Atualmente, há mais brasileiros vivendo no exterior do que nunca antes. Com uma comunidade estimada em 4,5 milhões de pessoas, essa população ultrapassa o número de habitantes do estado da Paraíba. Entre 2012 e 2022, mais de 2,6 milhões de brasileiros deixaram o país, com um aumento significativo nas emigrações em anos marcados por crises, como 2013 e 2020.
Especialistas entrevistados pelo GLOBO apontam que o desejo de uma vida melhor em outros países é especialmente comum entre jovens e profissionais altamente qualificados. Esse fenômeno representa um desafio para o Brasil, que enfrenta um envelhecimento populacional contínuo e uma escassez de mão de obra especializada em setores essenciais para o desenvolvimento econômico, como pesquisa e inovação.
🌎 PESSIMISMO SOBRE O FUTURO: Para o sociólogo Rogério Baptistini, da Universidade Mackenzie, a percepção pessimista sobre o futuro foi um catalizador do fenômeno.
— Em 2013, o consumo das famílias registrou aumento pelo décimo ano consecutivo, mas foi o menor desde 2003. As pessoas que haviam ascendido socialmente e formado uma nova classe média passaram a ter dificuldades para manter a posição conquistada —analisa. — Fatores externos e internos contribuíram para a desaceleração do crescimento da economia, mas foram os domésticos que redundaram na crise que abalou todo o sistema da representação. Essa emigração é devido à morte da esperança: as pessoas já não esperam do futuro e não confiam nos políticos.
FALTA DE PERSPECTIVA: De acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada em 2022 em 12 capitais brasileiras, foi revelado que 76% dos jovens têm vontade considerável ou alguma vontade de deixar o país permanentemente. Além disso, quanto mais jovem o grupo, maior é o desejo de sair: entre os indivíduos de 15 a 19 anos, que representam a menor parte da força de trabalho, esse índice chega a 85%. No contexto dos Estados Unidos, André Linhares, advogado especializado em imigração para esse país, destaca um dos fatores que impulsionou esse êxodo, iniciado em 2016, quando uma mudança legal facilitou a obtenção de visto permanente.
💵 FUGA DE CONSUMIDORES: Do ponto de vista econômico, à primeira vista, o êxodo de brasileiros pode não parecer uma má ideia, dada a quantidade significativa de dinheiro que flui para o país através da diáspora. Muitos desses emigrantes enviam remessas financeiras para parentes e amigos no Brasil, o que contribui para a economia nacional. Em 2022, o país registrou um recorde de R$ 4,7 bilhões em remessas pessoais do exterior, conforme relatado pelo Banco Central (BC). Esse montante equivale a 0,47% do Produto Interno Bruto (PIB) do mesmo ano, uma participação que supera a de alguns estados, como o Amapá.
MIGRAÇÃO EM REDE: Renata Geraissati, historiadora especializada em imigração, analisa que a atratividade de certos destinos em momentos específicos da história, como o atual caso dos Estados Unidos, não é apenas resultado do bom desempenho econômico do país naquele período. Ela destaca também a importância das conexões formadas no local, que se retroalimentam, em um fenômeno conhecido como "migração em rede".