O cientista americano James Watson, ganhador do prêmio Nobel de 1962, perdeu seus títulos honorários depois de fazer comentários racistas sobre raça e inteligência.
Em um documentário de televisão que foi ao ar em 2 de janeiro, o pesquisador, pioneiro na pesquisa do DNA, repetiu opiniões segundo a qual a genética tem um papel nas notas que brancos e negros têm em testes de inteligência e de coeficiente intelectual.
O laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York, onde ele trabalhava, frisou que os comentários do cientista de 90 anos de idade são "infundados e imprudentes".
Watson já tinha emitido opiniões similares em 2007, quando afirmou que os africanos eram menos inteligentes que os europeus, mas se desculpou depois. O pesquisador ganhou o Nobel de medicina de 1962 com os cientistas Maurice Wilkins e Francis Crick pela descoberta da estrutura de dupla hélice de DNA. O feito é considerado um dos momentos-chave da ciência moderna.
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As declarações racistas
Em 2007, o cientista, que trabalhou no laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge, disse ao jornal britânico Times que era "pessimista a respeito do futuro da África", porque "todas as nossas políticas sociais são baseadas na suposição de que a sua inteligência (dos africanos) é a mesma dos brancos, quando todas as provas indicam que não é assim".
Watson disse ainda que, por mais que ele quisesse que todos fossem iguais, "as pessoas que tiveram que lidar com trabalhadores negros sabem que isto não é verdade".
O acadêmico nascido em Chicago, nos EUA, também disse que as pessoas não deveriam ser discriminadas por sua raça, pois "há muita gente de cor que é muito talentosa".
Depois, ele pediu desculpa pelos comentários. "A todos os que deduziram do que eu disse, que a África, como continente, é geneticamente inferior, a todos estes eu peço desculpas. Não foi o que eu quis dizer. Não há base científica para afirmar isso", disse.
As consequências
Depois de seus comentários de 2007, o laboratório de Cold Spring Harbor suspendeu o pesquisador de seus quadros. O cientista perdeu seu posto de reitor do laboratório, e foi destituído de suas funções administrativas.
Mas, por ter pedido desculpas à época, ele reteve seus títulos honorários de reitor emérito, de professor emérito e de membro honorário.
Porém, depois das declarações dadas ao documentário televisivo "American Masters: Decoding Watson" ("Mestres americanos: decodificando Watson", em tradução livre), que foi ao ar este ano, o laboratório de Nova York retirou todos os títulos de Watson.
À emissora pública americana PBS, autora do documentário, Watson disse que suas visões sobre raça e inteligência não tinham mudado. "As declarações de Watson são reprováveis e carecem de respaldo científico", disse o laboratório em nota.
As novas declarações, disse o laboratório, revertiam as desculpas que o cientista já tinha pedido. Segundo a mídia dos EUA, Watson se encontra hoje numa enfermaria, recuperando-se de um acidente automobilístico, e tem consciência "mínima" do seu entorno.
A venda da medalha
Watson vendeu sua medalha de ouro do Nobel em 2014. Foi a primeira vez na história que um ganhador do prêmio se desfez do objeto. Segundo disse ele em um comunicado à época, a intenção era dedicar parte do valor da venda a projetos de pesquisa nas universidades e instituições científicas nas quais estudou e trabalhou ao longo de sua carreira.
"Minha intenção é fazer doações filantrópicas ao laboratório Cold Spring Harbor, à Universidade de Chicago e ao Clare College de Cambridge, e assim seguir contribuindo para que o mundo acadêmico siga sendo um lugar onde predomine a decência e as grandes ideias", disse.
Naquele mesmo ano, o biológo molecular disse que tinha sido excluído da comunidade científica por causa de seus comentários sobre raça e inteligência em 2007.