A primeira coisa a notar a respeito do papa Francisco é que os cardeais parecem ter decidido dar uma segunda chance a ele. Todos os relatos de cardeais que participaram do conclave de 2005, obtidos em "off" pelos principais vaticanistas (jornalistas especializados na Santa Sé), dão conta de que Jorge Bergoglio foi o único cardeal a, em 2005, ameaçar seriamente a hegemonia de Joseph Ratzinger, chegando a obter cerca de 40 votos.
Segundo um desses relatos, ele teria pedido, com lágrimas nos olhos, para que seus partidários deixassem de votar nele e elegessem Bento 16.
O nome "Francisco", embora ele não seja franciscano, mas jesuíta, parece mandar sinais importantes.
Bergoglio enfatiza a humildade em sua vida pessoal, cozinhando sua própria comida, indo de ônibus para o trabalho em Buenos Aires. E uma de suas atitudes mais famosas espelha uma ação lendária de são Francisco de Assis.
Assim como o santo italiano da Idade Média cuidava dos leprosos e não tinha medo de beijá-los, Bergoglio ficou conhecido, em 2001, por lavar e beijar os pés de 12 pacientes com Aids que visitou no hospital.
Por outro lado, a reputação do prelado chegou a ser chamuscada pela acusação, feita por um ativista de direitos humanos, de que ela teria sido cúmplice do sequestro de dois jesuítas argentinos, membros de movimentos de esquerda, durante o regime militar em seu país, em 1976.
Apesar disso, ele costuma ser elogiado por sua postura em favor da justiça social. "Vivemos na região mais desigual do mundo, a que mais cresceu e a que menos reduziu a miséria. A distribuição injusta de bens persiste, criando uma situação de pecado social que grita aos céus e limita as possibilidades de vida mais plena para muitos de nossos irmãos", declarou em 2007.
Ele tem fortes elos com o movimento de leigos Comunhão e Libertação, considerado conservador, com uma espiritualidade centrada na ideia da presença real de Jesus entre os fiéis.