Depois de anunciar que o governo brasileiro não havia notificado a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o caso suspeito de Ebola, a entidade agora reconhece que errou e que, de fato, o Brasil já havia passado a informação para a organização internacional. O caso revela o desencontro de dados sobre a crise em uma entidade que não estava preparada para enfrentar a ameaça que representa o vírus.
Pela manhã, em Genebra, a OMS indicou que estava sabendo do caso suspeito no Brasil apenas por meio de "artigos de imprensa". "Por enquanto, não houve qualquer tipo de informação oficial para a OMS vinda das autoridades brasileiras sobre o caso suspeito de Ebola", declarou Fadela Chaib, porta-voz da entidade.
Em mais de uma ocasião, ela deixou claro que o Brasil não estava em suas prioridades e alertou que "rumores existem em todos os países". "Na OMS, lidamos com cerca de 50 desses rumores por dia", disse.
Chaib ainda fez ligações para sua sede e confirmou, com funcionários que monitoram a situação pelo mundo, que o governo não passou a informação nem para a OMS e nem para a Organização Pan-Americana de Saúde. "Não temos nada registrado e nem na Opas", completou.
A publicação da informação pelo portal do Estado fez o governo brasileiro reagir. "O Ministério da Saúde notificou a Organização Mundial de Saúde (OMS), às 01h11 desta sexta-feira, 10, conforme rege o Regulamento Sanitário Internacional", indicou um e-mail enviado à reportagem por Brasília.
Quatro horas depois da queixa do governo, a OMS decidiu "corrigir" sua declaração feita pela manhã. "O Ministério da Saúde informou à OPAS depois da meia noite do dia 10 de outubro um caso suspeito de Ebola em um homem de 47 anos que chegava da Guiné, com uma parada no Marrocos", declarou a mesma porta-voz que pela manhã insistia que eram "apenas rumores".
Questionada sobre a mudança de versões, ela não respondeu e apenas admitiu que foi preciso fazer "a correção" em relação à sua versão original.
Nos últimos dias, a OMS tem vivido uma série de polêmicas em relação à crise do Ebola. Há dois dias, ela errou ao publicar o número de mortos, não somou de forma correta o volume de casos de pessoas infectadas em cada país e chegou a reconhecer que não há mais como confiar nos números de vítimas na Libéria.
Pelos regulamentos internacionais da OMS, "cada país deve notificar, pelos meios mais eficientes de comunicação, pelo ponto focal nacional, e dentro de 24 horas, todos os eventos que possam constituir uma emergência de saúde pública de preocupação internacional dentro de seu território, assim como medidas de saúde implementadas em resposta a esses eventos".