Uma das avenidas mais movimentadas de Teresina deverá receber estações de passageiros no canteiro central. Construída no fim do século XIX, a Avenida Frei Serafim faz parte da identidade do teresinense, um patrimônio da capital. O projeto é polêmico porque modifica a estrutura arquitetônica da centenária e histórica avenida da cidade.
Na quinta-feira (11), a Câmara Municipal de Teresina realizou uma audiência pública para discutir o projeto que envolve o canteiro central da avenida. A audiência reuniu arquitetos, representantes do Ministério Público, representantes da Strans, da OAB, e agentes vinculados ao projeto, para debater a respeito das mudanças ambientais que podem ocorrer com a instauração das paradas. O boulevard da Frei Serafim, que é um tipo de via urbana, geralmente larga, com pistas divididas nos dois sentidos, geralmente projetada com preocupação paisagísticas desse projeto, sofre modificações.
Segundo o projeto, as estações serão completamente diferentes daquelas construídas em outras avenidas da capital. A estrutura será em vidro, permitindo a visibilidade de qualquer ponto, ideia que agrada alguns profissionais que defendem a preservação do patrimônio. Serão montadas sete estações: três delas no sentido Leste-Centro (Antes do semáforo da Rua Goiás, próximo ao Parque da Cidadania e entre as Ruas Magalhães Filho e Anísio de Abreu) e quatro no sentido Centro-Leste (próximo da Rua Coelho de Rezende, perto ao HGV, próximo da Av. Miguel Rosa, e a última na Rua Goiás).
O vereador Dudu (PT) não concorda com as mudanças. “A Frei Serafim não é apenas uma avenida qualquer. A avenida é o principal cartão-postal de Teresina, é a principal artéria que irriga o desenvolvimento do Piauí. Nota-se que é pela a Frei Serafim que nós temos todo o sistema financeiro e econômico. É uma via de extrema importância para a cidade, e mais do que isso, ela é uma avenida que carrega o sentimento de todos nós. Nós temos, por ela, um sentimento muito forte. “Uma intervenção pela Prefeitura na Avenida Frei Serafim, não pode ser feita sem o povo discutir”.
A secretária executiva de Planejamento Urbano da Secretaria de Planejamento, Jhamille Almeida, conta que o projeto já vem sendo discutido desde 2016 e que aguarda a manifestação do Ministério Público, no projeto que já foi até mesmo apresentado. A secretária afirma que as árvores vão continuar no mesmo lugar para que o usuário tenha conforto térmico. O reconhecimento do patrimônio, segundo Jhamille, é exercido. “Um projeto que entende e reconhece como o maior patrimônio que temos dentro da nossa cidade. A Secretaria de Planejamento ficou responsável por elaborar o projeto diferente do que foi feito nos demais corredores, com posições de acessibilidade”. A fase atual do projeto consiste na elaboração e licitação, pois, para Jhamille, nada será feito até que exista o consenso entre todos.
Claudiana Cruz dos Anjos, arquiteta e urbanista convidada para compor a mesa, fala que a importância da região supera a mobilidade. “A área faz parte da composição urbana, que é identitária e significativa para a cidade. Então, você substituir isso em nome de uma mobilidade que é altamente variável, volúvel, que se transforma e muda de intensidade e de fluxo em razão do próprio desenvolvimento e crescimento da cidade, você não está dando de fato a solução, você está fazendo um paliativo, na minha avaliação. Pode ser um custo muito alto para soluções que não são definitivas”.
A promotora de Justiça, Gianny Vieira de Carvalho, chama a atenção para a importância do aspecto arquitetônico e histórico da avenida, para a necessidade de preservação da memória cultural do Piauí, e principalmente do povo piauiense. “Há várias questões a serem colocadas, porque o projeto ainda não existe. E se existe, ele precisa ser apresentado para ser debatido, então junto ao Poder Judiciário, o Ministério Público obteve uma medida liminar que está em pleno vigor. E a medida serve e atende aos interesses da comunidade no sentido de que, antes de se pensar em fazer alteração na Avenida Frei Serafim, é preciso que se verifique a necessidade real das alterações da avenida”, afirma.