O dia em que o mundo parou: 11 de Setembro completa 15 anos

O dia 11 de setembro de 2001 jamais será esquecido

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O dia 11 de setembro de 2001 jamais será esquecido, afinal, a data marcou uma série de quatro ataques terroristas coordenados por parte da organização terrorista islâmica Al-Qaeda. Os ataques consistiam em ataques suicidas direcionados aos Estados Unidos da América. Quinze anos após os ataques, especialistas realizam uma análise do impacto do atentado para a história mundial, assim como a referência dele para ataques subsequentes.

O mestrando em direito e gestão de conflitos, Alessander Mendes, ressalta que ao longo do processo histórico, a humanidade tem construído marcos, e entre estes, não pode-se deixar de lembrar da relevância do atentado em 11 de setembro de 2001. Porém, não deve-se fazer uma leitura vertical do conflito, mas uma análise pretérita dos acontecimentos até o dia do atentado.

Após a segunda guerra mundial o mundo viu-se dividido em duas grandes nações. No mundo oriental, a União Soviética e o projeto socialista, enquanto que no ocidente, os EUA legitimavam as práticas do capitalismo. Essa disputa provocou alterações geopolíticas de poder no mundo. A bipolarização mundial construiu nações invencíveis e belicamente poderosas.

“O mito da invencibilidade e inatingibilidade território tornou os Estados Unidos da América uma nação que não poderia ser atingida. Com o fim da guerra fria e consequentemente a soberania deste, os vencedores esqueceram que, destruíram um inimigo real, vivo e estatal, porém nasceu o inimigo oculto, não territorial e sem nação definida denominados pela mídia, terroristas”, declarou.

Para ele, lutar contra o invisível talvez não seja a melhor guerra. Em muitas situações o inimigo está dentro da própria casa, como vem ocorrendo com vários atentados após aquele mês de setembro. O fim da guerra fria traz uma vitória sem medalha, destrói um inimigo real por outro sem rosto. O professor esclarece que os atentados do 11 de setembro tornaram-se marco para o mundo por dois aspectos: primeiro, o invencível não é tão invencível, aquele que se dizia inatingível caiu, e o fez no coração do seu sistema financeiro. Um novo inimigo que não mais os socialistas levantavam-se contra os americanos.

“Imputar esta guerra a uma religião ou uma nação, talvez seja o maior erro de alguns especialistas. A luta não é religião versus americanos ou árabes versus o capitalismo. A luta é daqueles que muitas vezes foram financiados pelos americanos durante a guerra fria contra os soviéticos e com o fim desta, que existiu muito mais no imaginário midiático, foram esquecidos ou deixados de lado pelos vencedores da guerra”, analisa.

Os atentados de setembro de 2001 construíram uma leitura mundial de que o super-homem americano poderia ser atacado e ferido, o mito da invencibilidade foi relativizado, e o inimigo agora real nasceu, sem rosto, cor ou identidade, mas com o um poder de fogo que atinge inimigos e vítimas que infelizmente encontram-se no meio.

Mudanças e futuro

Fundamentalmente, para o historiador Fonseca Neto, o atentado não mudou nada os ataques subsequentes, pois o mundo era, já, uma grande aldeia bastante insegura, e assim continua. Quanto aos Estados Unidos, em particular, ele considera que o país ganhou um motivo concreto para se armar ainda mais e reforçar sua condição imperial sobre diversas partes do globo e até fora dele. E o chamado Ocidente arrogou-se um pretexto a mais para afirmar-se contra tudo o que significa ser árabe/islão.

Historicamente, a construção da Europa, e da própria ideação de mundo ocidental, fizeram-se em oposição aos valores da antiguidade e mesmo da ancestralidade do grande Oriente, pujantes centros civilizatórios, a exemplo da Mesopotâmia (Tigre-Eufrates/Pérsia-Irá-Iraque), China-Índia-Mongólia-Egito, além de Judá-Palestina-Fenícia-Turquia, entre mais. A “invenção do Ocidente”, literalmente consagrada enquanto operação ideológica, plasmada na expansão mercantil europeia desde o século XV, oceanos afora, enquadra as “tribos” humanas e, de vários modos, as subjuga, numa primeira onda de globalização que se conhece.

“O que ocorrerá em 2001, transpondo camadas de temporalidades contadas em séculos e milênios, é mais uma reação de parte significativa dessa gente que um sociólogo britânico, Jack Goody, em livro recente (O roubo da história), diz que teve 'roubada' sua história pelos europeus, enquanto impunham sua dominação basicamente comercial e cristã, etno e eurocêntrica”, enfatizou.

