A série de ataques criminosos contra ônibus, bancos, prefeituras, comércios e prédios públicos que atinge Ceará completou uma semana. Desde quarta-feira (2), foram contabilizados 164 ataques em 41 dos 184 municípios cearenses. Para tentar conter a onda de violência em Fortaleza e no interior, o estado recebeu o reforço de tropas da Força Nacional e de policiais da Bahia.
Resumo
Membros de facções criminosas atacaram veículos da frota de ônibus, bancos, postos de saúde, prédios públicos e privados e veículos utilizados em serviços como Correios e coleta de lixo.
Em pichações, os criminosos pedem a saída do secretário da Segurança Penitenciária, Mauro Albuquerque, que prometeu acabar com a entrada de celulares nos presídios e com a divisão nas unidades conforme a facção a que cada preso pertence.
- Foram 164 ataques em 41 cidades desde quarta-feira (2). Criminosos incendiaram pelo menos 31 ônibus, quatro delegacias e cinco postos de combustível. Também foram usados explosivos em um viaduto e duas pontes na Grande Fortaleza. Na BR-020, um viaduto recebe escoras e está bloqueado para o tráfego de veículos. Os policiais prenderam 185 suspeitos.
- Criminosos que estão presos afirmam não aceitar a proposta do secretário de acabar com a divisão das facções no sistema penitenciário. Atualmente, cada presídio do Ceará recebe detentos de uma única organização criminosa. Os presos ordenaram que comparsas fizessem uma série de ataques para que o Governo do Estado recuasse das medidas.
- O governo respondeu que não iria "recuar um milímetro" das medidas contra organizações criminosas. Para combater a onda de ataques, o governador do Ceará, Camilo Santana, pediu apoio ao Governo Federal e ao governador da Bahia, Rui Costa, que enviou 100 policiais militares baianos ao Ceará.
- Trezentos agentes da Força Nacional foram enviados ao Ceará na sexta-feira (4), e começaram a atuar no dia seguinte. Os ataques permaneceram, e o Ministério da Justiça anunciou o envio de mais 200 agentes. A Força Nacional atua principalmente em Fortaleza e Região Metropolitana, que concentram cerca de 80% dos ataques. Eles formam blitz em "vias estratégicas", já que a maior parte dos ataques são cometidos por criminosos em veículos.
- No sexto dia de ataques, após ameaça das facções, comerciantes fecharam as portas em algumas regiões da periferia de Fortaleza e Região Metropolitana. Três foram presos pelas ameaças. O transporte público também funciona com frota reduzida e com policiais militares embarcados. Nos bairros onde os ataques são mais comuns também foram suspensos os serviços de coleta de lixo e de entrega de postagens.
Início dos ataques
A sequência de ações criminosas teve início após uma fala de Mauro Albuquerque, que afirmou que iria acabar a entrada de celulares nos presídios e encerrar a divisão de presos nas detenções conforme a facção criminosa a que pertencem.
- Ataques no Ceará: o que se sabe e o que falta saber
- Veja a cronologia dos ataques
Entre a noite de quarta e a madrugada de quinta-feira (5), criminosos incendiaram dois ônibus em Fortaleza e ampliaram as ações também na Região Metropolitana da capital.
Uma bomba foi explodida em um viaduto na cidade de Caucaia. O local precisou ser isolado e passou por reparos para evitar um desmoronamento.
Veículos incendiados
Os criminosos queimaram pelo menos 31 ônibus e vans do transporte público, de prefeituras e escolares no estado. Devido aos ataques, a frota precisou ser reduzida na Grande Fortaleza. Ônibus passaram a circular em comboio e com policiais embarcados para evitar novos ataques.
Além dos ônibus, bandidos também incendiaram veículos de empresas particulares e que prestam serviços públicos, como ambulâncias, caminhões de lixo e carros da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Enel Distribuidora de Energia.
Prédios públicos atacados
Agências bancárias, fóruns, prefeituras e sedes de secretarias municiparam também foram alvos de atentados. Durante o fim de semana, suspeitos atiraram contra um posto de observação da Guarda Municipal de Fortaleza e incendiaram um carro na frente da delegacia da Pajuçara, em Maracanaú. Outras três delegacias foram atacadas no estado
Na segunda-feira (7), sexto dia seguido de ataques, criminosos o prédio da Câmara dos Vereadores da cidade de Icó. Uma estação ambiental foi queimada na Praia de Requenguela, em Icapuí, litoral cearense.
Força Nacional
Após autorização do ministro da Justiça, Sérgio Moro, tropas da Força Nacional chegaram ao estado na noite de sexta-feira (4) e começaram a atuar no sábado. Após o início da operação com o reforço policial, a capital cearense registrou uma redução no número de crimes. No entanto, mesmo com a atuação dos agentes, ocorreram dezenas de ataques criminosos no estado.
Os policiais foram descolados para diferentes pontos de Fortaleza e Região Metropolitana, locais responsáveis por cerca de 80% dos ataques no estado. Os agentes intensificaram as blitze e também reforçaram a segurança nos terminais de ônibus da capital para assegurar a operação do transporte público.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que já capturou 185 pessoas por envolvimento nos atos criminosos. Desse número, foram 156 adultos presos e 29 adolescentes apreendidos. Pelo menos 80 envolvidos foram capturados após a chegada da Força Nacional no estado.
Dentre os presos, está um motorista suspeito de vender combustível ilegalmente para criminosos. Em outra ação policial, foi preso um homem suspeito de provocar um incêndio que causou a destruição de nove ônibus escolares e um caminhão na cidade de Morada Nova.
Ações nos presídios
Até agora, 191 detentos foram autuados pelos crimes de desobediência, resistência e motim dentro das unidades prisionais do estado. Os indiciamentos ocorreram nas cadas de detenções do complexo prisional de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza.
Após os ataques, o governo do Ceará informou que transferiu um dos chefes de facção para um presídio federal e 19 membros serão levados a outras unidades prisionais. O governo federal ofereceu 60 vagas nos presídios que administra para receber criminosos que atuam no estado.