uma creche particular de Mogi Guaçu (SP), na tarde de segunda-feira (9). A mulher se emociona ao falar da saudade que sente do filho. Para a família, houve negligência da escola, que funcionava no Centro da cidade sem alvará desde maio de 2012, segundo a Prefeitura.
"Não tem como uma criança se afogar com leite, não tem histórico nenhum de afogamento. Nunca se engasgou, nunca vomitou, nada. Era uma criança saudável", lamenta o padrasto da criança, Alexandre Barbosa.
De acordo com a Polícia Civil, a suspeita é que o menino Miguel Otávio de Godoy tenha se engasgado, já que informações preliminares do Instituto Médico Legal (IML) apontam que a morte ocorreu por asfixia mecânica causada por alimento, conta a delegada responsável pelo caso, Raquel Casalli Gadiani, titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
Segundo a família do bebê, foi o primeiro dia que ele frequentou a creche. O corpo de Miguel foi enterrado às 17h no Cemitério Municipal de Andradas (MG), onde moram os parentes da criança, informou a Funerária Bom Pastor.
O G1 procurou os responsáveis da instituição de ensino para comentar as acusações da família, mas ninguém atendeu aos telefonemas até a publicação desta reportagem.
Investigações
A Polícia Civil apura se houve negligência por parte da creche no atendimento e na responsabilidade de cuidados com a criança. Segundo a delegada Raquel Gadiani, o caso é investigado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Cinco depoimentos estão previstos para esta quarta-feira (11), entre eles os dos pais da criança, da professora do bebê, de uma responsável pela escola e do médico que atendeu o menino no Hospital Municipal Doutor Tabajara Ramos.
Segundo a Prefeitura de Mogi Guaçu, a unidade médica vai se manifestar sobre o caso após divulgação do laudo do IML, previsto para daqui a 30 dias.
"Foram empreendidos todos os esforços para reanimar o bebê na UTI, onde ele chegou a ser entubado. Infelizmente, os esforços empregados acabaram não resultando em êxito", diz a assessoria.
Falha na comunicação
No relatório de ocorrência do Corpo de Bombeiras consta uma divergência de informações. A corporação foi acionada pelo número 193 às 16h20 e chegou à creche 4 minutos depois, mas Miguel já estava inconsciente. Segundo o sargento José Ferreira, a corporação não foi informada de que a criança estava engasgada, o que poderia ter reduzido o risco de morte do garoto.
"Quando fizeram a ligação, eles passaram a ocorrência como sangramento, e não como engasgamento. Nosso atendente poderia ter orientado o solicitante a fazer a manobra [para desengasgá-lo]. Isso seria vital", explicou.
A polícia informou que pretende fazer uma investigação na creche para verificar se a instituição tem condições para prestar cuidados às crianças. ?É um caso que provoca comoção e deixa os pais, que precisam trabalhar e manter as crianças nas escolas, consternados. Esse é um dos motivos pelos quais vamos dar uma atenção maior para esclarecer o que ocorreu", disse a delegada.
Alvará
A assessoria da Prefeitura afirmou na tarde de terça-feira que uma equipe da Vigilância Sanitária foi até a creche para fazer uma vistoria e interditá-la, mas o local estava fechado e nenhum responsável foi encontrado para receber a notificação.
Embora desconheça a data de início de funcionamento da escola, a Prefeitura alegou que a empresa foi notificada em junho de 2012 a apresentar os documentos que faltavam para obter o alvará de funcionamento. Entre os documentos, a administração municipal havia exigido um laudo de avaliação da Vigilância Sanitária, que deveria vir acompanhado da planta do prédio e das atividades feitas no local.