Para os EUA, foi um achado a ação da Al-Qaeda, oportunidade inigualável de arrancar da população, consensos reiterados para agir, ainda com maior ferocidade, como polícia do mundo, o que, no limite, significa mover elementos de subjugação ainda mais sanguinários sobre as nações da Terra – sua indústria de armas, por exemplo, nunca mais deixou de literalmente “bombar”.

Fonseca Neto questiona ainda condição dos seres humanos mortos no ataque de 11 de setembro, e tantos outros milhares nas guerras que se sucederam no rastro desse episódio? “Na lógica da dominação imperial vigente, sob o reino do Capital, isso é motivo de sua vitalização e não o contrário. Diante disso, seres humanos valem muito pouco”, avalia.

Quinze anos depois, o estudioso acredita que qualquer discussão sobre o acontecimento de 11 de setembro de 2001, precisa partir dessa base interpretativa histórica, necessária para que se busquem outros e possíveis enquadramentos no cotidiano do mundo moderno, encantador e repleto de tiranias. “Nada a celebrar existe sobre isso. No entanto, convido todos a pensar porque o Império do Norte já está ganhando bastante dinheiro com os “negócios” decorrentes da exploração comercial da memória desse acontecimento”, pontua.

O atentado

Quatro aviões de passageiros que partiram de aeroportos da Costa Leste dos EUA com destino a Califórnia foram sequestrados por 19 terroristas da Al-Qaeda. Dois dos aviões, o voo 11 da American Airlines e o voo 175 da United Airlines, colidiram com as torres norte e sul do World Trade Center, um complexo de escritórios em New York City.

Dentro de uma hora e 42 minutos, todos os 110 andares das torres caíram devido aos detritos causados pelo impacto dos aviões e os incêndios resultantes causando o colapso parcial ou completo de todos os outros edifícios do complexo World Trade Center, incluindo o prédio de 47 andares World Trade Center Tower, bem como significativos danos em dez outras grandes estruturas adjacentes.

Um terceiro avião, o voo 77 da American Airlines, colidiu com o Pentágono (sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos) em Arlington County, Virginia, levando a um colapso parcial no lado ocidental do Pentágono. O quarto avião, o voo 93 da United Airlines, ia em direção a Washington, DC, mas caiu em um campo perto de Shanksville, Pensilvânia, após os passageiros tentarem se rebelar contra os sequestradores.

No total, os ataques custaram a vida de 2.996 pessoas (incluindo os 19 sequestradores) e causou um prejuízo de pelo menos US$ 10 bilhões em bens e infraestrutura de danos. Foi o incidente mais mortal para os bombeiros e policiais em a história dos Estados Unidos, com 343 bombeiros e 72 policiais mortos.

A suspeita do ataque caiu rapidamente sobre a Al-Qaeda. Os Estados Unidos responderam aos ataques com o lançamento da chamada “guerra contra o terror” e fez com que o país invadisse o Afeganistão para depor o Talibã, que tinha abrigado Al-Qaeda. Muitos países reforçaram a sua legislação antiterrorismo e ampliaram os poderes de aplicação da lei e de agências de inteligência para prevenir ataques terroristas.

Embora o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, tenha negado inicialmente qualquer envolvimento, em 2004, ele reivindicou a responsabilidade pelos ataques. A Al-Qaeda e Bin Laden citaram como motivos dos ataques o apoio dos EUA a Israel, a presença de tropas americanas na Arábia Saudita e sanções contra o Iraque. Bin Laden foi localizado e morto por membros das forças armadas dos EUA em maio de 20111.

A destruição da infraestrutura nas proximidades World Trade Center e causou graves danos à economia de Lower Manhattan e teve um impacto significativo nos mercados globais, fechando Wall Street até 17 de Setembro e o espaço aéreo civil dos EUA e Canadá até 13 de setembro. Muitos fechamentos, evacuações e cancelamentos foram feitos em respeito ou medo de novos ataques.

A limpeza do local do World Trade Center foi concluída em Maio de 2002, e o Pentágono foi reparado dentro de um ano. Em 18 de novembro de 2006, a construção do One World Trade Center começou no local do World Trade Center. O edifício foi inaugurado oficialmente em 03 de novembro de 2014. Numerosos monumentos foram construídos, incluindo o ‘Museu e Memorial Nacional do 11 de Setembro’ em Nova York, o Memorial do Pentágono em Arlington County, e Memorial Nacional do voo 93 em um campo perto de Shanksville.

Ameaça terrorista nos EUA passa a ser doméstica

Após 15 anos dos ataques do 11 de setembro, especialistas americanos em combate ao terrorismo dizem que os EUA estão fortalecidos contra atentados bem planejados, como o realizado em 2001, mas se encontram mais vulneráveis do que nunca a ataques pequenos e caseiros. As operações antiterroristas têm agora a missão de descobrir e interromper planos dos partidários do grupo Estado Islâmico (EI) e da Al-Qaeda, que se escondem em células menos centralizadas e com a ajuda das novas tecnologias, assinalaram os especialistas.

"Nosso trabalho está ficando mais difícil", disse Nick Rasmussen, diretor do Centro Nacional contra o Terrorismo, em análise realizada esta semana em Washington. A expansão dos meios de contato entre eles, muitas vezes populares aplicativos para celulares, e a possibilidade de comunicação codificada "lhes dá uma vantagem" sobre as agências de inteligência.

Os ataques do 11 de setembro deram sinal verde para os EUA na guerra contra o terrorismo, com enfoque para a Al-Qaeda e o Talibã, mas 15 anos depois o objetivo é focar em grupos como o jihadista Estado Islâmico, que conquistou territórios na Síria e no Iraque, e inspirou ataques na Europa e no território americano. Estes atentados são de menores proporções, mas igualmente mortais e desmoralizantes.

A Al-Qaeda perdeu seu líder, Osama Bin Laden, mas opera agora com ramificações e aliados das Filipinas à África ocidental, o que sugere uma ameaça mais complexa. "A realidade é que houve uma metástase" da região do Iraque e da Síria, disse Frank Cilluffo, diretor do Centro de Segurança Cibernética e Nacional da Universidade George Washington. "A ameaça persiste e em alguns casos é mais complexa.”

Outro grande desafio é a debilidade da inteligência europeia para identificar as ameaças, o que se explica pela fraca cooperação entre as agências de diferentes países. Rasmussen diz que há uma década confiava mais na habilidade dos EUA e de outros países para atuar juntos no combate ao terrorismo. Agora, ele sente que os países estão “descendo ladeira abaixo" e a cooperação apenas se mantém forte nas relações bilaterais.

O centro da luta é contra a ideologia, dizem os oficiais, e os EUA têm tido pouco progresso em combater a propaganda desenhada pelos simpatizantes do EI e da Al-Qaeda. O verdadeiro progresso exige estratégias de longo prazo que envolvam as redes sociais, disse Michael Leiter, de uma empresa especializada em defesa, lamentando que há pouco investimento sendo feito na área.

10 curiosidades sobre os ataques de 11 de setembro

1. O número de crianças que perderam um dos pais nos eventos de 11 de setembro foi 3.051. Dezessete bebês nasceram de mulheres cujos maridos morreram durante os ataques. Nove meses após o 11 de setembro, o número de nascimentos em Nova York subiu 20 por cento em comparação com o mesmo mês em 2000.

2. O valor total das obras de artes perdidas quando as Torres Gêmeas desabaram ultrapassou US$ 100 milhões. Entre os itens destruídos estava uma escultura de Alexander Calder intitulada ‘WTC Stabile’, uma tapeçaria de Joan Miró, uma pintura de Roy Lichtenstein, quadros de Picasso e David Hockney.

3. Um dos heróis desconhecidos do 11 de setembro era um cão-guia chamado Roselle, um Labrador amarelo que tirou seu dono cego, Michael Hingson, do 78° andar da Torre Norte e o levou para a casa de um amigo.

4. Três horas antes dos ataques, uma máquina chamada ‘gerador de eventos aleatórios’ na Universidade de Princeton previu que um evento cataclísmico estava prestes a acontecer.

5. A seção do Pentágono atingido pelo vôo 77 tinha acabado de passar por uma reforma orçada em US$ 258.000.000. As paredes e janelas tinham sido reforçadas nessa área da instalação.

6. Centenas de memoriais, homenagens, mastros, crucifixos e obras de arte foram feitas com os restos das torres gêmeas. Entre as homenagens existe uma cruz feita de aço da Torre Norte em Shanksville, Filadélfia, onde caiu o voo 93 da United.

7. O promotor imobiliário Larry Silverstein arrendou o terreno do World Trade Center por 99 anos por US$ 3,2 bilhões. Isso tudo aconteceu apenas seis meses antes da destruição.

8. No início de 2011, a contagem oficial de mortos era de 2.753. O número aumentou 2.996.

9. Cinco dos sequestradores estavam hospedados em um hotel próximo da maior organização de espionagem americana, a Agência Nacional de Segurança, dias antes dos ataques.

10. As caixas-pretas armazenadas na cauda do vôo 77 foram descobertas no Pentágono em 12 de setembro de 2001. O Secretário de Estado, Donald Rumsfeld, disse mais tarde que os dados do gravador de voz era irrecuperável. Foi a primeira vez em 40 anos que uma fita de voz do cockpi não produziu dados.

Fonte: AFP e History

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